sábado, 1 de maio de 2021

Ernesto Araújo diz que Bolsonaro virou governo sem alma, mas depois recua

Ex-ministro das Relações Exteriores se manifestou na rede social, no dia em que fracassaram os atos de apoio ao ocupante do Planalto

Brasil 247, 1/05/2021, 13:58 h Atualizado em 1/05/2021, 13:58
  Jair Bolsonaro e Ernesto Araújo (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo se manifestou no Twitter, para primeiro criticar Bolsonaro e, uma hora e meia depois, voltar à rede para dizer que ainda acredita no sonho do (ex?) chefe.

Disse ele:

Ao eleger o PR Bolsonaro, em 2018, o povo brasileiro ganhou a chance de transformar o Brasil, de uma cleptocracia numa verdadeira democracia. Chegamos a avançar. Mas, a partir de meados de 2020, a reação do sistema, cavalgando a pandemia, começou a desmantelar essa esperança.

Um governo popular, audaz e visionário foi-se transformando numa administração tecnocrática sem alma nem ideal. Penhoraram o coração do povo ao sistema. O projeto de construir uma grande nação minguou no projeto de construir uma base parlamentar.

Assisti a esse processo com angústia e inconformidade, e fiz o que pude, até onde pude, para preservar a visão original. Nisso estive quase sozinho. Vi confiscarem ao Presidente seu sonho, anularem suas convicções, abafarem sua chama. (Não deixei que abafassem a minha.)

Leilões, privatizações, reformas tributária e administrativa? Se não for combatida a essência do sistema, estas serão reformas “Gattopardo”: mudanças para que tudo permaneça igual. Nenhuma “articulação política” vai mudar o Brasil. Somente a pressão popular.

Hoje o povo brasileiro tem a oportunidade de recuperar sua esperança, ao pedir ao PR Bolsonaro simplesmente que ele volte a ser o Presidente eleito em 2018, aquele que prometeu derrotar o sistema, o líder de uma transformação histórica e constitucional, o portador de uma missão.

Muitos desprezam o sonho do PR de mudar o Brasil. Eu, ao contrário, sempre acreditei, sempre estive e estarei com ele no seu amor pela liberdade e sua luta para libertar o povo de um sistema opressor. Com o apoio popular estou certo de que ele terá a força necessária para vencer.

O problema para ele é que as manifestações de apoio a Bolsonaro fracassaram, como mostrou o jornalista Guga Noblat.

"Viúvas da ditadura em ação na Paulista. Dá quase dois times de futebol de salão”, disse ele, com a foto que mostrava meia dúzia de gente na Paulista pedindo para Bolsoanaro “usar a caneta”.Ato na Paulista neste Dia do Trabalhador (Foto: Twitter de Guga Noblat)(Photo: Ato na Paulista neste Dia do Trabalhador (Foto: Twitter de Guga Noblat))Ato na Paulista 
neste Dia do Trabalhador (Foto: Twitter de Guga Noblat)

É enganoso post de Carlos Bolsonaro que acusa Dino de defender cloroquina


            O vereador Carlos Bolsonaro e o governador do Maranhão, Flávio Dino  
Imagem: Divulgação e Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Do UOL, em São Paulo* 
01/05/2021 04h00

É enganoso um tuíte de Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República e vereador pelo Rio de Janeiro, afirmando que o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), é defensor da hidroxicloroquina no tratamento contra a covid-19. Na postagem, Carlos usa um trecho editado de uma fala de Dino para argumentar que ele teria "posicionamento favorável quanto à hidroxicloroquina".

O Comprova encontrou a íntegra da declaração do governador do Maranhão, feita em maio de 2020, e verificou que Dino, na ocasião, defendia que os médicos tivessem liberdade para ministrar medicamentos para o tratamento da doença, inclusive a hidroxicloroquina, se fosse o caso.

No tuíte verificado, do dia 22 de abril deste ano, Carlos Bolsonaro indaga se a CPI da Covid, instaurada no Senado, vai investigar Flávio Dino. "Mais uma questão: será que a CPI do Covid investigará o governador Dino (PCdoB/MA) sobre o posicionamento favorável quanto à hidroxicloroquina? Esse tipo de questão não é mostrado por ai", questiona o vereador.

