Abaixo, os principais trechos da entrevista do prefeito de S. Paulo, Fernando Haddad, concedida a Josias de Sousa. Neles, você conhecerá as opiniões do prefeito sobre as denúncias imobiliárias que rondam Lula, os erros cometidos na condução da economia, o assalto aos cofres da Petrobras e a crise que ronda o PT no instante em que o partido celebra seu aniversário de 36 anos.
— Saudade da política econômica de Lula: “Acho que nós tínhamos que resgatar a política econômica do governo Lula. Tivemos, nos oito anos de governo Lula, uma política econômica irretocável. Não foi cometido um equívoco que colocasse a perder esse boom econômico que nós vivemos, com inclusão, distribuição de renda, oportunidades educacionais expandidas nas universidades e escolas técnicas. Acho que nós temos que resgatar os princípios basilares da política econômica do governo Lula. No primeiro mandato da presidenta Dilma houve alguns problemas que ela própria reconhece, hoje, de condução, que precisam de reparo. O resgate da política econômica do governo Lula me parece fundamental.”
— Os erros da gestão Dilma: “Acho que teve alguns eventos que colocaram em risco, com as melhores intenções. A ideia era preservar emprego e renda. Mas o que é que aconteceu? 1) Vendeu-se muito swap cambial, o dólar ficou artificialmente valorizado; 2) desonerações [tributárias] para empresários, que não cumpriram o que se esperava, que era a ampliação da sua capacidade produtiva. Os empresários foram beneficiados com desoneração fiscal, não reagiram a essa desoneração, simplesmente ampliaram sua margem de lucro. 3) Administração de preços públicos, caso da tarifa de ônibus, caso da gasolina; 4) A seca, que fez com que nós tivéssemos que ligar as termelétricas, com impacto no custo da energia brutal. Foi uma conjunção de fatores que gerou o problema que nós estamos enfrentando. Esse problema é grave? Depende. Economicamente, era um problema que poderia ser equacionado em um ano. Nós teríamos um ano ruim, que foi o de 2015, uma fase de ajuste. E começaríamos a retomar em 2016 a economia, como acontece frequentemente nas economias mundo afora.”
— Aécio Neves e o quanto pior, melhor: “É visível que há dificuldade de retomada da base aliada, para promover as decisões necessárias à retomada econômica. É evidente que alguma coisa está acontecendo. Mas a própria oposição está fazendo uma autocrítica sobre o seu desempenho em 2015. Basta lembrar as últimas declarações do líder da oposição, que fez um mea-culpa, dizendo que estava jogando no quando pior, melhor. [o repórter perguntou a que líder Haddad se referia] O Aécio disse isso. [o repórter perguntou se Aécio Neves de fato fizera tal afirmação] Em outras palavras ele disse: ‘passaremos a colaborar com uma agenda positiva’. Quer dizer: não estavam colaborando antes? Sempre dessa maneira cifrada, que não ajuda. O melhor é dizer as coisas claramente, e seguir a vida. Governo e oposição têm que sentar à mesa no plano federal e dizer o seguinte: ‘olha, tanto lá quanto cá cometemos equívocos. Vamos colocar uma agenda. O que é consenso vamos aprovar. E seguir a vida, porque o Brasil não precisava estar vivendo um segundo ano difícil. Ia ter um período de ajuste. Mas ia ser o ajuste que o Fernando Henrique teve que fazer em 1999, o Lula teve que fazer em 2003. Vários presidentes tiveram que fazer ajustes. A vida não é fácil num momento de crise internacional. Mas a dor não precisa ser tanta.”
— Investidor amedrontado: “Você não pode fazer da sua bandeira partidária algo que comprometa o futuro do seu país. Está faltando discernimento. Talvez de todo mundo, nem seria legítimo dizer: ‘a culpa é da situação ou da oposição’. Está faltando o entendimento de colocar as questões num outro patamar. E colocar o interesse do país em primeiro lugar. Estamos estressando a economia demasiadamente. Eu convivo com atores econômicos aqui o tempo inteiro. Eu recebo empresários do mundo inteiro. Eles é que dizem: ‘olha, a política está estressando demais a economia. Não é uma opinião só de um prefeito. É a opinião de muitos empresários que estão aguardando uma sinalização para voltar a investir. Está cheio de liquidez no mundo, gente fortemente capitalizada, que quer investir no Brasil. Por que está postergando o investimento? Porque não está vendo um horizonte político adequado para essa tomada de decisão.”
