sexta-feira, 10 de maio de 2024

Investimentos em prevenção de desastres no Brasil caíram drasticamente após o golpe contra Dilma, em 2016

BRASIL

Em 2013, a verba destinada à prevenção somava R$ 6,81 bilhões. Durante os quatro anos da gestão Bolsonaro, o total de investimentos não passou de R$ 6,37 bilhões

Brasil 247, 10 de maio de 2024, 10:01 h

Enchente no Rio Grande do Sul (Foto: Reuters/Amanda Perobelli)

Um levantamento realizado pela ONG Contas Abertas revela uma queda acentuada nos investimentos federais em prevenção de desastres naturais no Brasil, especialmente após o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016. Segundo os dados obtidos pelo jornal Estado de S. Paulo, os gastos nessa área diminuíram a partir de 2015 e despencaram durante o governo Jair Bolsonaro (PL). A queda foi de 78,4%, passando de R$ 6,8 bilhões para R$ 1,47 bilhão entre os anos de 2013 e 2023.

Em 2017, durante a gestão Michel Temer (MDB), o montante para prevenção de desastres foi de R$ 2,8 bilhões. No seu último ano de governo, Temer deixou R$ 1,5 bilhão destinado a este fim.

Durante os quatro anos da gestão Bolsonaro, de 2019 a 2022, o governo federal destinou apenas R$ 6,37 bilhões para esse fim, valor inferior ao investido em 2013, quando foram aplicados R$ 6,81 bilhões. 2013, sob a presidência de Dilma Rousseff, foi o ano com maiores investimentos nessa área desde 2010, segundo os dados da Contas Abertas.

No primeiro ano da gestão Lula (PT), em 2023, houve um aumento de quase 7% em comparação a 2022, mas ainda abaixo dos valores registrados uma década atrás. Em 2023, os recursos destinados à prevenção de desastres somavam R$ 1,47 bilhão.

Para 2024, as rubricas analisadas pela Contas Abertas têm limite autorizado de R$ 2,6 bilhões, mas o presidente Lula anunciou na última quarta-feira (8) mais R$ 1,7 bilhão para prevenção de desastres no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Os investimentos incluem obras de contenção de encostas em 91 municípios.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Deputado do PL que chama o aquecimento global de "farsa" agora lamenta enchentes no Rio Grande do Sul

Para Giovanni Cherini, o aquecimento global e as mudanças climáticas são "uma grande farsa inventada no mundo"

Brasil 247, 09 de maio de 2024, 07:03 h

Giovanni Cherini (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)

O deputado federal Giovanni Cherini (PL-RS) tem causado polêmica com suas declarações sobre a recente enchente no Rio Grande do Sul. Enquanto muitos especialistas apontam a tragédia como uma manifestação das mudanças climáticas provocadas pela ação humana, Cherini insiste em afirmar que não há relação com o aquecimento global, relata a Folha de S. Paulo.

Em declarações recentes, o deputado, que é presidente do PL no estado, tem usado o plenário da Câmara dos Deputados para combater o que chama de "grande farsa" do aquecimento global. Ele sustenta sua posição mesmo diante da tragédia no Rio Grande do Sul.

Cherini argumenta que um indício de que não há relação com o aquecimento global é o fato de uma grande enchente ter ocorrido em Porto Alegre em 1941. "Você tem certeza que é efeito estufa e aquecimento global? Se em 1941 aconteceu algo igual?", questiona o deputado.

Suas declarações vão contra o consenso científico sobre o aquecimento global, fenômeno amplamente aceito pela comunidade científica. Na Câmara dos Deputados, Cherini já fez inúmeros discursos contra o aquecimento global, chamando-o de "uma grande farsa inventada no mundo".

A mídia é a alma do fascismo no Brasil

"Meios de comunicação vivem para nutrir o ódio, a estupidez, a falta de caráter com desinformação e estigmas", diz Tiago Barbosa

Brasil 247, 09 de maio de 2024, 02:20 h

Márcia Dantas, do SBT (Foto: Reprodução)

Momentos de crise humanitária têm o condão de trazer à superfície as vísceras de atores sociais - e tanto virtude como podridão ficam impossíveis de disfarçar.