A fala do vereador se refere ao fato de que os incentivos de Jair Bolsonaro e de seu governo ao uso da hidroxicloroquina e da cloroquina, substâncias cuja ineficácia contra a covid-19 já foi comprovada serão investigados pelos senadores.

A fala de Flávio Dino destacada por Carlos Bolsonaro é um trecho de uma entrevista concedida pelo governador do Maranhão ao jornal JMTV 2ª Edição, da TV Mirante, afiliada à TV Globo, em maio de 2020. No tuíte de Carlos Bolsonaro, além de a fala não aparecer na íntegra, não consta a data em que a entrevista foi gravada.

Como verificamos?

O Comprova buscou o Governo do Maranhão por e-mail para tentar esclarecer qual é - e qual já foi - o posicionamento de Dino e da administração estadual em relação aos medicamentos no contexto do enfrentamento à covid-19. Os endereços do gabinete do governador e da Secretaria de Estado da Comunicação Social (Secom) foram acionados por esta reportagem.

A íntegra da entrevista de Dino ao JMTV 2ª Edição foi encontrada no site Globoplay, o serviço de streaming da Rede Globo.

Também procuramos o gabinete do vereador Carlos Bolsonaro para esclarecer o teor do tuíte publicado por ele, mas não obtivemos resposta.

O Comprova fez esta verificação com base em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 30 de abril de 2021.

Verificação.

Em 19 de maio de 2020, ainda no início da pandemia, o programa "Bom Dia, Mirante" retransmitiu a entrevista de Flávio Dino concedida na noite anterior ao JMTV 2ª Edição, da mesma emissora. O apresentador do "Bom Dia Mirante", Soares Júnior, anuncia a reprodução da entrevista ocorrida um dia antes.

A data exata da entrevista de Dino ao JMTV 2ª Edição, portanto, é 18 de maio de 2020. No mesmo dia, o Maranhão contabilizava 72 casos suspeitos de covid-19, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde do estado (SES).

Na ocasião, estava em curso um debate a respeito da utilização da hidroxicloroquina como tratamento para a doença. O presidente Jair Bolsonaro insistia no uso do medicamento, posição que serviu como um dos motivadores para as demissões de dois ministros da Saúde - Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich - que deixaram a pasta em 16 de abril e 15 de maio, respectivamente.

Um dos temas da entrevista com Flávio Dino era a politização da cloroquina e da hidroxicloroquina. Dino disse ao JMTV 2ª Edição que a cloroquina poderia ser receitada no Estado.

"Nós sempre oferecemos aos médicos a oportunidade de receitar cloroquina, azitromicina, ivermectina, todos esses remédios, kóide-D, todos esses remédios que experimentalmente têm sido vistos por alguns profissionais como eficazes", afirmou.

O tuíte verificado aqui traz uma parte justamente desse trecho para afirmar que Dino é favorável à cloroquina. O tuíte omite, porém, o restante da fala do governador do Maranhão.

Na sequência da resposta, Dino afirma que "infelizmente eu não sou médico, quem decide qual o remédio que, concretamente, o médico vai dar para cada paciente" e completa afirmando: "Se o médico achar necessário administrar o medicamento, ele será administrado. Se o médico não considerar cabível, ou que há riscos para os pacientes, é claro que não serei eu nem nenhuma autoridade externa que vai influenciar no conteúdo do trabalho do médico".

A posição de Dino naquele momento era, portanto, de dar liberdade aos médicos para escolher o tratamento. Bolsonaro, por sua vez, defendia abertamente o uso da cloroquina, inclusive para pacientes com sintomas leves.

Em nota ao Comprova, a Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão confirmou que a hidroxicloroquina "foi utilizada em pacientes com covid-19 na rede estadual por decisão médica em ambiente hospitalar até o fim de maio de 2020." A SES também afirmou ter deixado sob critério dos médicos a recomendação a respeito do uso de medicamentos, inclusive ivermectina e cloroquina.

A reportagem do Comprova questionou se o posicionamento expressado no ano passado foi revisto pela gestão estadual. A SES afirmou que médicos infectologistas do Maranhão já "emitiram protocolo onde não recomenda o uso da cloroquina/hidroxicloroquina para tratamento dos casos da covid-19.".

