domingo, 24 de janeiro de 2021

Após carreata da esquerda, direita protesta contra Bolsonaro

Do UOL, em São Paulo 24/01/2021 12h51


Embora estivessem em lados opostos durante o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), esquerda e direita agora pedem a saída do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Os grupos defendem o mesmo, mas seguem separados, pelo menos na hora de protestar. Depois da carreata de ontem da Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo —que apoiaram a petista em 2016—, hoje é a vez do MBL (Movimento Brasil Livre) e o Vem Pra Rua organizarem suas manifestações.

O formato de protesto em carreatas foi escolhido para reduzir o risco de contágio da covid-19 entre as pessoas. Segundo o MBL, o grupo preferiu protestar no domingo porque o movimento é forte em São Paulo, com muito comerciantes que trabalham sábado e preferem protestar aos domingos.

"Estelionato eleitoral, entregou o governo pro centrão, fez aliança com Toffoli, Aras, Kassio, abandonou pautas econômicas, abandonou o combate à corrupção e sabota o combate à pandemia", escreveu o MBL em uma rede social ao publicar um vídeo do protesto na avenida Paulista.

Em São Paulo a concentração foi em frente ao estádio do Pacaembu, na zona Oeste. Mas o protesto também ocorre em outras cidades.

No Rio, o ato começou por volta das 10h30, na Avenida as Américas e, às 10h, em frente ao Monumento Zumbi dos Palmares, no Centro: os carros foram até a Praça da Bandeira antes de fazerem o caminho de volta. 

Em Belo Horizonte, o ato foi marcado na Praça do Papa às 15h. Mais cedo, Poços de Caldas também protestou. 

Em Cuiabá, a manifestação começou às 9h próximo à UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso). No mesmo horários, os carros saíram da avenida da Doca de Souza Franco, em Belém (PA).

No interior paulista, o ato foi convocado em São José dos Campos, no Parque Vicentina Aranha, a partir das 10h30.

2.500 carros na rua 

Ontem as manifestações foram maiores, organizadas em 21 capitais. A concentração da carreata em São Paulo começou às 14h na Alesp (Assembleia Legislativa de SP). Às 15h20, o ato saiu rumo à avenida Paulista e depois desceu a rua da Consolação até o centro, dispersando na praça Roosevelt, às 17h50. 

Em entrevista ao UOL, o coordenador geral da CMP, Raimundo Bonfim, disse que o ato em São Paulo tinha quatro pautas: Fora Bolsonaro, Vacina Já, a volta do auxílio emergencial e a proteção do emprego em razão das restrições durante a pandemia. 

Segundo os organizadores, 2.500 carros participaram do ato. Na véspera do ato, Bonfim disse ao UOL que estimava a participação de cerca de 300 veículos. A adesão acabou surpreendendo os organizadores do protesto. Várias cidades do estado também tiveram atos. 

Além de Campinas, houve manifestações em Santos, São José dos Campos, São Bernardo do Campo, Jacareí, Bragança e outras cidades. Em Belo Horizonte, o protesto saiu do Mineirão e passou pelo centro da cidade. 

Popularidade abalada

Influenciada pela situação da pandemia da covid-19 no País, marcada pela crise no fornecimento de oxigênio na rede de saúde de Manaus (AM), a popularidade do presidente caiu. 

Pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira (22) indicou aumento do número de insatisfeitos com Bolsonaro: 40% da população avalia sua atuação como ruim ou péssima, comparado aos 32% que assim o consideravam na edição anterior da sondagem, no começo de dezembro.

sábado, 23 de janeiro de 2021

Em carreatas em todo o País, brasileiros pedem vacina e Fora Bolsonaro

Mobilizações são grandes em várias capitais e levam carros às ruas, com buzinaço, também em cidades do interior. Manifestantes gritam “Fora Bolsonaro” e intensificam debate para o impeachment em meio à gravidade da pandemia

Brasil 247, 23/01/2021, 16:38 h Atualizado em 23/01/2021, 16:48
   Carreata por Fora Bolsonaro em Brasília (23/01/2021) (Foto: Reprodução)

Cidades de todo o Brasil foram palco neste sábado (23) de carreatas em defesa do impeachment de Jair Bolsonaro em meio ao agravamento da pandemia do coronavírus, com aumento do número de mortes. As manifestações, que começaram cedo, também pediram vacina para todas e todos e defenderam a continuidade do auxílio emergencial.

Em algumas capitais, como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, as mobilizações foram enormes, levando centenas de carros às ruas, com buzinaço e muitos gritos e bandeiras. Mas os protestos aconteceram também em centenas de cidades do interior de todos os estados. Confira abaixo imagens postadas nas redes sociais:

                                       
                             Carreata em Curitiba/PR, começou por volta das 16h, teve concentração 
                             na Praça Nossa Senhora de Salete — Foto: Giuliano Gomes/PR Press

                            Centenas de carros ocuparam a Avenida Afonso Pena, no Centro de BH

                  Manifestantes fazem carreata contra o governo Bolsonaro na Assembleia Legislativa 
                      de São Paulo (ALESP) neste sábado (23) — Foto: Agência Estado

