segunda-feira, 22 de julho de 2019

Dino: "não tenho medo de ditador, de subditador, de projeto de ditador" Respeite o Nordeste, Bolsonaro!

Conversa Afiada, 22/07/2019
Dino sobre Bolsonaro: "não tenho medo de cara feia" (Créditos: Lula Marques/Agência PT)

O Conversa Afiada reproduz trechos da entrevista do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) ao jornal O Imparcial, de São Luís:


(...) O Imparcial: Bolsonaro se referiu ao senhor como “o pior” dentre os governadores “de Paraíba”. O que o senhor acha disso?

Flávio Dino: Em primeiro lugar, é muito lamentável que o presidente da República se dirija a uma parte do país de modo depreciativo, utilizando uma expressão marcadamente preconceituosa e que embute essa visão de superioridade de alguns sobre outros. Então, nossa primeira atitude é de defesa do nosso estado, da nossa região e, portanto, de repúdio, protesto e indignação a esse tipo de tratamento, que pode ensejar inclusive medidas de ordem judicial. Em segundo lugar, nós infelizmente confirmamos que o presidente da República é movido por um sentimento de sectarismo, de divisão do país, de extremismos e de busca de conflito e de confronto permanente como instrumento de exercício do Governo, que constitui uma anomalia – algo indesejável, pois atrapalha o desenvolvimento do país. Em terceiro lugar, do ponto de vista pessoal, fica uma indignação por uma agressão injusta, desrespeitosa em relação ao trabalho sério que é feito no nosso estado. (...)

O Imparcial: O senhor acha que essas constantes quebras de decoro do presidente podem ser motivo de um Impeachment?

Flávio Dino: Nós temos o artigo 85, da Constituição, que é regulado pela lei 1079. Permanentemente, ele vem se aproximando da incidência desses dispositivos normativos. É uma reflexão que, algum momento, vai se colocar na Câmara e no Senado. Não cabe a mim tratar desse assunto, pois é de outras competências. Mas, aparentemente, vai se construindo um caminho em que ele [Bolsonaro] vai, cada vez mais, governando para poucos, de modo agressivo. Sem dúvida, é um debate que, infelizmente, vai se colocando por conta desse conjunto de atitudes e declarações. (...) 

O Imparcial: O senhor mencionou uma possível denúncia à Procuradoria Geral da República por racismo. Vai em frente?

Flávio Dino: Nós [os governadores do Nordeste] solicitamos e estamos esperando explicações da presidência da República. Teremos uma reunião no dia 29, em Salvador, e provavelmente este tema estará na pauta. Eu não tomarei nenhuma atitude individual, porque acho que não me cabe, na medida em que, embora eu tenha merecido um “destaque” – de, na ótica dele, ser o pior governador -, eu sempre coloco na frente o que achei de mais grave, que foi o ataque à região e a todos os cidadãos e cidadãs dela; e o anúncio de uma determinação de perseguição contra um conjunto de governadores. Nós vamos aguardar o que ele dirá para decidir providências jurídicas que iremos tomar.

O Imparcial: Como o senhor vê ser considerado o pior governador no ponto de vista do Bolsonaro?

Flávio Dino: Olha, realmente, eu dormi bem a noite toda. Não embalou meu sono, pois não é uma opinião que altere a minha vida. Eu me preocupo muito com a opinião das pessoas, pois sou político e cidadão aberto a opiniões e sugestões, mas sobretudo à opinião do povo maranhense, que me elegeu e reelegeu. Então, não é a opinião isolada do presidente da República, movido por ódio e preconceito, que vai afetar minha atuação. Acredito nos valores democráticos e republicanos e não afasto um milímetro da minha atuação. Não tenho medo de cara feia, de grito, não tenho medo de nada disso. Não tenho medo de ditador, de subditador, de projeto de ditador. Então, vou manter a minha atitude sempre respeitosa, sempre no plano político e ideológico, como faço, nunca no plano pessoal, e pronto a colaborar com o Governo Federal naquilo que interessar ao meu estado. É meu dever defender o estado para que o Governo Federal respeite o Maranhão e respeite o Nordeste. (...)