De fato, uma "Diretriz de Atendimento" para pacientes com síndrome respiratória aguda infecciosa publicada em junho de 2020 mostra que neste momento o Governo do Maranhão já orientava contra a utilização da hidroxicloroquina.

O órgão destaca no documento que a hidroxicloroquina, ivermectina e outros medicamentos "não demonstraram benefício em pacientes internados, com aumento do risco de complicações cardiológicas".

Portanto, seu uso não é mais recomendado para o suposto "tratamento precoce" da covid-19. O suposto tratamento, advogado pelo governo de Jair Bolsonaro em diversas ocasiões, seria a causa de graves problemas no fígado em pacientes que o adotaram, alguns dos quais passaram a precisar de transplantes.

A terceira e mais recente edição da "Diretriz de Atendimento" é do dia 10 de fevereiro de 2021. Nela é possível notar que o Governo do Maranhão mantém seu posicionamento sobre o uso destes medicamentos. O documento afirma que "a utilização de qualquer outra terapia específica para SARS-CoV-2 (hidroxicloroquina, nitaxonizada, ivermectina e afins) só está indicada mediante estudo clínico devidamente comprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa".

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos compartilhados sobre a pandemia de covid-19 no Brasil que tenham muita viralização. Até sexta-feira 30, a postagem de Carlos Bolsonaro contabilizava 7.148 curtidas e 2.259 retuítes na rede social..

Desde que foi instaurada a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, Carlos Bolsonaro tem publicado posts contra governadores adversários do pai, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também foi criticado por Carlos Bolsonaro numa publicação do mesmo gênero. No Twitter, o filho do presidente afirmou que o tucano era defensor da cloroquina e da hidroxicloroquina no combate ao vírus, indagando se a CPI também iria inquiri-lo.

Cloroquina e hidroxicloroquina são drogas propagadas por grupos políticos como eficazes no tratamento da covid-19, a despeito de já terem sido rechaçadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que encerrou estudos com a cloroquina, e por outras autoridades sanitárias. Estes fármacos são parte de um receituário falsamente propagado como "tratamento precoce" para a infecção. O conceito inexiste na literatura científica.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

*O material foi produzido por O Estado de S. Paulo e O Povo, e revisado por UOL, Band e BandNews FM. Todos os veículos integram o Projeto Comprova.

sexta-feira, 30 de abril de 2021

Após isolamento, Araraquara tem queda de 62% no número de mortes por Covid-19 em abril

O prefeito da cidade, Edinho Silva (PT), fez do local um exemplo no combate à Covid-19 no Brasil. O número de óbitos saiu de 129 em março para 49 em abril

Brasil 247, 30/04/2021, 18:08 h Atualizado em 30/04/2021, 18:50
  Edinho Silva (Foto: Divulgação)

Araraquara, no interior de São Paulo, registrou em abril, segundo a Folha de S. Paulo, uma queda de 62% nos óbitos por Covid-19, na contramão do Brasil, que nesta quinta-feira (29) alcançou a triste marca de 400 mil mortos pela doença.

A cidade, governada pelo prefeito Edinho Silva (PT), tornou-se exemplo no país no que se refere ao combate ao coronavírus. As autoridades locais implantaram duras regras de isolamento social, suspendendo por vezes o funcionamento do transporte público e até mesmo de mercados.

Às 4h35 da manhã desta quinta-feira, Bolsonaro tentou afrontar o prefeito e publicou no Twitter um vídeo com um comboio partindo do Ceagesp, em São Paulo, rumo a Araraquara, levando alimentos às vítimas da política, segundo ele, do “fique em casa que a economia a gente vê depois”. Os números, porém, mostram a eficácia das políticas adotadas pelo petista.

Araraquara teve 92 mortes por Covid-19 em 2020, e, entre janeiro e fevereiro de 2021, teve 117 óbitos em decorrência da enfermidade. Somente em março foram 129 mortes. Em abril, após as medidas restritivas, o número de óbitos despencou para 49.

Também foi registrada queda no número de internações e novos casos da doença.