       
Manifestantes fazem ato contra Bolsonaro em Belém, no Pará
Foto: Moisés Nascimento/TV Liberal
               Carreata pró-impeachment de Bolsonaro em Recife
Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco
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Neste sábado é dia de Fora Bolsonaro em todo o Brasil

A pandemia de covid-19 escancarou o desdém do atual governo pela vida. O presidente Jair Bolsonaro ignora os perigos do novo coronavírus sistematicamente, o que favoreceu a explosão de casos e mortes no Brasil

Brasil 247, 23/01/2021, 05:43 h Atualizado em 23/01/2021, 05:54
   Fora Bolsonaro na Av. Paulista (Foto: Diario Causa Operária)

Da Rede Brasil Atual – Partidos políticos, movimento sindical, movimentos sociais, e as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo articulam ao menos 87 carreatas pelo país, neste sábado (23), para exigir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. As mobilizações serão organizadas nas cinco regiões do país (confira abaixo).

As primeiras manifestações do fim de semana de atos públicos pela destituição de Bolsonaro começaram hoje, na cidade de São Luís. Ao mesmo tempo, a #ImpeachmentSalvaVidas chegou a figurar entre os temas mais comentados do dia nas redes sociais.

Motivos não faltam




A pandemia de covid-19 escancarou o desdém do atual governo pela vida. O presidente Jair Bolsonaro ignora os perigos do novo coronavírus sistematicamente, o que favoreceu a explosão de casos e mortes no Brasil. Como resultado, mais de 210 mil vítimas e 8,5 milhões de infectados. É o segundo país com mais óbitos por covid no mundo.

Além de minimizar o impacto das mortes sobre as família e “receitar” remédios ineficazes contra a covid-19 que beneficiam apenas empresas de apoiadores, também adotou uma postura contra as vacinas. O presidente estimula o negacionismo, ao atacar a ciência e seguir difundindo mentiras sobre a covid-19. Hoje mesmo, por mais uma vez, o presidente chegou a questionar a eficácia já comprovada pela ciência das vacinas CoronaVac e AstraZeneca.

Aprovação de Bolsonaro despenca e até movimentos de direita aderem a impeachment

Neste cenário, aliado à incompetência na logística da distribuição de testes e vacinas pelo Ministério da Saúde, está a crise econômica, que se agrava a cada dia. Bolsonaro foi contra o auxílio emergencial, conquistado pela mobilização popular junto ao Congresso e que trouxe um respiro para as famílias mais carentes do país. Agora, o programa chega ao fim sem medidas compensatórias efetivas. Além disso, empresas anunciam o fim de suas atividades no país e o desemprego segue acima dos 14 milhões.

Confira a lista dos atos deste sábado pelo impeachment de Bolsonaro

NORTE


Rio Branco – Uninorte | 15h

Manaus – Concentração: Av. do Samba (Dom Pedro) | 14h30

Belém – Av. Doca de Souza Franco | 9h

Ananindeua (PA) – Ginásio Abacatão | 9h

Ji-Paraná (PA) – Concentração Praça dos Migrantes, Av. Monte Castelo | 9h

Porto Velho – Av. Farquar em frente a Estrada de Ferro | 9h

Palmas – Estação Apinajé | 15h

Macapá – Praça Nossa Senhora de Fátima, Bairro Santa Rita | 10h

Boa Vista – Praça Germano Sampaio (rota: Ataide Teive – Praça das Águas – Parque do Rio Branco, Centro Cívico (Garimpeiro) | 15h30

NORDESTE

Maceió – Papódromo | 15h

Itabuna (BA) – Centro de Cultura Adonias Filho | 9h

Salvador – Vale da Canela | 9h

Salvador – Do CAB até o Farol da Barra | 15h

Vitória da Conquista (BA) – Bosque da Paquera | 10h

Fortaleza – Rua Dragão do Mar, 81 | 15h

Maracanaú (CE) – Praça do Banco do Brasil | 15h

São Luís – Praça Maria Aragão | 15h

João Pessoa – Concentração na Praça da Independência| 14h ( finalizando no Largo da Gameleira)

Petrolina (PE) – Orla de Petrolina | 9h30

Recife – Em frente à fabrica Tacaruna / Classic Hall (Av. Agamenon Magalhães) | 9h

Teresina – Centro Administrativo | 8h

Mossoró (RN) – Largo Igreja São João | 8h

Aracaju – Orlinha do Bairro Industrial | 8h30

Natal – IFRN da Salgado Filho | 14h30

CENTRO-OESTE

Brasília – Estacionamento da Torre de TV, Funarte | 9h

Campo Grande – Cidade do Natal | 10h

Cuiabá – Concentração na UFMT, Guarita 1, Av. Fernando Correia | 9h

SUDESTE

Espírito Santo

Cariacica – Em frente ao Estádio Kleber Andrade | 15h

Vitória – Viaduto Aracelli, Jardim Camburi | 15h

Vila Velha – Parque da Prainha | 15h

Serra – Parque da Cidade,em Laranjeiras | 15h

Encontro das Carreatas – Praça do Papa

Destino final das Carreatas – Pça. do Pedágio

Minas Gerais

Alfenas – Posto Pinheirinho | 17h

Belo Horizonte – Atrás do Colégio Pio XII – Barro Preto | 10h

Belo Horizonte – Mineirão | 16h

Contagem – Praça da Glória (em direçao ao Mineirão para encontro de carreatas) | 14h30