O que a mídia corporativa tem feito sob o caos no RS exala a degradação moral, ética, profissional e humana maquiada durante nos estertores da era bolsonaro.

Em poucas horas, a Folha acusou Lula de errar, demorar, o governo de mentir e entornou o caldo de fakes fabricadas por fascistas para agravar a calamidade.

O Globo endossou a patranha, ignorou desmentidos e legitimou a falsificação – o SBT embarcou na lorota de bloqueio a doações – hipótese por si só indigente.

Em um país com nível razoável de base humanitária e princípios civilizatórios, a mídia seria o espaço de serenidade para organizar dados e ajudar quem precisa.

Seria o ambiente de reflexão para saídas e políticas, denunciaria a mentira, ficaria ao lado da vida, dos flagelados, cobraria responsabilidades e conscientizaria.

Mas a conjectura é um delírio no Brasil onde a mídia é a alma do fascismo e vive para nutrir o ódio, a estupidez, a falta de caráter com desinformação e estigmas.

O fundo do poço da nossa desolação é um abismo porque quem devia ser pilar de bom senso e razão é cão de guarda do extremismo, da injustiça, da morte.

O país poderia ver no cuidado de Lula o contraste com a necropolítica dos anos recentes e semear a solidariedade como ponte a uma civilização menos cruel.

Mas os vermes parasitam a morte.

Indicados por Bolsonaro se apoiaram em boatos para cortar a Selic em apenas 0,25, diz economista

Economia

Segundo André Roncaglia, racha no Copom indica aumento de volatilidade impulsionado pelo mercado diante do processo de sucessão de Campos Neto

Brasil 247, 09 de maio de 2024, 08:19 h

André Roncaglia (Foto: Reprodução / Youtube)

Carta Capital - Os diretores do Comitê de Política Monetária do Banco Central indicados por Jair Bolsonaro (PL) votaram com base em barcos para reduzir a taxa básica de juros em apenas 0,25 ponto percentual, enquanto os nomeados pelo presidente Lula (PT) se apoiaram nos fatos para tentar cortar a Selic em 0,50. A avaliação é de André Roncaglia , doutor em Economia do Desenvolvimento pela FEA-USP e professor da Unifesp.

Escolhidos por Bolsonaro, votaram pela queda conservadora o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto , e os diretores Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes

Erika Hilton: "RS vive uma catástrofe e deputados da direita estão lá nos EUA pedindo sanções ao Brasil"

Patriotismo

"O 'motivo'? Aquela palhaçada de sempre contra Alexandre de Moraes, e à favor da liberdade pra criminosos", diz ela

Brasil 247, 09 de maio de 2024, 04:19 h

Deputada Erika Hilton (Foto: André Bueno / Rede Câmara)

"Enquanto o Rio Grande do Sul passa por uma catástrofe climática sem nenhum precedente, há notícias de que parlamentares de parte da direita estão nos EUA pedindo que o Brasil sofra sanções econômicas. Isso me revolta e envergonha profundamente. Há pessoas mortas embaixo da água cujo corpo só será descoberto daqui alguns dias. Há crianças sem pai e mães sem filhos. Há gente com fome, sem água, energia e sem casa. Tudo isso aqui no Brasil mesmo. Em um Estado da Federação que esse bolsonarismo abandonou em troca das migalhas de atenção de seus pares estadunidenses. O "motivo"? Aquela palhaçada de sempre contra Alexandre de Moraes, e à favor da liberdade pra criminosos golpistas e o direito de espalhar fake news. Não que, em algum momento, eles tenham precisado de "motivos" pra tentar prejudicar nossa nação", denunciou em suas redes a deputada federal Erika Hilton.

Saiba mais - A deputada dos Estados Unidos Susan Wild, do partido Democrata, criticou duramente a audiência pública que o Congresso de seu país realiza sobre a democracia brasileira nesta terça-feira (7), com a presença de diversos parlamentares bolsonaristas.

Wild afirmou que a democracia brasileira é "forte e vibrante" e que, "como todas as democracias, há debates saudáveis a serem travados sobre aspectos das instituições do país". No entanto, ela destaca: "polícia interna e debates sobre questões constitucionais e jurídicas devem ser decididas pelo povo brasileiro. O Congresso dos Estados Unidos não é o fórum para isso".