"Não há contradição entre Guedes e Bolsonaro. O liberalismo de um pede o autoritarismo de outro", diz Silvio Almeida

"Guedes e Bolsonaro personificam a versão brasileira do centauro do neoliberalismo, que é metade liberdade econômica para o andar de cima da pirâmide social e metade repressão e violência para o andar de baixo", explica o professor

Brasil 247, 30/04/2021, 05:30 h Atualizado em 30/04/2021, 05:42
  (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247)

O professor Silvio Almeida publica importante artigo nesta sexta-feira, em que explica por que a declaração estúpida de Paulo Guedes contrária à presença de filhos de porteiros nas universidades é compatível com o projeto autoritário de Jair Bolsonaro. "Nenhum outro ministro representa de forma tão essencial as forças políticas que levaram Jair Bolsonaro à Presidência da República", diz ele. "O presidente da República e o ministro da Economia são absolutamente complementares e encarnam, ainda que em corpos distintos, um só espírito. São, portanto, apenas aparentes as suas contradições."

Os dois, segundo o professor, representam o neoliberalismo autoritário, que esvazia a democracia. "Guedes e Bolsonaro personificam a versão brasileira do centauro do neoliberalismo, que é metade liberdade econômica para o andar de cima da pirâmide social e metade repressão e violência para o andar de baixo. De vez em quando somos forçados a lembrar que é um único ser, com os mesmos projetos e o mesmo negacionismo da realidade social. No fundo, quem quer a liberdade de Guedes pede por autoritarismo; quem quer o autoritarismo de Bolsonaro é porque demanda a liberdade de Guedes", afirma.

Senador Otto Alencar diz que recebeu ameaças até de igrejas evangélicas

O senador Otto Alencar (PSD-BA), titular da CPI da Covid, disse que passou a receber ameaças até de grupos evangélicos pelo seu papel na comissão

Brasil 247, 30/04/2021, 06:33 h Atualizado em 30/04/2021, 06:47
   Senador Otto Alencar (Foto: Ag.Senado)

O senador Otto Alencar (PSD-BA), titular da CPI da Covid, disse que passou a receber ameaças até de grupos evangélicos pelo seu papel na comissão. "Foram várias mensagens [com ameaças]. De homens, de mulheres, de jovens... Inclusive, alguns desses casos eram de igrejas evangélicas", contou.

Alencar citou uma mensagem enviada a partir de um número que seria da Igreja Batista Internacional Monte Sinai, em Minas Gerais. "[A mensagem era] de uma senhora, eu não tenho como publicar, era de uma agressividade, com palavras de baixo calão, coisas que não têm nenhum cabimento, até porque eu apenas iniciei a sessão preparatória para a escolha dos nomes". "Eram mensagens muito agressivas, ameaçadoras", disse.

O senador fazia referência à reunião que ele convocou, para a terça-feira passada (27), como sessão preparatória para decidir os nomes de presidente e vice-presidente da CPI da Covid, informa o UOL.

Reinaldo Azevedo: "Bolsonaro oferece 400 mil mortos ao lúmpen-milicianato"

Os, até agora, mais de 400 mil mortos são o grande legado de Bolsonaro ao lúmpen-milicianato, escreve Reinaldo Azevedo

Brasil 247, 30/04/2021, 04:37 h Atualizado em 30/04/2021, 04:37
  Ato da ONG Rio de Paz para lembrar as mortes pela Covid-19. 11/06/2020 
(Foto: REUTERS/Pilar Olivares)

 "A instalação da CPI da Covid mexe com os bofes de Jair Bolsonaro. Agride o seu senso de onipotência —injustificado segundo um crivo objetivo, mas compreensível se visto por lentes clínicas. O golpista de primeira hora, que nunca precisou de comissão de inquérito ou de oposição organizada para pregar o rompimento da ordem —como provam os atos antidemocráticos que patrocinou já em 2019—, não aceita que sua obra seja questionada. Os, até agora, mais de 400 mil mortos são o seu grande legado ao lúmpen-milicianato que o aplaude", escreve o jornalista Reinaldo Azevedo na Folha de S.Paulo.

"Ao não arredar um milímetro das posições as mais estúpidas e reacionárias, que muitos enxergam danosas e contraproducentes para seu próprio futuro político, Bolsonaro age com cálculo. Ele deu voz a esse público que existia nas sombras; que se esgueirava nos escuros da história; que se acoitava nos desvãos nunca visitados —não de modo suficiente ao menos— pela teoria política".