Em tempo: ao contrário do que diz o Jair Messias, Flávio Dino foi apontado como o melhor governador do Brasil, segundo pesquisa do portal Congresso em Foco.

Moro e Deltan, os valentões, fogem do “caso Flávio”. E ainda: Globo e STF

Blog do Reinaldo Azevedo, 22/07/2019 06h20

Os folguedos de Flávio Bolsonaro (centro) desarrumaram o discurso oficial dos paladinos Deltan Dallagnol (esq.) e Sério Moro (dir.): sobrou a empulhação

A valentia loquaz de Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, tem um limite: não desagradar ao governo Bolsonaro. E nisso ele encontra um parceiro e tanto: Sergio Moro. Novos diálogos revelados pelo site "The Intercept Brasil" demonstram a administração política que Dallagnol dá até às suas declarações. Um episódio ilustra a politicagem na força-tarefa de maneira constrangedora.

Dallagnol recebe um convite da reportagem do "Fantástico", da TV Globo, para dar uma entrevista sobre o fim do foro especial para deputados e senadores, uma das militâncias a que se dedicou a direção de jornalismo da emissora. A personagem principal da notícia, que receberia tratamento necessariamente negativo, dadas as circunstâncias, era o deputado Paulo Pimenta (RS), do PT. Processo de que é réu sairia do Supremo e iria para a primeira instância porque relativo a caso anterior ao mandato e sem relação com este. Mas o "Fantástico" deixa claro que se vai falar também sobre Flávio Bolsonaro.

No dia 21 de janeiro deste ano, Dallagnol envia a seguinte mensagem a seus pares no grupo "Filhos de Januário 3" (conforme o original): DALLAGNOL – 16:44:44 – Pessoal, temos um pedido de entrevsita do fantástico sobre foro privilegiado. O caso central é bom, envolvendo o Paulo Pimenta, se isso for verdade rs. O risco é eles decidirem no fim focar no Flávio Bolsonaro e usarem nossas falas nesse outro contexto. De um modo ou de outro, o que temos pra falar é a mesma coisa. Além disso, algumas informações que buscam não temos (são da PGR). A questão é se é conveniente darmos entrevista para essa reportagem ou não. Eu não vejo que tenhamos nada a ganhar porque a questão do foro já táo foro já tá definida. Diferente de uma matéria sobre prisão em segunda instância.

Que coisa fabulosa! Notem que, segundo o coordenador da força-tarefa, "o caso central é bom, envolvendo o Paulo Pimenta". Ou por outra: bater num petista era uma vantagem e estava adequado à metafísica influente na turma. E, de fato, a mensagem enviada pela Globo, repassada por Dallagnol, deixa claro: "suspeita contra o Pimenta será nosso principal case numa reportagem sobre os casos em que políticos perderam o foro, devido ao entendimento do Supremo de que a prerrogativa só existe para crimes cometidos durante o mandato e que dizem respeito ao mandato." Mas aí acrescenta o jornalista (no caso, da RBS, filiada no Rio Grande do Sul): "Citaremos também o caso F. Bolsonaro, que surgiu após o início da nossa apuração". 

E aí Dallagnol treme nas bases: "O risco é eles decidirem no fim focar no Flávio Bolsonaro e usarem nossas falas nesse outro contexto." A desconfiança do procurador não faz jus à fidelidade da emissora à Lava Jato, de quem é a mais vistosa e poderosa porta-voz — e não apenas da força-tarefa de Curitiba. 

Dallagnol não vê nada de útil em conceder a entrevista porque eles já ganharam a batalha do fim do foro especial. E falar sobre Flávio não lhe pareceu conveniente… Se fosse só para malhar o petista Pimenta, aí seria bom… Mas Flávio??? 