Belo Horizonte – Praça Afonso Arinos | 16h30

Ipatinga - Estadio Ipatingão, saindo as 16h

Januária – Praça Tiradentes | 08h

Juíz de Fora – Faculdade Estácio de Sá | 16h

Montes Claros – Pça Beato Francisco Coll, Maracaná | 08h

Muriaé – Augusto de Abreu, próximo à mina do Joel Abreu | 9h30

Ouro Preto – Posto Shell (próx. saída para BH) | 15h

Pedro Leopoldo – Parque de Exposições | 9h

Poços de Caldas – Trevo do Parque Pinheiros | 14h

Uberlândia – Parque do Sabiá | 9h

Belo Horizonte – Praça Afonso Arinos | 16h30

Ipatinga – Parque Ipanema, em frente à casinha do Papai Noel | 15h

Uberaba – Estádio do Uberabão | 10h

Rio de Janeiro

Baixada Fluminense – Carrefour Belford Roxo | 9h

Rio de Janeiro – Monumento à Zumbi, av. Presidente Vargas | 10h

Rio das Ostras – Concentração da Carreata – Cemitério do Âncora | 9h

Rio das Ostras -Concentração Bicicletaço – Subida da Ponte (Costazul) | 10h

Teresópolis – Praça da Escola Sakura, Ermitage (rumo à feirinha) | 9h30

São Paulo

Baixada Santista – Sambódromo na Zona Noroeste de Santos | 14h

Boiçucanga – – No Costa Sul ( rumo à Barra do Sahy) | 16h

Campinas – Balão do Laranja | 11h30

Campinas – Largo do Pará | 11h

Caraguatatuba – Em frente ao Guaruçá (rumo ao Costa Norte) | 11h30

Carapicuíba – Parque dos Paturis | 8h30

Diadema – Av. Ulisses Guimarães, 3269 – percorrendo Sto André, SBC e Mauá | 9h

Jacareí – Concentração Parque da Cidade | 9h

Mogi das Cruzes – Concentração na Avenida Cívica | 9h

Osasco e Oeste Metropolitano – Parque dos Paturis | 8h30

Presidente Prudente – Rua Júlioo Tiezzi, em frente ao galpão da Lua | 9h30

São José dos Campos – Estádio Martins Pereira | 10h

Ribeirão Preto – Estádio do Botafogo | 10h

São Sebastião – Praça da Matriz (rumo ao Topo e depois Costa Norte) | 12h

Ubatuba – Av. Capitão Felipe, Itaguá | 11h

São Paulo – Assembleia Legislativa |14h

Valinhos – Av. Joaquim Alves Corrêa/Câmara Municipal | 10h

Santo André – Av. Firestone | 9h

Tupã – Rua Estados Unidos, altura da Lajes Tamoyo | 11h

SUL

Paraná

Curitiba – Praça Nossa Senhora de Salete, Centro Cívico | 15h

Guarapuavá (PR) – Fórum de Guarapuavá | 15h30

Maringá (PR) – Antigo Aeroporto | 14h30

Umuarama (PR) – Lago Aratimbó | 10h

Londrina (PR) – Em frente à Prefeitura | 10h

Pinhais (PR) – Praça da Vila Maria Antonieta | 13h

União da Vitória (PR) – Praça Coronel Amazonas | 16h

Santa Catarina

Chapecó (SC) – Av. Getúlio Vargas (Atrás do Shopping) | 16h

Florianópolis – Koxixo’s Bar, Beira Mar Norte | 16h

Rio Grande do Sul

Gravataí (RS) – Parque dos Anjos | 9h30

Novo Hamburgo (RS) – Pista de Eventos de NH | 9h30

Osório (RS) – Lagoa do Marcelino, próx. a pista de skate | 9h

Porto Alegre – Largo Zumbi | 16h

Rio Grande (RS) – Rua São Leopoldo esquina com a Av. Rio Grande | 11h

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Bolsonaro paga à Índia o dobro do que pagam os europeus pelas vacinas

O governo brasileiro irá pagar ao Instituto Serum, da Índia, um valor mais de duas vezes superior ao que os países ricos da União Europeia destinaram para garantir as vacinas da AstraZeneca

Brasil 247, 22/01/2021, 10:16 h Atualizado em 22/01/2021, 10:20
   (Foto: Abr)

O jornalista Jamil Chade em sua coluna no portal UOl, informa que "o governo brasileiro irá pagar ao Instituto Serum, da Índia, um valor mais de duas vezes superior ao que os países ricos da União Europeia destinaram para garantir as vacinas da AstraZeneca. Enquanto o Banco Mundial aponta que a o PIB médio por pessoa da UE é de US$ 34 mil, no Brasil a taxa é de apenas US$ 8,7 mil".

"Depois de um desencontro entre os governos do Brasil e da Índia, os dois países anunciaram que um carregamento de 2 milhões de doses da vacina chegará ao país. O Instituto Serum é um dos centros capacitados pela AstraZeneca para produzir sua vacina", acrescenta Chade. 

