"Cabe agora a Lula, com toda a sua habilidade, reconstruir o Brasil das cinzas, em aliança até com setores nacionalistas das forças armadas que, certamente, não concordam com a entrega total do Brasil aos desejos de Donald Trump e Steve Bannon, protagonistas do neofascismo global", diz o jornalista Leonardo Attuch, editor do 247
8 de novembro de 2019, 07:34 h
A interdição de Lula e a última ilusão (Foto: Stuckert)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já construiu uma biografia épica, que todos conhecem. Venceu a fome, a miséria, chegou à presidência da República de um dos países mais importantes do mundo, cuja elite infelizmente não vê como tal, e tirou mais de 30 milhões de pessoas da pobreza, num governo marcado por forte crescimento econômico e inclusão social. Se não bastasse, fez o Brasil ser respeitado internacionalmente e lançou as bases de "um outro mundo possível", em que o Grande Sul Global, como diz meu amigo Pepe Escobar, começou a se levantar.
Sua luz brilhou tão forte que os camisas-pretas não suportaram tamanho sucesso. Sua sucessora Dilma Rousseff foi derrubada por meio de um golpe de estado vergonhoso, em que os piores ladrões do Congresso afastaram a presidente honesta em nome do "combate à corrupção", e ele foi preso para ser impedido de disputar uma eleição que conseguira vencer de dentro da cadeia.
Durante mais de 600 dias, a elite brasileira, incapaz de reconquistar o poder pelo voto popular, suspendeu a constituição brasileira, para que fosse possível perpetrar a fraude eleitoral.
O plano original, todos sabem, era trazer de volta os tradicionais representantes das elites, em especial o PSDB, ao poder, mas os tucanos também foram tragados pelo processo de ódio político que ajudaram a deflagrar. O resul;tado está aí: um Brasil bestializado, motivo de pena e comiseração ao redor do mundo, em que ídolos fascistas agridem um jornalista numa rádio, ministros celebram a ignorância e até investigações sobre o brutal assassinato de uma mulher negra são acobertadas pelas autoridades.
É esse Brasil embrutecido – e que não foi capaz de gerar crescimento nem de entregar plenamente as riquezas nacionais, como demonstra o leilão do pré-sal – que Lula encontrará ao sair da prisão. Um Brasil que necessita desesperadamente de alguém que tenha capacidade de transmitir ao povo brasileiro a ideia de que o Brasil é grande e que não cabe no quintal de ninguém.
Em várias entrevistas, Lula já declarou que sairá da prisão política melhor do que entrou. Mas ele encontra um Brasil muito pior do que deixou. Eu me lembro de uma capa da revista Istoé, no final de seu segundo mandato, cuja capa estampava a seguinte manchete: "nunca fomos tão felizes". Era verdade. Sob Bolsonaro, nunca fomos tão ridículos e até os golpistas sabem disso. Cabe agora a Lula, com toda a sua habilidade, reconstruir o Brasil das cinzas, em aliança até com setores nacionalistas das forças armadas que, certamente, não concordam com a entrega total do Brasil aos desejos de Donald Trump e Steve Bannon, protagonistas do neofascismo global.
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