NÃO ERA A PRIMEIRA VEZ

Não era a primeira vez que Dallagnol evidenciava que melhor seria não mexer muito com o Zero Um. No mesmo grupo, no dia 8 de dezembro do ano passado, escreveu: 

DALLAGNOL – 09:04:38 – Em entrevistas, certamente vão me perguntar sobre isso [Flávio]. Não vejo como desviar da pergunta, mas posso ir até diferentes graus de profundidade. 1) é algo que precisa ser investigado; 2) tem toda a cara de esquema de devolução de parte dos salários como o da Aline Correa que denunciamos ou, pior até, de fantasmas. 

Em outra conversa, com o procurador Roberson Pozzombon (o "Robito", aquele com quem queria criar empresa de palestras em nome das respectivas mulheres para "lucrar"), o próprio allagnol pondera: 

"DALLAGNOL – 10:04:00 – Não sei se convém o nível 2. Não podemos ficar quietos, mas é neste momento um pouco como com RD [Raquel Dodge]. Vamos depender dele pra reformas… Não sei se vale bater mais forte 

CADÊ O VALENTÃO?

Pois é… Nada disso lembra aquele procurador sempre valentão, que dava plantão nas redes sociais quando algo estava em votação no Supremo e que saía por aí tonitruando a sua moralidade impecável, posando, se necessário, de vítima; afirmando que a função que exercem os membros da força-tarefa lhes cobra quase uma dedicação de mártires — no seu caso, um mártir que anunciou à própria mulher ganhos líquidos de R$ 400 mil com palestras em 2018, pouco antes de Dallagnol decidir entre a coragem e covardia, ficando com a segunda. A conversa começa com o envio de um link de reportagem do UOL sobre o depósito de R$ 24 mil que Fabrício Queiroz fizera na conta de Michelle Bolsonaro, mulher do, à época, presidente eleito: 

DELTAN DALLAGNOL – 00:56:50 – https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/12/07/bolsonaro-diz-que-ex-assessor-tinha-divida-com-ele-e-pagou-a-primeira-dama.htm 

DALLAGNOL – 00:58:15 – [imagem não encontrada] DALLAGNOL – 00:58:15 – [imagem não encontrada] 

DALLAGNOL – 00:58:38 – COAF com Moro 

DALLAGNOL – 00:58:40 – Aiaiai 

JULIO NORONHA – 00:59:34 – 

DALLAGNOL – 01:04:40 – [imagem não encontrada)

JANUÁRIO PALUDO – 07:01:20 – Isso lembr 

PALUDO – 07:01:48 – Lembra algo Deltan? 

PALUDO – 07:03:08 – Aiaiai 

JERUSA VIECILLI – 07:05:24 – Falo nada … Só observo 

DALLAGNOL – 08:47:52 – Kkk 

DALLAGNOL – 08:52:01 – É óbvio o q aconteceu… E agora, José? 

DALLAGNOL – 08:53:37 – Moro deve aguardar a apuração e ver quem será implicado. Filho certamente. O problema é: o pai vai deixar? Ou pior, e se o pai estiver implicado, o que pode indicar o rolo dos empréstimos? 

DALLAGNOL – 08:54:21 – Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo? 

DALLAGNOL – 08:58:11 – Agora, Bolso terá algum interesse em aparelhar a PGR, embora o Flávio tenha foro no TJRJ. Última saída seria dar um ministério e blindar ele na PGR. Pra isso, teria que achar um colega bem trampa 

ATHAYDE RIBEIRO COSTA – 08:59:41 – É so copiar e colar a ultima denuncia do Geddel 

ROBERSON POZZOBON – 09:02:52 – Acho que Moro já devia contar com a possibilidade de que algo do gênero acontecesse 

POZZOBON – 09:03:19 – A questão é quanto ele estará disposto a ficar no cargo com isso ou se mais disso vir 

Moro, como sabemos, silenciou sobre o caso Fabrício. O paladino contra a corrupção enfiou o rabo da moralidade entre as pernas e preferiu fugir do assunto. Fez o mesmo também em outro caso que chega a ser vexaminoso: o de seu colega de ministério Marcelo Álvaro Antonio (Turismo) e o laranjal que o cerca. 