Segundo o jornalista, "num comunicado do início de janeiro, a Fiocruz confirmou a negociação e indicou que o 'Instituto oferecerá as vacinas prontas ao mercado pelo valor de US$ 5,25 cada'".




"Nas últimas semanas, um suposto erro de um ministro belga permitiu que os preços das diferentes doses de vacinas fossem revelados ao público europeu. De acordo com uma mensagem em suas redes sociais, o político belga indicou que a UE teria negociado um preço de US$ 2,16 (1,78 euros) por dose da vacina da AstraZeneca. Questionado, o bloco se recusou a comentar, alegando que os acordos eram confidenciais", informa o jornalista.

De olho no futuro, Aras confessa parcialidade

"Não fosse Augusto Aras quem é, poderiam argumentar incompetência. Mas isto será menosprezá-lo. Mais factível é ver na sua atitude a bajulação de quem sonha suceder a Marco Aurélio Mello no Supremo Tribunal Federal (STF), em setembro próximo", defende o jornalista Marcelo Auler

Brasil 247, 22/01/2021, 16:28 h Atualizado em 22/01/2021, 16:48
   Augusto Aras e Jair Bolsonaro (Foto: Leonardo Prado/MPF)

Por Marcelo Auler, em seu Blog

Ao tentar uma espécie de autodefesa junto à sociedade para justificar suas omissões perante as atrocidades cometidas pelo presidente Jair Bolsonaro – de quem nunca escondeu ser próximo – o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, com a Nota Pública que divulgou, acabou emitindo uma espécie de confissão da sua parcialidade em relação a um desgoverno que provocou mais de 214 mil mortes, ao desdenhar da pandemia do Covid-19.

Não fosse Aras quem é, poderiam argumentar incompetência. Mas isto será menosprezá-lo. Mais factível é ver na sua atitude a bajulação de quem sonha suceder a Marco Aurélio Mello no Supremo Tribunal Federal (STF), em setembro próximo. Sua Nota Pública, portanto, deve ser encarada como uma espécie de “prestação de serviço” para chegar ao Supremo. Ou, se não for possível, ao menos conquistar um segundo mandato no atual cargo.



A Nota Pública do Ministério Público Federal – “PGR cumpre com seus deveres constitucionais em meio à pandemia” -, cujo conteúdo foi proposto pelo próprio Aras, como admitiu sua assessoria de comunicação, tinha o objetivo de servir como resposta à “pressão de segmentos políticos que clamam por medidas criminais contra autoridades federais, estaduais e municipais”.

Ao tentar eximir-se da responsabilidade inerente ao seu cargo, Aras passou a imagem de omisso, mesmo relacionando iniciativas diversas em relação a alguns desmandos. Todas contra escalões menores ou, no máximo, governadores acusados de desvios de verbas. Mesmo com relação ao incompetente ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, o Procurador-Geral, ao cobrar esclarecimentos sobre a crise em Manaus, ofereceu-lhe um prazo de 15 dias para se manifestar. No Supremo, o ministro Ricardo Lewandowski tem dado prazos de horas, em média 72Hs.

Aras nada fez diretamente contra o presidente, apesar de todos os indícios de crime por ele cometidos. Tampouco agiu contra uma política de governo que desacreditou da doença e desrespeitou, reiteradamente, regras determinadas por cientistas e organizações de saúde do mundo inteiro.

“Alusão a estado de defesa é desarrazoada”

Nessa tentativa de responder às pressões que diz sofrer, ele acenou com o recado de que o país corre riscos. Sem maiores explicações, alardeou que “o estado de calamidade pública (no qual estamos) é a antessala do estado de defesa”. Aquele que, quando decretado, tolhe os direitos dos cidadãos. Uma frase que provocou dúvidas em muitos, mas que outros consideram bravata na busca pela valorização do seu trabalho.

Uma insinuação autopromocional para dizer que, sem ele e suas ações, será o golpe. Ainda que tenha defendido que é “tempo de temperança e prudência, em prol da estabilidade institucional”, seu comunicado foi considerado totalmente fora do tom. Na realidade, só atende aos interesses golpistas do presidente e de seu círculo mais próximo. Por isso, Aras foi colocado na berlinda em pleno dia de São Sebastião.

O primeiro ataque veio de seis subprocuradores da República – José Adonis Callou de Araújo Sá, José Bonifácio Borges de Andrada, José Elaeres Marques Teixeira, Luiza Cristina Fonseca Frischeisen, Mario Luiz Bonsaglia e Nicolao Dino. São integrantes do Conselho Superior do Ministério Público Federal no qual há dez assentos. Logo, formam maioria ali dentro.

Em nota, eles advertem Aras de que se trata “de função constitucionalmente conferida ao Procurador-Geral da República, cujo cargo é dotado de independência funcional”, a “persecução penal de crimes comuns e de responsabilidade da competência do Supremo Tribunal Federal”. Ou seja, cabe ao Procurador-Geral investigar os crimes do presidente.