A audiência, impulsionada por bolsonaristas, tem por objetivo pressionar a Organização dos Estados Americanos (OEA) a tomar medidas para supostamente proteger a liberdade de expressão no Brasil, que estaria sendo vilipendiada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e pelo governo Lula (PT).

Governo Lula desmente fake news gravíssima da Folha de S. Paulo em plena tragédia no Rio Grande do Sul

Mídias

Jornal mentiu ao acusar o governo federal de rejeitar ajuda do Uruguai

Brasil 247, 09 de maio de 2024, 02:14 h

Ministro Paulo Pimenta (Secom) aterrissou neste sábado no Rio Grande do Sul para ajudar na coordenação do trabalho de auxílio humanitário (Foto: Lucas Leffa / Secom / PR)

A Folha de S. Paulo disseminou uma gravíssima fake news na noite de ontem, ao acusar o governo de Lula de mentir sobre uma proposta de ajuda do governo uruguaio. Ao contrário do que foi dito pelo jornal paulista, o governo brasileiro recebeu a ajuda uruguaia e agradeceu pelo apoio. Leia, abaixo, a nota da Secom:

Nota Secom – Em texto publicado na noite desta quarta-feira (8), sem ouvir nenhum representante do governo, o jornal Folha de S.Paulo faz uma acusação grave. Afirmou que o "governo mente ao afirmar que não dispensou oferta de ajuda do Uruguai ao RS".

Para sustentar essa afirmação, o jornal compara uma nota da assessoria de comunicação do Ministério Defesa com uma nota da Secom sobre o mesmo tema como se fossem contraditórias. Não são.

A nota do Ministério da Defesa afirma que "o Comando Militar conjunto declinou da oferta da aeronave [do Uruguai] por restrições de pistas disponíveis para pouso em Porto Alegre".

A segunda nota, elaborada para combater uma avalanche de fake news em torno do assunto (como a de que o governo estaria recusando ajuda do Uruguai por motivações ideológicas), informa que o Brasil não recusou ajuda do Uruguai, cita um helicóptero cedido pelo país vizinho já em operação, mostra a imagem dessa aeronave gentilmente emprestada e explica que, no caso do avião, constatou-se inadequação do equipamento para o tipo de operação exigida no Rio Grande do Sul nesse momento.

Qual é a mentira? Qual é a contradição? Inexiste.

Caos no Sul: 68% consideram o governo Eduardo Leite culpado pela crise

Politica

Governo conduzido pelo PSDB fragilizou as normais ambientais do Rio Grande do Sul

Brasil 247, 09 de maio de 2024, 01:58 h

Eduardo Leite (Foto: Maurício Tonetto/Secom)

A pesquisa Quaest, cujos resultados foram divulgados nesta quinta-feira (9), aponta como o público percebe a responsabilidade do governo do Rio Grande do Sul, conduzido pelo tucano Eduardo Leite, diante da tragédia das chuvas no estado. Conforme os dados coletados pela Genial Investimentos entre os dias 2 e 6 de maio, 68% dos entrevistados acreditam que o governo estadual tem uma parcela significativa de responsabilidade no desastre. O estudo abrangeu 2.045 pessoas em 120 municípios e possui uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Por outro lado, apenas 20% dos entrevistados consideram que o governo do estado tem uma responsabilidade reduzida no evento catastrófico, enquanto 12% acreditam que ele não tem qualquer responsabilidade. A pesquisa também avaliou a percepção em relação ao governo federal e às prefeituras, revelando que uma parcela considerável da população atribui responsabilidade às autoridades em todos os níveis.

Os resultados também destacam que, segundo 70% dos entrevistados, investimentos em infraestrutura poderiam ter contribuído para evitar a tragédia, enquanto 30% acreditam que o evento era inevitável. Além disso, a pesquisa questionou como as pessoas avaliam a atuação das autoridades durante a tragédia, com 54% considerando positiva a atuação do governo do RS, 53% avaliando de forma positiva o governo federal e 59% a prefeitura de Porto Alegre. Os percentuais restantes indicam avaliações regulares ou negativas das atuações governamentais.