Os diálogos divulgados neste domingo mostram a parcialidade e o direcionamento político da "luta contra a corrupção" travada por Moro e Dallagnol, entre outros. 

A VAGA NO STF 

E agora muito importante corre o risco de se perder em meio às conversas. Escreve Dallagnol: 

DALLAGNOL – 08:54:21 – Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo? 

No dia 12 de maio, em entrevista a Milton Neves, da Band, Bolsonaro afirmou que, ao convidar Moro para o Ministério da Justiça, prometeu que o indicaria para uma vaga no Supremo. Ficou claro que tal promessa tinha feito parte do pacote de ofertas para que aceitasse a pasta. No dia seguinte, o ministro da Justiça desmentiu o chefe. E ficou o dito pelo não-dito. 

Notem que, muito antes, ainda em dezembro, Dallagnol já tratava da indicação de seu amigo de fé, irmão, camarada para a vaga no tribunal. E ainda deixa claro que, se Moro resolvesse se engajar na apuração das lambanças havidas no gabinete de Flávio, a indicação não sairia. 

E Moro, como sabemos, não se engajou. 

Só não sei se haverá tempo para ser ministro do Supremo. 

Digam: a Lava Jato não lhes parece, a cada dia, mais isenta, mais independente, mais imparcial e interessada apenas em combater os malfeitores? 

Ah, sim: os valentes todos afirmam não reconhecer a autenticidade das conversas. A Globo diz não comentar conversa de seus jornalistas com fontes. Mas não nega, claro!, o envio da mensagem. Nem poderia. Ela é verdadeira, a exemplo de todas as outras.

sábado, 20 de julho de 2019

Sistema de Justiça, órgãos de controle e PGR se calam diante das revelações do ‘Intercept’

Violação ao devido processo legal, parcialidade de Moro, conduta de Dallagnol, desrespeitos sistemáticos às leis e à Constituição são ignorados por autoridades e instituições


Rede Brasil Atual - As relações impróprias do então juiz Sergio Moro com o Ministério Público Federal e a atuação do magistrado da 13ª Federal de Curitiba como aliado da acusação contra os réus ou acusados, deturpando a condição de imparcialidade do juiz – inerente ao papel legal desse personagem no sistema de Justiça – são as mais graves constatações de tudo o que foi revelado até agora pelo site The Intercept Brasil. A parcialidade de Moro e o conluio entre Ministério Público Federal e o juízo estão no cerne de todo o debate e são a origem de todos os fatos decorrentes, na opinião dos advogados criminalistas Leonardo Yarochewsky e Luiz Fernando Pacheco, e do ex-deputado federal e ex-presidente da seção da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro Wadih Damous.

“O mais grave é a parcialidade do juiz Sergio Moro. É o mais grave porque compromete o devido processo legal. É evidente que ele aderiu a uma das partes, no caso ao Ministério Público Federal, o que ficou evidente em vários diálogos divulgados. Dizer que um juiz deve ser imparcial é quase um pleonasmo, porque a imparcialidade é inerente ao juiz no processo”, diz Yarochewsky sobre o ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro.

Para Damous, a Lava Jato tinha “como objetivo maior a criminalização da política, e particularmente do PT e suas lideranças”. “Não havia julgamento, mas um rito de condenação. Os rituais que a Constituição Federal e o Código de Processo Penal preveem eram obedecidos apenas pró-forma. A defesa jamais teve sua voz ouvida. Pelo contrário, foi esculachada o tempo todo, como mostram os diálogos revelados.”