"Bolsonaro pode não saber exatamente o nome do que pratica —embora viva cercado de alguns que o sabem—, mas já percebeu ter um público cativo —em mais de um sentido. O que um olhar objetivo e crítico apontaria como um tiro no pé é precisamente a seiva, vertida como fel, que plasma em eleitorado os ódios que ele açula e alimenta. E, por essa razão, o presidente não desiste nem recua nunca".

Exclusivo: o dia em que Moro ouviu de procuradora dos EUA a orientação para fazer o povo brasileiro "detestar o rei"

Alta funcionária do Departamento de Justiça, Karine Moreno-Taxman organizou evento em que o juiz brasileiro foi treinado e realizou na Fiesp conferência pedida por ele e Fausto De Sanctis, relata Joaquim de Carvalho

Brasil 247, 29/04/2021, 17:30 h Atualizado em 29/04/2021, 23:02
Sergio Moro e Karine Moreno-Taxman (Foto: Moro e Karine Moreno-Taxman 
(Foto: revista Prisma))

Por Joaquim de Carvalho

Em novembro de 2009, a Associação dos Delegados da Polícia Federal realizou seu quarto congresso em Fortaleza, Ceará, para debater corrupção, impunidade e a segurança na Copa do Mundo.

O encontro acabou no centro de um escândalo seis anos depois, quando, a pedido das autoridades norte-americanas, policiais suíços prenderam dirigentes da Fifa, entre eles José Maria Marin.

É que a CBF, que Marin presidiu, havia arcado com quase 50% do patrocínio daquele encontro e a situação de conflito de interesse ficou evidente.

Se a PF investiga corrupção, como pode se vincular a uma entidade que estaria alguns anos depois no coração do escândalo?

A Associação dos Delegados emitiu nota para explicar que havia outros patrocinadores e que a entidade não tem acesso aos inquéritos da PF.

O escândalo maior, no entanto, passou despercebido.

O encontro reuniu dois personagens centrais em qualquer estudo ou investigação que se proponha a elucidar as relações espúrias da Lava Jato com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Por um lado, estava presente em Fortaleza a procuradora norte-americana Karine Moreno-Taxman. Por outro, o então jovem juiz Sergio Moro, de 37 anos de idade.

Com relativa notoriedade, em razão do caso Banestado, Moro foi o primeiro a falar, no painel Combate à Corrupção e ao Crime Organizado. Defendeu mudança na legislação e tentou desvincular a política da investigação sobre crimes contra a administração pública.

“A persecução e a investigação eficaz do crime de colarinho branco é imperativo dentro de um Estado Democrático de Direito. Não tem nada a ver com ideologia comunista, de esquerda ou de direita”, afirmou.

No painel seguinte, falou a representante do governo dos Estados Unidos, com Moro na plateia. Quem estava presente se recorda de que Karine Morena-Taxman falava um português correto, mas com sotaque, e deu uma orientação que, mais tarde, seria seguida à risca pela Lava Jato.

Ela sugeriu que as autoridades brasileiras mantivessem um sistema informal de colaboração com autoridades de seu país. Segundo ela, o sistema formal, previsto em tratados internacionais, deveria ser buscado quando houvesse um grau maior de certeza.

“Quanto mais trabalharmos juntos, mais saberemos a quem procurar, a quem ligar. Isso faz com que as fronteiras fiquem diminutas e os criminosos impedidos de se aproveitar das diferenças, pois entenderão que somos parceiros verdadeiros”, disse Karine.

Na mesma apresentação, ela ensinou que se deve manipular a opinião pública para investigar pessoas com poder político ou econômico, método que se tornaria pilar da Lava Jato.

Para conseguir que o Judiciário puna alguém por corrupção — destacou —, é preciso fazer com que o povo deteste o investigado.

"A sociedade precisa sentir que aquela pessoa realmente abusou do cargo e exigir a sua condenação”, afirmou.

Karine usou a expressão “rei" para definir o alvo que os investigadores devem buscar. “Se não consegue derrubar essa pessoa, não faça a investigação. É melhor esperar e continuar até achar um jeito de atingir o objetivo”, afirmou.

Os diálogos acessados pelo hacker Walter Delgatti mostram como a doutrina expressa na fala de Karine influenciou a Lava Jato.