Eduardo Leite, governador, PSDB/RS, flexibilizou 480 normas ambientais do Rio Grande do Sul antes da tragédia

MEIO AMBIENTE

Governador tucano seguiu a política da era Bolsonaro de "passar a boiada" na questão ambiental e fez várias mudanças em seu primeiro ano de mandato

Brasil 247, 09 de maio de 2024, 02:06 h
Eduardo Leite (Foto: Reprodução/PSDB)

Durante seu primeiro ano de mandato em 2019, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), realizou alterações significativas em torno de 480 normas do Código Ambiental do estado. Essas mudanças foram oficializadas no ano seguinte, em 2020, e coincidiram com uma fase de flexibilização da política ambiental brasileira, impulsionada pelo então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no governo Bolsonaro, segundo aponta reportagem do jornalista Jorge Abreu, da Folha de S. Paulo.

Os recentes eventos de enchentes no estado desencadearam críticas por parte de ambientalistas à gestão de Eduardo Leite. Eles apontam o governador como o principal articulador, ao lado da Assembleia Legislativa, de um processo que eles caracterizam como desmonte das leis de proteção ambiental estaduais.

Em resposta às críticas, o governo do Rio Grande do Sul afirmou que as alterações no código ambiental foram fruto de discussões que envolveram diversos setores da sociedade, incluindo a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Segundo o governo, as mudanças visaram alinhar a legislação estadual com as normas federais, além de modernizá-la para atender às transformações sociais e garantir a proteção ambiental, a segurança jurídica e o desenvolvimento responsável.

Especialistas negam participação da sociedade nas mudanças

Entretanto, o diretor científico e técnico da Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural), Francisco Milanez, nega a participação efetiva da sociedade civil e das entidades ambientalistas na construção do novo código. Ele ressalta que as mudanças foram realizadas de forma unilateral, lideradas pelo governador Leite.

Milanez destaca também outras medidas tomadas pelo governo que suscitaram críticas, como a flexibilização da construção de barragens e reservatórios de água em áreas de proteção permanente. Segundo ele, essa medida pode ter sérias consequências, afetando o fluxo natural da água e contribuindo para o aumento das enchentes e chuvas concentradas.

Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, uma rede de mais de cem organizações socioambientais, amplia o escopo da crítica ao destacar o papel do Congresso Nacional no enfraquecimento das políticas ambientais. Ele menciona projetos de lei aprovados recentemente que flexibilizam regras de proteção ambiental, como a dispensa de licenciamento ambiental para diversas atividades.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Quaest: 50% aprovam o trabalho de Lula; presidente melhora entre evangélicos e na região Sul

A aprovação de Lula entre os evangélicos aumentou de 35% para 39% em dois meses. Na região Sul, houve um aumento de sete pontos percentuais na avaliação positiva do presidente

Brasil 247, 08 de maio de 2024, 07:13 h

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Reuters/Adriano Machado)

Pesquisa realizada pela Quaest e divulgada nesta quarta-feira (8) pelo g1 aponta que 50% dos brasileiros aprovam o trabalho do presidente Lula (PT), enquanto 47% desaprovam, configurando um empate técnico entre os dois grupos. Essa é a primeira vez que a aprovação e a desaprovação do presidente se equiparam desde o início de seu mandato.

Os dados indicam uma oscilação mínima em comparação com a última pesquisa, realizada em março. Na ocasião, 51% dos entrevistados aprovavam o trabalho de Lula, enquanto 46% desaprovavam. Para Felipe Nunes, diretor da Quaest, a estabilização dos números reflete uma interrupção na queda da aprovação, principalmente devido à cessação da deterioração da imagem de Lula no Sul do país e entre os evangélicos. Nunes observou que ainda persiste uma percepção negativa em relação à economia, com muitas pessoas sentindo que Lula não estaria cumprindo suas promessas.