Como exemplo, ele menciona uma declaração emblemática e cabal – no sentido de escancarar a imparcialidade de Moro. Depois de ouvir depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silvasobre o caso do triplex do Guarujá, de acordo com o Intercpet, o diálogo entre o juiz e o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima revelava não a equidistância necessária ao juiz, mas escárnio, enquanto ambos comentavam o confronto entre juiz e acusado. Um trecho do diálogo (conforme redação originalmente divulgada):

Santos Lima – 22:10 – (…) Ele [Lula] começou polarizando conosco, o que me deixou tranquilo. Ele cometeu muitas pequenas contradições e deixou de responder muita coisa, o que não é bem compreendido pela população. Você ter começado com o Triplex desmontou um pouco ele.

Moro – 22:11 – A comunicação é complicada pois a imprensa não é muito atenta a detalhes

Moro – 22:11 – E alguns esperam algo conclusivo

Moro – 22:12 – Talvez vcs devessem amanhã editar uma nota esclarecendo as contradições do depoimento com o resto das provas ou com o depoimento anterior dele

Moro – 22:13 – Por que a Defesa já fez o showzinho dela.

Ainda em relação à audiência que colocou Lula e Moro frente a frente, Yarochewsky lembra um episódio midiático simbólico. Ato falho ou não, alguns veículos de imprensa divulgaram imagens que mostravam Lula e Moro num ringue, como se fossem lutadores de boxe. A própria mídia, aqui, confirmava o papel que, segundo ela, o juiz exercia no processo, o de lutador (acusador),que é o papel do Ministério Público, o que contraria totalmente o papel que um juiz deve ter no chamado devido processo legal.

Na opinião de Pacheco, o mais grave de tudo o que foi revelado até agora foi Sergio Moro condicionar o acordo de delação premiada de executivos da Camargo Correa à prisão de dois dos delatores. “Ele tem apenas que homologar ou não a delação. O juiz não tem que participar desse processo. E tudo isso ocorre fora das vias oficiais. Não ocorre nos autos. Os autos só espelham o que já ficou combinado anteriormente”, diz o advogado.

Segundo publicação conjunta do jornal Folha de S.Paulo e do Intercept Brasil, Moro indicou aos procuradores da força-tarefa que os acordos de delação envolvendo executivos da construtora previssem no mínimo um ano de prisão. É ilegal, e mais uma vez mostra Moro ao lado da acusação.

Para Damous, “tudo o que já foi divulgado mostra parcialidade, desonestidade e a prática de uma série de crimes: formação de quadrilha, prevaricação, obstrução de justiça, abuso de autoridade, improbidade e corrupção”. Na opinião de Yarochewsky, as revelações como um todo mostram, em resumo, “uma relação promíscua entre o juiz e um membro do MPF”.

“Há muitas vertentes e questões a ser analisadas e verificadas pelo sistema de Justiça, pelo Conselho Nacional de Justiça ou pelo Conselho Nacional do Ministério Público”, acrescenta Yarochewsky.
Deltan Dallagnol, STF

Nas matérias do Intercept, três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) aparecem citados nas mensagens trocadas por Moro e Dallagnol: Luiz Fux, Edson Fachin e Luis Roberto Barroso.

Em diálogo entre Dallagnol e Moro, o procurador descreve um contato que teria tido com Fux. O procurador da República informa a Moro que o ministro do STF manifestou apoio à força-tarefa. “In Fux We trust” (“Em Fux nós confiamos”), responde Moro. “Kkk”, retruca Dallagnol, segundo o Intercept.

No caso de Fachin, depois de sair de uma conversa com o ministro, Dallagnol comentou com outros procuradores da força-tarefa: “Caros, conversei 45 m com o Fachin. Aha uhu o Fachin é nosso”, segundo a publicação. Fachin é o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Ele substituiu na relatoria Teori Zavascki, morto em janeiro de 2017.

Quanto a Barroso, no dia 3 de agosto de 2016, Moro pergunta a Dallagnol em mensagem: “Está confirmado o jantar no Barroso?” Dallagnol responde: “Ele acabou de confirmar. Estou adiantando meu voo porque terça estarei na comissão especial. Boa reunião amanhã c eles!!”. O juiz agradece: “Obrigado, preciso de endereço e horário do jantar”.