Também a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) rebateu-o em manifestação (leia aqui) na qual destaca que “qualquer alusão, no atual estágio da democracia brasileira, a estados de exceção, inclusive aqueles previstos na própria Constituição, como os estados de sítio e de defesa, se mostra absolutamente desarrazoada e contrária à missão constitucional que foi incumbida precipuamente à instituição e a todos os seus membros”.

O repúdio partiu ainda dos mais de 300 advogados que formam o Grupo Prerrogativas, através da Nota de repúdio às declarações do Procurador-Geral da República. Para estes, Aras, além de tentar esquivar-se de suas obrigações, parece desejar “também causar desassossego a todos aqueles comprometidos com a defesa da democracia. Ao fazer referência à exceção, anunciando o estado de calamidade pública como antessala do estado de defesa, o Procurador Geral da República deixa em estado de alerta e permanente vigilância toda a comunidade jurídica”.

Silêncio sobre possíveis crimes de Bolsonaro

Outra esperteza à qual recorreu foi jogar no colo do Legislativo a responsabilidade pelo enfrentamento aos desmandos do governo Bolsonaro. “Eventuais ilícitos que importem em responsabilidade de agentes políticos da cúpula dos Poderes da República são da competência do Legislativo”, alegou.

Sem dúvida, como o país aprendeu ao assistir a este filme duas vezes, crimes de responsabilidades – ou até mesmo sem estes crimes, como ocorreu no golpe contra Dilma Rousseff -, devem ser apreciados pelo Congresso. A Câmara autoriza e o Senado processa. No colo de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, já se contabiliza 61 pedidos de impeachment como mostra um belo trabalho da Pública, Agência de Jornalismo Investigativo: Os pedidos de impeachment de Bolsonaro.

Aras sabe também que a responsabilidade por investigar crimes comuns, aqueles previstos no código penal, que geram processos penais, é exclusiva do Ministério Público. “As atribuições são distintas e não podem, em absoluto, ser confundidas”, lembrou na sua manifestação a Associação Nacional dos Procuradores da República, referindo-se a crimes de responsabilidade (sujeitos à apreciação do Legislativo) e as crimes comuns.. A iniciativa de ações penais é sempre do Ministério Público. Quando o suspeito é o presidente da República, a responsabilidade de investigá-los e processá-los é exclusiva do Procurador-Geral da República. Age junto ao Supremo, que depois busca autorização do Congresso. Mas o início da investigação criminal, atualmente é responsabilidade de Aras.

A nota se calou sobre os indícios de que vários crime comuns foram cometidos. Indícios já relacionados em uma Representação contra Jair Messias Bolsonaro”, com 43 página, endossada por mais de 300 membros da chamada sociedade civil, entre os quais juristas, levadas ao Procurador-Geral na sexta-feira (15/01). Nomes de destaque na sociedade. Cobram a investigação contra o presidente por, em tese, cometer ao menos cinco crimes relacionados no Código Penal brasileiro no enfrentamento da pandemia.

Levado à internet no domingo (17/01) à tarde, através do site Change.org, a Representação, no início da tarde desta sexta-feira (22/01) contava com cerca de 42 mil assinaturas..

A Representação, provavelmente, é uma entre os vários “clamores por medidas criminais” que a Nota Pública confessa estarem sendo depositados no colo de Aras e sobre as quais ele evitou comentar. Nela são relacionados cinco crimes do Código Penal que teriam sido cometidos por Bolsonaro e seu governo (leia no quadro).

No documento elaborado pelos advogados Mauro Menezes e João Gabriel Lopes a partir da provocação do movimento 342Artes que reúne artistas, ativistas, empreendedores sociais, intelectuais, advogados, escritores, ativistas do meio ambiente e de direitos humanos, os signatários, advertem:
“As gravíssimas ações e omissões do Presidente da República não deixam margem a dúvidas quanto à infâmia de sua postura, bem como em relação ao caráter delituoso de que se revestem (…) Deriva desse contexto a configuração inequívoca do cometimento pela autoridade máxima do país dos mencionados crimes, tipificados no Código Penal.”,

Os signatários não são os únicos a enxergar crimes nas atitudes do presidente e de seus ministros. Os próprios Subprocuradores – portanto, colegas de Aras -, na nota que emitiram apontam o “comportamento incomum de autoridades” que só vieram a prejudicar o enfrentamento da crise da saúde e, no mínimo precisam ser investigados. Relacionam inúmeros descompassos do governo no combate à pandemia que deveriam atrair a atenção do Procurador-Geral. A nota diz:

“Além da debilidade da coordenação nacional de ações para enfrentamento à pandemia, tivemos o comportamento incomum de autoridades, revelado na divulgação de informações em descompasso com as orientações das instituições de pesquisa científica, na defesa de tratamentos preventivos sem comprovação científica, na crítica aos esforços de desenvolvimento de vacinas, com divulgação de informações duvidosas sobre a sua eficácia, de modo a comprometer a adesão programa de imunização da população. Não bastassem as manifestações de autoridades em dissonância com as recomendações das instituições de pesquisa, tivemos a demora ou omissão na aquisição de vacinas e de insumos para sua fabricação, circunstância que coloca o Brasil em situação de inequívoco atraso na vacinação de sua população“.