Entre os evangélicos, grupo no qual Lula registrou anteriormente uma alta taxa de desaprovação, houve uma redução significativa, com 58% agora desaprovando seu trabalho, em comparação com os 62% registrados em março. A aprovação nesse grupo aumentou de 35% para 39% no mesmo período, indicando uma mudança de percepção. Na região Sul, houve um aumento de sete pontos percentuais na avaliação positiva do presidente, passando de 40% para 47%, enquanto a rejeição diminuiu de 57% para 52%.

A pesquisa também abordou a avaliação geral do governo Lula, revelando que 33% dos entrevistados a consideram positiva, mesma proporção dos que a avaliam de forma negativa. Os que consideram o governo regular aumentaram de 28% para 31%. Quanto à direção do país, 49% acreditam que está errada, enquanto 41% a consideram correta.

Sobre as intenções de Lula, 51% dos entrevistados acreditam que o presidente é bem-intencionado, enquanto 42% discordam dessa afirmação. Quanto ao cumprimento das promessas de campanha, a maioria (63%) acredita que Lula não tem conseguido cumpri-las. Quando questionados sobre para quem o governo Lula trabalha, 52% acreditam que atende às necessidades de todos.

Em relação à economia, 38% dos entrevistados acreditam que piorou nos últimos 12 meses, enquanto 27% consideram que melhorou. Para os próximos 12 meses, 48% têm expectativa de melhora na economia.

A pesquisa, encomendada pela Genial Investimentos, ouviu 2.045 pessoas em 120 municípios entre os dias 2 e 6 de maio, com uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

RS: Onda negacionista acusa governos de não atuar e até de impedir resgates

Reportagem

Carlos MadeiroColunista do UOL/08/05/2024 04h00/Atualizada em 08/05/2024 07h40, 00:14 / 00:15

"A PM estava impedindo resgates no domingo." "O Exército está impedindo que as pessoas ajudem." "Estavam na ponte, acionei o quartel três dias e não fizeram nada."

Comentários como esses foram retirados das redes sociais e fazem parte de uma onda de discursos negacionistas na internet nos últimos dias, que alegam que o poder público não está atuando nos resgates de vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul e que até atrapalha quem tenta ajudar.

Apesar de a ajuda de voluntários anônimos no salvamento e com doações ser importante, diante do tamanho sem precedentes da tragédia, as forças estatais de todas as esferas, municipal, estadual e federal, têm atuado para salvar vidas.

Segundo balanço desta terça-feira (7) à noite, somente os trabalhos conjunto de Forças Armadas, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Brigada Militar, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e voluntários resgataram 50 mil pessoas no estado, onde 401 municípios sofrem as consequências das chuvas.

As forças de segurança estaduais, incluindo Brigada Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, mobilizaram mais de 2.000 servidores, atuando tanto na linha de frente quanto na retaguarda dos salvamentos nas regiões mais afetadas. E o governo federal tem cerca de 14,5 mil pessoas ajudando no estado, sendo 13,6 mil militares.

Seja por vídeos circulando no WhatsApp, comentários em redes sociais ou postagens, internautas têm "denunciado" em massa.

O principal painel desses comentários são as páginas de órgãos oficiais, em especial do Exército, onde há milhares de pessoas repetindo que "o povo está se salvando" e que a ajuda dada "foi de empresários, não do governo".

Nem mesmo imagens reais de resgates convencem internautas, que alegam incorretamente que os vídeos são falsos.

O que está por trás disso?

Para especialistas consultados pelo UOL, por trás desses comentários há uma máquina de fake news organizada e bem articulada na distribuição de desinformação.

A professora de jornalismo da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) e pesquisadora sobre desinformação no Analisa (Laboratório de Análise Discursiva de Fake News), Mércia Pimentel, acredita que esse novo negacionismo, que diz ver a falta de ação no Rio Grande do Sul, segue um princípio similar ao negacionismo climático, ao terraplanismo ou ao movimento antivacinação.

"Esses comentários aparentemente inofensivos são carregados de sentidos ideológicos, que reproduzem interesses de grupos de poder", diz

"Quando se diz que 'é o povo quem está se salvando', ao mesmo tempo em que se nega a ação do Estado, reproduz-se uma memória discursiva de que a solução está na iniciativa privada. Veladamente, discursos negacionistas têm como base teorias revisionistas e conspiratórias, bem como interesses políticos e/ou econômicos."
(Mércia Pimentel)

A pedido da coluna, ela analisou alguns conteúdos postados e apontou que há uma disseminação, em especial, de vídeos isolados de pessoas que foram salvas por forças não estatais. Com base em um exemplo, nasce a generalização, que vira uma fake news.