A procuradora da república Carolina Rezende, que atuava em nome da Lava Jato em Brasília, não disse em 2016.

"Pessoal, fiquei pensando que precisamos definir melhor o escopo pra nós dos acordos que estão em negociação. Depois de ontem, precisamos atingir Lula na cabeça”, disse em um chat.

Ao mesmo tempo, a operação fazia vazamentos seletivos e omitia, inclusive do Supremo Tribunal Federal, informações que contrariassem a estratégia de perseguição ao “rei”, como as falas da interceptação telefônica que mostrava Lula hesitante quanto ao convite de Dilma Rousseff para ser chefe da Casa Civil.

Ou o diálogo em que uma funcionária da OAS conta que Marisa Letícia não tinha interesse na aquisição do triplex do Guarujá, apesar de possuir cota do condomínio.

Moro já era bem conhecido das autoridades dos EUA quando foi convidado para falar no encontro dos delegados da Polícia Federal em Fortaleza.

Em 1998, dois anos depois de assumir o cargo de juiz federal, ele frequentou o programa de instrução para advogados na Faculdade de Direito de Harvard.

Em 2007, depois de colaborar com agentes do FBI em investigação no Brasil, fez outro curso, desta vez explicitamente patrocinado pelo Departamento de Estado, com visitas a agências e instituições norte-americanas encarregadas da prevenção e do combate à lavagem de dinheiro.

Foi nesse ano que Karine Moreno-Taxman foi nomeada pelo procurador-geral dos EUA para ocupar um cargo recém-criado na Embaixada dos EUA no Brasil, o de conselheira legal residente no Brasil.

Entre 2007 e 2009, ela participou de eventos em praticamente todas as regiões do Brasil. Na apresentação das palestras, era apresentada como especialista em casos complexos, como pedofilia e tráfico de pessoas.

Mas, invariavelmente, acabava tocando no tema da corrupção e lavagem de dinheiro e na necessidade de formação de forças-tarefas para combater o crime organizado. Os norte-americanos deram até um nome para esse programa realizado em solo brasileiro, “Projeto Pontes”.

O auge da atividade de Karine no Brasil se deu em outubro de 2009 — um mês antes do encontro em Fortaleza —, com um curso de uma semana no Rio de Janeiro destinado a juízes, promotores, procuradores e policiais.

Quem patrocinou o evento foi a própria Embaixada Americana e Karine foi uma das duas autoridades dos EUA responsáveis pela seleção dos participantes.

Sergio Moro foi um dos presentes e teve direito até a fazer palestra. Ele atacou a legislação brasileira e expôs 15 questões que considerava problemáticas no combate à lavagem de dinheiro.

Sua presença no curso não era de conhecimento público até que o WikiLeaks divulgou, em 2010, telegrama da diplomacia dos EUA com o relato do curso e a informação de que muitos juízes e procuradores brasileiros manifestaram o interesse de serem treinados pelo Departamento de Justiça para atuarem em casos de lavagem de dinheiro.

O telegrama faz referência à receptividade dos representantes do sistema de justiça brasileiro ao interesse dos EUA de atuarem nesse área, que eles chamam de combate ao “terrorismo”.

O próprio telegrama diz que os juízes, ao contrário do que representantes do governo federal haviam manifestado em outras ocasiões, se mostraram receptivos à ideia de cooperação.

Não se tem notícia de algum resultado concreto sobre ação do sistema de justiça em relação em terrorismo — nem na tríplice fronteira (Foz do Iguaçu), uma lenda alimentada pelo governo dos EUA desde a derrubada das Torres Gêmeas.

Mas duas operações supostamente relacionadas à lavagem de dinheiro tiveram êxito e ambas foram lideradas por juízes que mantêm evidências de proximidade com os Estados Unidos.

A primeira foi a Operação Satiagraha, do juiz federal Fausto De Sanctis. A outra foi a Lava Jato. A Satiagraha ocorreu em 2008, quando Karine já trabalhava no Brasil.

Karine deixou claro a proximidade com os dois magistrados na abertura de um curso promovido pelo Departamento de Justiça na Fiesp, em São Paulo, em fevereiro de 2009 — nove meses antes do encontro em Fortaleza.