— Governo Dilma sofre crise de identidade: “A popularidade ou impopularidade é da vida política, o que é um e pecado que você não pode cometer é não estar identificado com um projeto. Quando eu falo vamos resgatar a política econômica do governo Lula, é porque é uma forma de a população entender a identidade que tem que ter para se defender publicamente e defender o projeto que você representa. O conselho que eu daria para o governo federal é esse: se reencontrar com a base que te elegeu. E esse reencontro só pode ser feito a partir de bandeiras claras e compreensíveis para quem foi à rua defender. Não importa se alguém tem 20% de aprovação ou 80%. Importa o seguinte: essa pessoa que tem 20% de aprovação representa um projeto no qual eu acredito? Vamos transformar esses 20% em 51% e ganhar a eleição. O problema não é nível de popularidade, porque o Lula já viveu períodos difíceis, Fernando Henrique saiu com baixíssima aprovação, nunca mais se recuperou, para não falar dos outros presidentes. É difícil você sair bem de uma Presidência de oito anos. Agora, você precisa ter uma identidade. Você precisa dizer: eu, com todos os problemas, represento essa visão de Estado. Acredito que precisamos resgatar aquilo que justificava a nossa presença no poder central. Esse resgate é fundamental. Está faltando isso.”
— Deseja a presença de Dilma em seu palanque eleitoral? “Em 2012, a presidenta Dilma estava com 78% de aprovação e não participou da minha campanha. Presidente da República, às vezes tem mais de um candidato da base [de apoio parlamentar]. Ela vai ter aqui, certamente, mais de um candidato. Ela recebe pedidos para não participar das eleições municipais, para não complicar a vida dela no Congresso, que já não está fácil. Quem decide isso é a instituição. A Presidência é uma instituição. Em 2012, eu não peguei o telefone e liguei: ‘olha, vem pra cá, que você está muito popular e eu sou desconhecido.’ Isso não cabe fazer. Isso é uma decisão do Lula, dela. Não é uma decisão que eu possa tomar por eles. Agora, eu vou aceitar o que eles decidirem, como aceitei em 2012. Eu não me intrometi na decisão dela, entendi que ela tinha mais de um candidato aqui.”
— Reforma da previdência e volta da CPMF resolvem? “Isoladamente, não resolve. Lula fez reforma da Previdência, defendeu a CPMF enquanto era presidente, fez superávit primário, talvez, como nenhum outro presidente tenha feito. O presidente Lula foi quem mais fez superávit primário em oito anos. Não é disso que nós estamos falando. Não é de uma ação isolada, mas a soma das ações tem que ter uma coerência.”
— O que Dilma precisa fazer resgatar a identidade? “Acho que ela já começou a fazer, talvez, com a política monetária, que vinha num compasso muito preocupante. Às véspera da última reunião do Copom [Conselho de Política Monetária do BC], o mercado apostava numa alta da taxa de juros. E estava todo mundo atônito. E o que aconteceu foi que o Banco Central percebeu e parou de subir. Talvez ele esteja preparando o terreno para uma mudança de política, sobretudo creditícia. Porque quando a gente fala de política econômica não é só a taxa de juros. É política de crédito, para fazer a economia girar para falar francamente o que eu penso: nós temos que ter uma política voltada para a geração de emprego. A marca do presidente Lula foi ter criado 15 milhões de empregos. Ele, 10 milhões de vagas; Ela, 5 milhões ou algo assim em 12 anos. A marca desses governos foi a geração de emprego. Ah, está tendo inflação? Vamos corrigir. Tem gasto demais? Vamos corrigir. Mas este é um governo e este um partido trabalhista. Tem que prestar atenção na sua base. Ah, tem um ano que a gente tem que pedir para apertar o cinto. Isso todo mundo tem que compreender. Depois de 12 anos gerando emprego, você pode ter um soluço. Mas tem que estar no horizonte o que se vai fazer para que seja só um soluço e a gente retome os nossos compromissos sociais.”