Eles ainda acrescentam atitudes do presidente, ao largo da crise da saúde, que colocam em risco o estado democrático de direito e chegam a confrontar a Constituição:

“Com a mesma gravidade, assistimos a manifestações críticas direcionadas ao TSE e ao sistema eleitoral brasileiro, difundindo suspeitas desprovidas de qualquer base empírica, e que só contribuem para agravar o quadro de instabilidade institucional. Além disso, tivemos recente declaração do Senhor Presidente da República, em clara afronta à Constituição Federal, atribuindo às Forças Armadas o incabível papel de decidir sobre a prevalência ou não do regime democrático em nosso País“.

Por fim, conclamam Aras a agir:

“Nesse cenário, o Ministério Público Federal e, no particular, o Procurador-Geral da República, precisa cumprir o seu papel de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e de titular da persecução penal, devendo adotar as necessárias medidas investigativas a seu cargo – independentemente de “inquérito epidemiológico e sanitário” na esfera do próprio Órgão cuja eficácia ora está publicamente posta em xeque –, e sem excluir previamente, antes de qualquer apuração, as autoridades que respondem perante o Supremo Tribunal Federal, por eventuais crimes comuns ou de responsabilidade (CF, art. 102, I, b e c)“

Fábrica que governo Bolsonaro mandou fechar no Paraná poderia produzir 30 mil metros cúbicos de oxigênio por hora

Viomundo, 22/01/2021 - 10h37

O protesto dos petroleiros. Divulgação


Fechada há um ano pelo governo Bolsonaro, Fafen-PR poderia produzir 30 mil metros cúbicos de oxigênio por hora

Fechamento da Fafen aumentou dependência da importação de fertilizantes


Enquanto os pacientes com Covid dos hospitais de Manaus estão morrendo sufocados pela falta de cilindros de oxigênio, em meio ao colapso do sistema de saúde, diante de mais um pico da pandemia no estado do Amazonas, a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobrás no Paraná poderia estar produzindo 30 mil metros cúbicos de oxigênio por hora.

Isso daria para encher 30 mil cilindros hospitalar pequenos, com capacidade média de 20 inalações de 10 minutos.

A fábrica, no entanto, está fechada há um ano, com equipamentos se deteriorando, enquanto a população sofre as consequências da desindustrialização causada pelo governo Bolsonaro.

“A Fafen-PR tem uma planta de separação de ar, que, com uma pequena modificação, poderia ser convertida para produzir oxigênio hospitalar, ajudando a salvar vidas nesse momento dramático da pandemia, que atinge novos picos em diversos estados do país”, informa o petroquímico, Gerson Castellano, um dos mil funcionários da fábrica de Araucária que foram demitidos, após o fechamento da unidade.

Ele explica que a separação de ar é um dos processos que ocorre para a produção da amônia, que é a matéria prima utilizada na fabricação da ureia, que era o principal insumo produzido pela Fábrica de Fertilizantes da Petrobrás.

A planta que faz essa separação do ar tem capacidade de ser operada independentemente da produção da amônia e, com uma alteração simples, pode ser convertida para produzir 30 mil metros cúbicos de oxigênio hospitalar por hora.

Se a planta estivesse sendo operada em dois turnos de 6 horas, só a Fafen-PR poderia fornecer ao governo 360 mil metros cúbicos de oxigênio por dia. Atualmente, o consumo diário de oxigênio no Amazonas é de 76 mil m³.

“Uma unidade como a nossa quando fecha, não significa apenas a perda de empregos e tributos. A sociedade perde tecnologia e condições de mudar o país. E nesse caso, perde também condições de salvar vidas. A desindustrialização vai muito além do desemprego em massa, ela causa prejuízos generalizados para a sociedade”, alerta Castellano, que é diretor da FUP e do Sindiquímica-PR.

O fechamento da Araucária Nitrogenados (Ansa/Fafen-PR) foi anunciado pela diretoria da Petrobrás há exatamente um ano, surpreendendo os 1.000 trabalhadores da unidade, que foram sumariamente demitidos.

Não houve qualquer negociação com a FUP ou o Sindiquímica, o que levou a categoria petroleira a realizar uma greve histórica, em fevereiro do ano passado, que durou 21 dias.

Fechamento da Fafen aumentou dependência da importação de fertilizantes

O fechamento da fábrica aumentou ainda mais a dependência da agroindústria brasileira da importação de fertilizantes.

A unidade garantia o abastecimento de cerca de 30% do mercado brasileiro de ureia e amônia.

O encerramento da Fafen-PR também impactou fortemente os moradores da região de Curitiba e Araucária.

Alguns trabalhadores tinham mais de 20 anos de casa e ainda não conseguiram se recolocar no mercado de trabalho um ano depois.

Operando desde 1982, a Ansa/Fafen-PR foi adquirida pela Petrobrás em 2013.

Usando resíduo asfáltico (RASF), a unidade produzia diariamente 1.303 toneladas de amônia e 1.975 toneladas de ureia, de uso nas indústrias química e de fertilizantes.

A planta também produzia 450 mil litros por dia do Agente Redutor Líquido Automotivo (ARLA 32), aditivo para veículos de grande porte que atua na redução de emissões atmosféricas.