O curso era sobre Crimes Cibernéticos e Propriedade Imaterial, Perícia e Internet, tema não relacionado à atuação conhecida de Fausto De Sanctis e de Moro.

Mesmo assim, segundo Karine, a iniciativa de realização do curso tinha sido dos dois juízes. A fala de Karine foi registrado em um texto oficial publicado no site do Tribunal Regional Federal da 3a. Região (São Paulo).

A internet também registra que, em 2012, De Sanctis realizou na Universidade de Marquette, em Milwaukee, Wisconsin, palestra sobre o uso de obra de arte como lavagem de dinheiro.

A outra palestrante era Karine Moreno-Taxman, que após deixar o Brasil, no final de 2009, trabalhou na Embaixada dos EUA no México e depois assumiu a procuradoria no Estado de Wisconsin.

Assim como De Sanctis, o juiz que fez barulho ao encarcerar empresários brasileiros, Moro também parece ser querido pelo governo e empresa dos EUA.

Tanto que, após deixar o governo, foi admitido como sócio ou consultor no escritório Alvarez & Marsal, que tem sede em Washington.

Os ingênuos ou mal intencionados dirão que tudo isso não passa de coincidência. Pode ser? Pode. Mas é do interesse do Brasil verificar a fundo essa relação.

Afinal, pelo menos no que diz respeito a Moro, a operação liderada por ele custou ao Brasil desinvestimento superior a 170 bilhões de reais e a perda de 4,4 milhões de empregos, como constatou estudo do Dieese.

Quando a Lava Jato começou, o Brasil era a sexta economia do mundo e tinha um horizonte de prosperidade, com a descoberta da maior reserva de petróleo do século XXI.

Hoje é a décima-segunda economia e o petróleo cru está sendo exportado para que o Brasil compre combustível dos EUA, enquanto as refinarias brasileiras operam com cerca de 60% de sua capacidade.

Não é exagero suspeitar que Moro, assim como aparentemente vendeu a condenação de Lula por um posto no governo de Jair Bolsonaro, entregou o Brasil a seus amigos norte-americanos.

  Moro na mesa com André Mendonça, que falou em nome da AGU 
(foto: revista Prisma)

  Karine Moreno-Taxman (foto: revista Prisma)

*Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Três ministros militares tomaram vacina escondidos

O general Braga Netto, da Defesa, e o almirante Bento Albuquerque, de Minas e Energia, tomaram vacina contra a Covid-19 em segredo, como o general Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil

Brasil 247, 29/04/2021, 14:06 h Atualizado em 29/04/2021, 14:48
  General Luiz Eduardo Ramos, o general Braga Netto e almirante Bento Albuquerque 
(Foto: agencia brasil)

Além do ministro do Gabinete Civil, general Luiz Eduardo Ramos, outros dois ministros militares foram tomar vacina em segredo: o general Braga Netto, da Defesa, e o almirante Bento Albuquerque, de Minas e Energia. A informação é do jornal O Globo.

Nesta terça-feira, sem saber que estava sendo gravado, o Ramos afirmou que tomou a vacina "escondido": “Tomei escondido, né, porque a orientação era para não criar caso, mas vazou. Eu não tenho vergonha, não. Tomei e vou ser sincero. Como qualquer ser humano, eu quero viver, pô. E se a ciência está dizendo que é a vacina, como eu posso me contrapor?”

Dos oito ministros do governo federal que já estão em idade para tomar a vacina contra a Covid-19 no Distrito Federal, ao menos seis já receberam a primeira dose. O ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral, afirmou que decidiu não tomar a vacina, apesar de já ter direito. Segundo sua assessoria, Onyx está "controlando sua imunidade e, a princípio, tomará quando todos estiverem vacinados". O discurso é igual ao do presidente Jair Bolsonaro, que repetiu nesta quarta-feira que só irá receber o imunizante depois que "o último do Brasil tomar".

Três ministros já haviam divulgado que tomaram a vacina: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Tereza Cristina (Agricultura) publicaram fotos em suas contas no Twitter, enquanto Paulo Guedes (Economia) foi filmado enquanto recebia o imunizante e deu uma entrevista depois. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, que tem 63, pode se vacinar no Distrito Federal desde a última sexta-feira. Procurada, a assessoria de imprensa do MEC não informou a O Globo se ele já recebeu o imunizante.