— O Brasil corre o risco de perder também 2016? “Esse é o problema. O que poderia ser resolvido num ano está sendo dolorosamente postergado em função de um desentendimento político que deixa todos —governadores, prefeitos e empresários— com uma expectativa muito grande de que as pessoas se sentem à mesa. Porque a crise não era tão grande quando emergiu, mas está ganhando contornos estruturais e, se a gente deixar, ela se consolida. O Brasil não merece isso, não precisa disso. Podemos recuperar rapidamente a credibilidade. Recebo muitos empresários que querem investir no país e olham para São Paulo. Essas pessoas estão aguardando um sinal para investir.”
— Disputará a reeleição à prefeitura? “Tudo tem seu tempo. O Brasil está vivendo um momento muito difícil para a política. A política, hoje, é uma atividade que não convida as pessoas a permanecerem nela, a desfrutar dela pelo que ela tem de bom, que é a capacidade de transformar para melhor a vida das pessoas. Eu venho da vida acadêmica só com essa disposição. Deixei uma carreira, uma trajetória acadêmica, me dispus a fazer política achando que ia ser até mais breve do que acabou sendo. Entrei no ano 2000. Tinha então, 37 anos. E esperava que fosse uma experiência breve. Mas a vida se encarregou de postergar essa decisão de voltar para a universidade. No momento certo, vamos nos apresentar. E acho que as pessoas tem que perder um pouco a ideia da política como meio de vida. Política deveria ser um espaço aberto para que cidadãos, professores, médicos, trabalhadores, pudessem participar da vida nacional de outro jeito, do lado de cá do balcão, e voltar para os seus afazeres cinco, dez, 15 anos depois, sem achar que isso é um problema. [o repórter perguntou ao prefeito se ele cogita não concorrer à reeleição] O que eu quero dizer é que estou ingressando no meu último ano de mandato. Considero um ano importante para qualquer administração, quando chegar o final de março, começo de abril, vou me colocar.”
— O papel de Lula na campanha de São Paulo: “Ele terá o papel que ele desejar ter. Eu trabalhei muitos anos com o presidente Lula, conheci no trabalho. Eu gerenciei um orçamento de R$ 100 bilhões, que é mais de duas vezes o orçamento da cidade de São Paulo. Sou testemunha da postura republicana que o presidente Lula teve o tempo todo comigo à frente da Educação. Nunca recebi um telefonema para atender ninguém, nunca recebi um telefonema para indicar ninguém. Ou seja, o que ele esperava de mim era que eu criasse os programas que eu criei —o Prouni, o Sisu, o novo Enem, o novo Fies, o Fundeb, o piso do magistério. O que eu testemunhei foi o melhor governo dos últimos 50 anos, com os melhores resultados em termos de crescimento, combate à desigualdade, geração de emprego. Penso que estamos num momento em que estamos perdendo um patrimônio que não é dele, é nosso. Uma pessoa que sai de Garanhuns, num pau de arara, chega à Presidência da República, com os resultados que ele chegou… Acho que estamos perdendo isso. Mas acredito que isso será resgatado. O presidente Lula está submetido a essa saraivada de questionamentos, vai responder a todos, como sempre fez. Todas as acusações do mundo já foram feitas contra o presidente Lula em algum momento. E ele, ao seu tempo, respondeu a tudo com firmeza.”
— Lula não deve explicações à sociedade? “O problema da política é que o ônus da prova é teu. Uma pessoa fala: ‘você é dono deste imóvel’. Você fala: ‘eu não sou dono deste imóvel.’ E você é que tem que provar que não é dono. Ah, mas você frequenta! Frequento, mas não sou o dono do imóvel. [o repórter recorda ao prefeito que o principal problema foram as obras realizadas no tríplex do Guarujá e no sítio de Atibaia por empreiteiras pilhadas na Lava Jato] Sim, mas se o imóvel não é dele. […] Estão lá. Ele está dizendo que não é dono. Está se dispondo a comparecer aonde for chamado, para dizer e reafirmar que não é dono. Se os donos estão dizendo que eles é que são donos… Enfim, o que eu tenho certeza é que o presidente Lula, como em outras ocasiões, nunca se furtou a dizer o seu posicionamento em relação ao que quer que fosse e se defender, e superar as dificuldades que enfrentou. Essa vai ser mais uma delas.”