A planta ainda tinha capacidade de produzir 200 toneladas/dia de CO2, que é vendido para produtores de gases industriais; 75 toneladas/dia de carbono peletizado, vendido como combustível para caldeiras; e 6 toneladas/dia de enxofre, usado em aplicações diversas.

Incerteza quanto a vacina e crise do oxigênio fez aprovação de Bolsonaro despencar 15 pontos desde novembro, para 26%

Viomundo, 22/01/2021 - 12h00



Da Redação

O Viomundo previu: mesmo com muitas pessoas desconfiadas da Coronavac, a “Vachina”, por conta da campanha movida contra ela por bolsonaristas, o presidente da República ficaria sob pressão para vacinar os brasileiros na medida em que surgissem imagens disso acontecendo em outros países.

Nos Estados Unidos, apesar dos obstáculos — o país não tem uma rede nacional de instalações de saúde públicas conectada e hierarquizada, como o SUS — o governo Biden promete que em outubro, se tudo der certo, a vida voltará praticamente ao normal.

Isso significa a possibilidade de uma robusta retomada econômica.

No Brasil, os próprios empresários — base de apoio do golpe contra Dilma Rousseff em 2016 e apoiadores de Bolsonaro — estão rangendo os dentes em relação ao governo por causa da dupla crise de falta de oxigênio que matou dezenas de pessoas na região Norte. 

As trapalhadas do governo federal com as vacinas dominaram o noticiário.

“A dinâmica dos sérios problemas em Manaus junto a falta de perspectivas sobre um cronograma de vacinação e o fim do auxílio emergencial constituem os principais fatores que levam à queda de popularidade do presidente”, afirmou Maurício Moura à revista Exame.

Ele é do grupo IDEA, que fez a mais recente pesquisa de popularidade de Jair Bolsonaro.

O presidente teve queda de aprovação de 37% para 26% em um mês.
A curva

Bolsonaro chegou a 54% de desaprovação em junho de 2020, mas depois que entrou em vigor o auxílio emergencial foi aos poucos recuperando apoio, que atingiu 41% de aprovação em novembro passado.

De lá para cá, a popularidade de Bolsonaro já caiu 15 pontos.

Até entre os evangélicos agora ela é minoritária: só 38% deles dizem apoiar o presidente, de acordo com a pesquisa da Exame.

Sem a renovação do auxílio emergencial, é possível que em breve Bolsonaro mergulhe num patamar que estimule parlamentares a apoiar o impeachment na Câmara.

Vacinas aprovadas no Brasil: afinal, quem pagou pela CoronaVac?

Daniel Gallas, Da BBC News Brasil em Londres, 19 janeiro 2021

              CRÉDITO,REUTERS, Legenda da foto

João Doria diz que 'não há um centavo até agora' do governo federal na vacina mas omite que o ministério da Saúde é o comprador das doses

O começo da vacinação contra coronavírus no Brasil nesta semana deu início a um novo capítulo de acusações e politização entre o governo federal e o governo do Estado de São Paulo — com Jair Bolsonaro e João Doria, potenciais candidatos à Presidência em 2022, antecipando o clima de eleição.

No domingo (17/1), quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou dois imunizantes em caráter emergencial e o governo de São Paulo deu início à vacinação, o ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, e Doria trocaram acusações sobre o crédito da CoronaVac, desenvolvida por cientistas do Instituto Butantan com a empresa chinesa Sinovac.


O ministro da Saúde diz que o governo federal é responsável por pagar pela vacina.

"Você sabia que tudo que foi comprado pelo Butantan foi com recursos do SUS? Todas as vacinas, não foi com um centavo de São Paulo. Autorizado por mim. É difícil ficar ouvindo isso o tempo todo. Eu ouço calado o tempo todo a politização da vacina", disse Pazuello, em entrevista coletiva realizada em Brasília.

Minutos depois, Doria se disse atônito com as declarações de Pazuello e discursou em São Paulo, durante o evento de vacinação: "Ministro Eduardo Pazuello. É inacreditável como um ministro de Estado da Saúde (...) ainda mente ao dizer isso. A vacina do Butantan só está em São Paulo e no Brasil porque foi investimento do governo do Estado de São Paulo. Não há um centavo, até agora, do governo federal, para a vacina — nem para o estudo, nem para a compra, nem para a pesquisa. Nada. Chega de mentiras, ministro."

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Afinal, quem tem razão sobre o dinheiro usado para pagar a CoronaVac?

Quem pagou pela pesquisa?

Tanto a compra como a pesquisa das vacinas foi paga com dinheiro dos contribuintes brasileiros. Mesmo orçamentos estaduais recebem recursos redistribuídos da União para complementar suas arrecadações. No caso da pesquisa das vacinas, parte do investimento veio também de parceiros internacionais.

O que Doria e Pazuello reivindicam é a tomada de decisão de investir dinheiro no desenvolvimento e compra da vacina.

Nas suas entrevistas coletivas de domingo, as autoridades abordaram dois aspectos distintos sobre o financiamento das vacinas. Em primeiro lugar, de onde veio o dinheiro para financiar a pesquisa que levou à CoronaVac. Em segundo, existe a questão de quem vai comprar a vacina — recompensando o esforço pela criação do imunizante.