Nesse caso, são muitos vídeos com narrativa "rica em detalhes", diz a pesquisadora. "O sujeito se enquadra como porta-voz dos acontecimentos e esmiúça situações forjadas para envolver o público no que é dito."

"É o famoso 'eu estava lá e vi com meus próprios olhos!', o que faz as pessoas crerem que se trata do real. Pode haver uma base factual no que é dito, mas a narrativa resulta de manipulação." (Mércia Pimentel)

Para ela, parte do espalhamento dessa narrativa vem por meio de blogs e páginas de conteúdo opinativo financiados pela direta ou indiretamente por grupos interessados naquelas fake news, ou por meio de ferramentas de monetização de páginas como YouTube.

Para ela, parte do espalhamento dessa narrativa vem por meio de blogs e páginas de conteúdo opinativo financiados pela direta ou indiretamente por grupos interessados naquelas fake news, ou por meio de ferramentas de monetização de páginas como YouTube.

Veículo militar transporta desabrigados próximo ao aeroporto de Porto Alegre
Imagem: Reuters

Dois grupos comandam impulsionamento, diz professor

O professor da UFABC (Universidade Federal do ABC), pesquisador de redes digitais e sociólogo Sergio Amadeu afirma que esse tipo de desinformação parte de dois principais grupos: "os de extrema direita e os criminosos". Amadeu fez parte do primeiro governo Lula, quando presidiu o ITI (Instituto Nacional de Tecnologia da Informação), ligado à Casa Civil.

"Já há algum tempo, os grupos de extrema direita possuem líderes que atuam sempre que possível para desmoralizar cientistas, a imprensa e forças políticas democráticas. O padrão é inventar situações que confirmem sua doutrina".

Sergio Amadeu

Além do interesse político, ele cita que há "criminosos que desinformam para fraudar a solidariedade e desviar recursos das pessoas que queriam ajudar a população do Sul."

No caso da extrema direita, uma das estratégias, não só no Brasil, é tentar reduzir a importância de ações governamentais para inflar uma revolta e, assim, ampliar apoio de grupos opositores, afirma.

"Eles mentem e dizem que o helicóptero é de um empresário, e não de órgãos federais, por exemplo. Para isso, inventam situações, desvirtuam fatos, descontextualizam imagens. A ideia sempre será criar algo que confirme suas crenças reacionárias."
(Sergio Amadeu)

Militares e voluntários resgatam animais domésticos na enchente em Porto Alegre. @exercitooficial

Com a popularização da internet, esse conteúdo negacionista tem formas de encaminhamento rápido pelas redes sociais ou aplicativos de mensagem e acaba se generalizando em muitos grupos, criando uma desinformação coletiva.

É uma rede de desinformação distribuída que combina engajamento voluntário e assessores de políticos e empresários de extrema direita para inundar as redes e manter viva a sua crença. A estratégia é engajar cada vez mais, principalmente em um ano eleitoral

Sergio Amadeu

AGU e MJ vão agir

Em nota, o governo federal informou que a disseminação de fake news foi o primeiro assunto abordado ontem à tarde em reunião da Sala de Situação montada pelo governo federal, em Brasília.

"O comandante militar do Sul, General Hertz Pires do Nascimento, trouxe um relato sobre o impacto da propagação de notícias falsas nas operações de salvamento."

Nota do governo federal

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que a AGU (Advocacia Geral da União) e o Ministério da Justiça adotarão, em caráter de urgência, medidas para impedir que a disseminação de informação falsa comprometa o trabalho de salvar vidas.

"A AGU, em apoio à Secom, está atuando para identificar esses atores do ecossistema desinformacional. Vamos apresentar ações judiciais com um pedido de retirada de conteúdo, direito de resposta e indenização por dano moral e coletivo."
(Jorge Messias, advogado-geral da União)