— O nome do PT para 2018 será o Lula? “Acredito que sim, sinceramente. O Lula é uma aroeira de força. Acho que o que estão fazendo com ele vai estimulá-lo a se candidatar. O Lula tem uma maneira muito própria de reagir às agressões que ele costuma sofrer na vida. Na minha opinião ele está sendo muito agredido e saberá reagir à altura, retomando um projeto no qual ele acredita. Acho que ele é o grande nome para 2018.”
— Desconexão entre Executivo e Legislativo: “Aconteceu uma coisa em 2014 muito estranha. A presidenta Dilma ganhou, foi reeleita, mas o Congresso Nacional é um Congresso diferente do anterior. É um Congresso que é mais reflexo dos movimentos de 2013 do que um Congresso que representa a reeleição. Tem uma contradição entre o Legislativo e o Executivo hoje, em termos de representatividade. A eleição presidencial foi muito apertada —52% a 49%. No Congresso, foi o contrário. Na verdade, a oposição ganhou por 52% a 48%, talvez até 55% a 45%. Existe hoje uma contradição entre o Executivo e o Legislativo, que tem como fundamento o voto. O Executivo atua sob condições políticas muito adversas.”
— Arrepende-se da foto que tirou em 2012 ao lado de Maluf? “Eu prefiro ter pecado pela transparência do que o contrário. Esses acordos são feitos em geral na calada da noite. O meu principal adversário, José Serra, esteve na casa do Maluf. Mas esteve à noite —dez, onze horas da noite. Obviamente que não foi por causa do relógio biológico dele. Ele foi lá para não ser visto. Eu prefiro agir diferente, pagando um preço político por isso. O que eu tinha dito em 2012? Que eu ia aceitar o apoio de todos os partidos que compusessem a base de apoio do governo federal. Recebi um telefonema do então ministro do PP, Agnaldo Ribeiro [Cidades], dizendo: ‘se é verdade o que você está dizendo nos jornais, o PP quer dialogar com você. E o presidente do PP local era o Maluf. Então, era incontornável. Hoje, o Maluf não está mais no comando do PP. Hoje são outras figuras, mas continua sendo o PP. Tem figuras do PP sendo investigadas [na Lava Jato], assim como tem figuras do PT sendo investigadas, tem figuras do PMDB sendo investigadas, e até do PSDB. O que não podemos é colocar a perder uma instituição em função do comportamento de uma pessoa.”
— A repatriação do dinheiro desviado sob Maluf: “Repatriei os recursos que foram desviados. Vamos ter mais R$ 88 milhões repatriados de dois bancos que fizeram acordo. Nós desbaratamos a maior máfia já encontrada aqui na máquina pública paulistana, a máfia do ISS. Operou no alto escalão da Secretaria de Finanças durante seis ou sete anos. Ordem de grandeza de desvios: meio bilhão de reais. Botamos para fora a Controlar, que era um contrato esquisitíssimo. Fizemos todo o trabalho de saneamento. Enfrentamos máfia em serviço funerário, máfia na feira da madrugada. Criei uma controladoria, que é uma secretaria de combate à corrupção, com mandato para agir sem autorização minha. É o único secretário que pode fazer o que quiser sem me pedir autorização, por lei. Essas são providências que me fazem dormir tranquilo. Agimos corretamente e criamos os mecanismos para que ninguém aja errado. Pode acontecer de alguém agir errado? Pode. Mas você preveniu. Ah, escapou um gol. Mas quantas defesas você fez? Mas temos que respeitar algumas figuras. Tenho que estar preparado para defender pessoas inclusive da oposição.”
— Celso Russomano preocupa mais do que Marta Suplicy: “Acho que Marta vai ser candidata. Russomano também vai ser candidato. O PSDB tem prévias marcadas para os próximos dias. Marco Feliciano parece que vai ser candidato. Então, nós teremos João Dória (PSDB), Russomano (PRB), Marta (PMDB), Feliciano (PSC). Acho que vai ser esse o quadro. [o repórter pergunta: acha que Marta será a principal antagonista?] Acho que não. O Russomano tem estado à frente nas pesquisas e deve liderar no começo da disputa.''