O vice-presidente Hamilton Mourão também já foi imunizado contra o coronavírus. Ele foi fotografado e divulgou em suas redes sociais o momento da vacinação. Nesta quarta-feira, em conversa com jornalistas, ele negou que exista uma orientação para esconder a vacinação.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

O CPF de Bolsonaro

O Centro do Poder, 27 DE ABRIL DE 2021

Difícil definir qualquer sentimento em relação a Jair Messias Bolsonaro. Só desgosto. Infelicidade. A foto com o cartaz “CPF cancelado” foi um de seus gestos mais perversos. E mais revelador. A expressão é usada pela milícia, policiais e grupos de extermínio, quando uma pessoa é assassinada por facção rival.

Ele conhece o jargão. Riu, às gargalhadas, ao posar com o cartaz, no mesmo dia em que o Brasil chorava 390 mil mortes por Covid. Esse é Bolsonaro. Dois ministros pavoneiam-se ao lado do Capitão e de um escandaloso apresentador de TV, bem ao gosto dos bolsonaristas.

A foto foi veiculada na véspera da instalação da CPI da Covid. Marca o desprezo de Bolsonaro pela vida. Deve “ilustrar” os arquivos da comissão. Mais uma para a coleção do presidente irresponsável que tratou a pandemia com descaso, e a morte de milhares de brasileiros com “e daí”? Não sou coveiro”.

No fim-de-semana, o governo mandou vazar para a imprensa 23 acusações que, acredita Bolsonaro, virão com a CPI. Tiro no pé. Aliás … da falta de maldade e burrice esse governo não padece.

A cada questão apresentada pelo governo, uma condenação: O presidente foi omisso, estimulou aglomeração, promoveu tratamentos precoces sem qualquer comprovação cientifica, militarizou o Ministério da Saúde (a expressão é do governo).

Podemos estar mais perto do impeachment do que se imagina. Sabe-se lá. A depender da composição que se desenha na CPI, a sorte pode estar do nosso lado. Bolsonaro não terá dias tranquilos nos próximos meses.

O senador Renan Calheiros, candidato a relator, adversário declarado do presidente, aconselhou o governo a se preparar para a CPI, começando pelas acusações levantadas pelo próprio Palácio do Planalto. “Melhor treinar. Afinal, treino é treino. Jogo é jogo”.

Ontem à noite, Renan ficou impedido de assumir a relatoria da CPI pela Justiça do DF. Vai recorrer. Tomara que vença. Alguém tem que atazanar, com vontade, a vida de Bolsonaro, seu CPF, sua familia. Menos notas de protesto e repúdio. Mais ação, mais denúncias, mais processos.

Que venha a CPI, com força total. Deixa de ser idiota, Bolsonaro (a frase é dele, para um jornalista). Chegou sua vez.

Mirian Guaraciaba é jornalista

terça-feira, 27 de abril de 2021

China reage ao insulto de Paulo Guedes e Brasil pode ficar sem vacinas e insumos contra a Covid-19

Embaixador da China em Brasília, Yang Wanming, foi ao Twitter e lembrou que, "até o momento", a China é o principal fornecedor de insumos e vacinas ao Brasil

Brasil 247, 27/04/2021, 20:53 h Atualizado em 27/04/2021, 21:01
  (Foto: Reuters | Romulo Serpa/Agência CNJ)

A agressão do ministro Paulo Guedes à China, que é o país que mais investe no Brasil, que mais compra produtos brasileiros e que mais fornece vacinas e insumos contra a Covid-19 ao País, não passou despercebida pelos canais diplomáticos chineses. Em tweet postado há poucos minutos, o embaixador da China em Brasília, Yang Wanming, mandou um claro recado ao Brasil. "Até o momento, a China é o principal fornecedor das vacinas e os insumos ao Brasil, que respondem por 95% do total recebido pelo Brasil e são suficientes para cobrir 60% dos grupos prioritários na fase emergencial. A CoronaVac representa 84% das vacinas aplicadas no Brasil", disse ele.

No tweet, nada é tão importante quanto a expressão "até o momento" – o que significa que Guedes já garantiu seu lugar cativo na CPI do Genocídio.