Sobre a primeira questão, a vacina foi desenvolvida com recursos da empresa chinesa Sinovac e do Instituto Butantan — cujo orçamento está ligado à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.

O governo federal investiu seus recursos para auxiliar nas fases de teste de outro imunizante, o da Oxford-AstraZeneca, por intermédio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde. A Fiocruz também será responsável por produzir a vacina de Oxford no Brasil.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

China impõe à gestão Bolsonaro tática do jacaré

Josias de Souza Colunista do UOL 21/01/2021 19h08


A China encontrou na pandemia uma oportunidade para demonstrar aos gênios do governo Bolsonaro que a diferença entre a genialidade e a estupidez é que a genialidade tem limites. Pequim submete o presidente brasileiro e seus luminares à estratégia do jacaré. 

Os sábios de Brasília levaram os ataques à China até as margens da imprudência. Mal enxergaram o olho do alvo. Chegaram mais perto. De repente, o bicho abriu a boca. Deu o bote no instante em que ficou escancarada a dependência do programa de vacinação do Brasil em relação aos insumos farmacêuticos chineses.

Ernesto Araújo, suposto ministro das Relações Exteriores do Brasil, está zonzo. O hipotético chanceler declarou a deputados da Comissão de Combate à Covid o seguinte: 

"Não identificamos nenhum problema de natureza política em relação ao fornecimento desses insumos provenientes da China. Nossa análise é de que realmente há uma demanda muito grande por esses insumos. Não há nenhum problema político na relação com a China. 

Queria reiterar: nós temos uma relação madura, construtiva, muito correta, tranquila com a China.

" Porta-estandarte do pelotão anti-China do governo, Araújo ainda não notou que está na boca do jacaré. Mastigado, o gênio do Itamaraty tornou-se uma irrelevância diplomática.

No momento, a China coloca na roda o próprio Bolsonaro, que mendiga um contato telefônico com o colega Xi Jinping, e o ministro Fabio Faria (Comunicações), que se equipa para lançar o edital do bilionário negócio da tecnologia 5G. 

A China não tem a intenção de romper os contratos que preveem o fornecimento de insumos para as vacinas contra a covid. Mas está entendido que a matéria-prima pode chegar mais rápido ao Butantan e à Fiocruz se os gênios de Brasília fornecerem à Huawei, gigante chinesa do ramo da tecnologia, imunizantes contra o vírus da sinofobia.

O jacaré ensina aos sábios do bolsonarismo que, na pandemia, a ideologia pode ser o caminho mais longo entre o projeto de vacinação e o braço dos brasileiros.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Ministros do STF reagem à nota de Aras e temem golpe de Bolsonaro

Há temor no STF de que a nota de Augusto Aras sobre Estado de Defesa seja a senha para uma tentativa de golpe de Estado de Bolsonaro

Brasil 247, 2/01/2021, 10:34 h Atualizado em 20/01/2021, 10:51
   (Foto: ABr | Reuters)

Ministros do Supremo Tribunal Federal ouvidos pela jornalista Andréia Sadi, nesta quarta-feira (20) reagiram com preocupação e espanto à nota do procurador-geral da República, Augusto Aras, em que sinaliza a possibilidade de decretação do Estado de Defesa, o que representaria, na prática, o golpe de Estado antecipado por Jair Bolsonaro com sua declaração de que as Forças Armadas decidem se o país terá democracia ou ditadura.

Previsto na Constituição, o estado de defesa pode ser decretado pelo presidente da República quando há necessidade de restabelecer a "ordem púbica e a paz social" se estas são ameaçadas "por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza". Com Bolsonaro na Presidência, será fim da democracia no Brasil.

O ministro Marco Aurélio Mello disse “não ver com bons olhos” o movimento de quem precisa ser visto como fiscal da lei, referindo-se ao Ministério Público. Em meio à crise de saúde, lembrou uma declaração que deu em 2017. Na ocasião, ele afirmou que, se o então deputado federal Jair Bolsonaro fosse eleito, “temia” pelo Brasil: “Onde há fumaça há fogo. Crise de saúde, crise econômica, crise social e agora crise, aparentemente, política. Não vejo com bons olhos esse movimento de quem precisa ser visto como fiscal maior da lei. Receio pelo Estado de Direito. Volto à palestra que fiz no encerramento de Curso de Verão na Universidade de Coimbrã, em julho de 2017. Disse que, ante a possível eleição, como Presidente da República, do então Deputado Federal Jair Bolsonaro, temia, esse foi o vocábulo, pelo Brasil. Premonição? Certamente não”.



Outro ministro ouvido por Sadi, reservadamente, afirmou que se surpreendeu com a nota de Aras. Ele avalia que o PGR “respondeu a uma pergunta que não foi feita”, a respeito do estado de defesa e que, ao contrário do que diz, cabe sim ao PGR a responsabilidade de uma eventual investigação criminal, tanto do presidente da República como do ministro da Saúde.

Segundo esse ministro, no começo de 2020 havia estudos entre militares para decretar o estado de sítio. Uma das hipóteses nos bastidores é a de que Aras teria sinalizado com anuência para uma eventual medida nesse sentido por parte do Executivo- o que é rechaçado pelo STF.