Ex-presidente afirma que país está passando por desmonte de políticas sociais e que ainda espera que se apresente uma prova de qualquer irregularidade que ela possa ter cometido
“Este país está desgovernado. Esse país não precisa ter alguém ocupando o cargo indevidamente, alguém que não tem popularidade, mas diz que tem voto no Congresso. Precisa de eleições diretas, não esperar até 2018. Porque a fome tem pressa, o desempregado tem pressa".
Assim discursou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na noite desta segunda-feira (24), durante seminário organizado pela Fundação Perseu Abramo em Brasília. Em sua fala, Lula abordou assuntos como eleições, reformas trabalhista e da Previdência, desafios do país e o processo em que é acusado em Curitiba, no âmbito da Operação Lava Jato.
Ele disse estar "ansioso" para depor ao juiz Sérgio Moro, que julga os processos de primeira instância da Lava Jato.
"Eu estou ansioso para o depoimento ao Sérgio Moro. É meu direito de poder falar. Não estou preocupado com a data, isso é com o juiz".
Lula se referia à informação divulgada nesta segunda de que a Justiça estaria estudando uma possível mudança na data da oitiva de Lula. O ex-presidente disse que não teme depor nem qualquer investigação que possa ser feita sobre suas condutas e patrimônio. "Entre todos, do Poder Judiciário, do Ministério Público e da imprensa, quem mais deseja a verdade sou eu".
A respeito do depoimento do ex-executivo da OAS Léo Pinheiro ao juiz Moro (em que ele afirma que o triplex do Guarujá pertence ao ex-presidente, contrariando as 73 testemunhas ouvidas no processo), ele disse: “Eu vi agora a pressão que fizeram com o Léo Pinheiro. Um cara que já está condenado a 26 anos. Nessa situação, ele falaria até da mãe", disse.
Mas, além dos depoimentos, Lula cobrou fatos concretos que possam incriminá-lo de qualquer coisa: "Eu acho que está chegando a hora de parar de falatório e mostrar a prova. Eu quero que eles mostrem um real numa conta minha que seja propina. Não precisa ser 100 milhões, basta um real", completou.
Em outro momento, Lula criticou um relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional) que defendeu as reformas do governo Temer, especialmente a da Previdência, como essenciais para a retomada do crescimento da economia. "O FMI não tem autoridade moral para dar nenhum palpite sobre o que nós devemos e queremos fazer da nossa economia", disse Lula. "Nós sabemos tomar conta do nosso nariz".
Falando a respeito do papel que parte da imprensa está se prestando neste momento, o ex-presidente pontuou que é vítima de uma perseguição injusta e baseada em mentiras, mantida em ação 24 horas por dia. Mas que, agora, após anos fazendo acusações que não encontram provas para serem respaldadas, os meios de comunicação enfrentam uma situação difícil: "Se não sabem lidar com as mentiras que eles inventarem, eu não posso fazer nada. "Está chegando a hora de parar de falatório e provar. A prova em cima do papel. Quero que mostrem uma conta, um desvio de conduta meu", afirmou.
Para recolocar o país na rota em que já esteve, de crescimento e redução da desigualdade, afirmou Lula, será preciso fazer uma campanha que viaje ao país deixando claro alguns fatos importantes, como a necessidade de se regulamentar a atividade dos meios de comunicação no país e de se reverter o desmonte das estruturas de educação pública e ciência e tecnologia que foram criadas. Tudo isso para que seja eleito um Congresso Nacional que seja compatível com um projeto de retomada da trajetória de crescimento que o país viveu até meados de 2012.