— A amizade com FHC: “A política não é guerra. Ou pelo menos não deveria ser. Política é um embate de ideias. Eu divirjo de muitas coisas que o Alckmin faz. Ele provavelmente diverge de muitas coisas que eu faço. Mas nós mantemos uma relação institucional a mais profícua. É possivel, dentro das nossas diferenças, construir uma agenda comum. […] Fernando Henrique é decano do meu departamento. É professor emérito do departamento onde eu dou aula. Sou professor no mesmo departamento da USP que ele. Temos dezenas de amigos em comum. Alguns desses amigos nos aproximaram, sem nenhuma intenção política. É um intelectual, teve projeção na academia internacionalmente. É uma pessoa que tem bons livros, livros que eu li. Ajudaram na minha formação. Tenho certeza que ele tem também respeito intelectual por mim. Já jantamos juntos. Já nos encontramos no Institiuto FHC, fiz questão de visitá-lo quando mudei pra cá, por assim dizer. Ele é praticamente vizinho da prefeitura. Não tem cabimento esse tipo de hostilidade pessoal. Quando eu era doutorando e ele já era presidente, escrevi artigos críticos à gestão do presidente Fernando Henrique. E ele nunca levou para o lado pessoal, porque nunca foi uma crítica pessoal. Foram críticas econômicas ou filosóficas. Sempre construtivas, no sentido de demarcar campos para buscar sínteses, buscar superações.”
— Em que o PT errou? “Minha opinião é de que foi feito um bom trabalho junto aos órgãos de controle no que diz respeito à administração direta no governo federal. Se você pegar o que os governos do PT fizeram em relação à Controladoria-Geral da União, à independência da Polícia Federal, à autonomia do Ministério Público, que nunca foi independente no nosso país, as pessoas tiravam o nome do procurador-geral da algibeira. Nunca mais isso aconteceu desde 2003. O que deu errado, então? Acredito que essa mesma dinâmica, que afetou muito positivamente a administração direta deveria ter sido levada para as estatais. As estatais não ficaram sob o mesmo regime. O grande desafio é levar esse acúmulo, que não é pequeno e não começou com o PT, mas foi muito fortalecido pelo PT, levar isso para os outros âmbitos da administração pública.”
— Petrobras: “A história da Petrobras é mais longa do que a gente imagina. Os indícios são de que a operação na Petrobras é problemática há bastante tempo. E não é uma curiosidade que tenha membros da carreira como sustentáculos dessas operações. Algumas pessoas do topo da carreira, muito respeitadas, muito prestigiadas tecnicamente em muitos governos. As pessoas às vezes esquecem, mas Delcídio Amaral foi diretor da Petrobras no governo Fernando Henrique. Não estou fazendo nenhum pré-julgamento. Só estou querendo dizer que tem uma história ali que ainda está para ser contada. Mas entendendo que o cuidado nas estatais com o controle não foi tanto quanto aconteceu nos ministérios.”
— Dilma não sabia? “Vou te dizer uma coisa. Duvido que qualquer presidente de Conselho de Administração consiga saber de irregularidades pela leitura de um edital, que ele não lê, porque são volumes e volumes de documentos. Imagina o que é licitar uma sonda, os volumes sobre o assunto. Não lê. Quem lê são os técnicos, o Tribunal de Contas. Você imaginar que por trás daquele edital tem um conluio, um cartel de empresas, é muito difícil a partir da leitura de um edital depreender isso. Essas empresas têm uma inteligência própria também. Estão aí há 50 anos operando, imagina o domínio que elas têm da base do serviço público ligada à área de licitação. Para desconstruir isso tudo não é uma tarefa qualquer. Veja esse cartel da merenda [flagrado em São Paulo]. Acha que o governador está minimamente envolvido com uma coisas dessas? Garanto para você que não. O governador saber que tem um conluio de merendas? Ele é do PSDB e eu te digo: ele não tem a menor ideia do que está acontecendo. E olha que a distância que separa ele de uma compra de merenda é muito menor do que a de uma sonda da Petrobras.”
Fonte: Uol, 21/02/2016