“Por coincidência, são ministros que apoiam a Lava Jato no Supremo. Não tem esse tipo de diálogo envolvendo os ministros (Ricardo) Lewandowski, Gilmar (Mendes) e Marco Aurélio”, diz Damous. “É curioso que Fux, Fachin e Barroso não vieram a público (para explicar as citações)”.

Dallagnol divide com Moro o protagonismo das revelações. Ele teria, por exemplo, enviado uma mensagem a Moro em 16 de janeiro de 2016, na qual pergunta: “você acha que seria possível a destinação de valores da Vara, daqueles mais antigos, se estiverem disponíveis, para um vídeo contra a corrupção, pelas 10 medidas, que será veiículado na Globo? A produtora está cobrando apenas custos de terceiros, o que daria uns R$ 38 mil“.

Em outro episódio, Deltan teria tido um diálogo com sua mulher na qual fala em “organizar congressos e eventos e lucrar” financeiramente com a fama obtida por meio da operação.
Omissão

Se, como diz Pacheco, o sistema de Justiça “está sendo bastante leniente com a gravidade do caso”, da mesma maneira, para Damous, até agora não se viu nenhuma atitude afirmativa que se poderia esperar da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. “A procuradora-geral mantém-se omissa. Já deveria ter afastado Dallagnol e demais procuradores, e aberto processo administrativo”, diz. “Isso já era para ter desbaratado essa quadrilha toda, e até agora nada.”

Na opinião de Damous, se houvesse uma democracia consolidada e um sistema de Justiça isento no Brasil, bastavam as primeiras revelações do Intercept, no início de junho, para que alguns presos, entre os quais Lula, fossem libertados. “As primeiras revelações mostram o Moro interferindo na investigação, dando palpite quanto às investigações, mostram o conluio, a amizade íntima entre juiz e procuradores. O resto só confirma aquilo. É um escândalo monstruoso que só não produziu efeitos ainda porque há um grande esquema de cumplicidade.”

Mas nada disso, diz o ex-deputado, acontece por acaso. “A Lava Jato é um produto, está a soldo do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Não foi à toa que deliberadamente eles quebraram todas as grandes empresas de infraestrutura e engenharia no Brasil. Para dar lugar a quem? Às empresas multinacionais.”

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Novo capítulo da Vaza Jato revela que Moro interferiu em delações

Embora a lei proíba a participação de juízes em acordos de delação premiada, a nova leva de mensagens da Vaza Jato, divulgada pela Folha e pelo Intercept revela que Sergio Moro infuenciou o acordo de delação de dois executivos da Camargo Côrrea, no âmbito da Lava Jato

18 de julho de 2019, 04:24 h
(Foto: Reuters)

247 – "Mensagens privadas trocadas por procuradores da Operação Lava Jato em 2015 mostram que o então juiz federal Sergio Moro interferiu nas negociações das delações de dois executivos da construtora Camargo Corrêa cruzando limites impostos pela legislação para manter juízes afastados de conversas com colaboradores", aponta reportagem da Folha de S. Paulo e do Intercept, divulgada nesta quinta-feira 18.

Assinada por Ricardo Balthazar e Paula Bianchi, a reportagem revela a partir de mensagens interceptadas que Moro avisou aos procuradores que só homologaria as delações se a pena proposta aos executivos incluísse pelo menos um ano de prisão em regime fechado.

Segundo o texto dos jornalistas, a Lei das Organizações Criminosas, de 2013 diz que juízes devem se manter distantes das negociações e têm como obrigação apenas a verificação da legalidade dos acordos após sua assinatura.

"As mensagens obtidas pelo Intercept mostram que Moro desprezou esses limites ao impor condições para aceitar as delações num estágio prematuro, em que seus advogados ainda estavam na mesa negociando com a Procuradoria", aponta a reportagem.

As mensagens

"No dia 23 de fevereiro de 2015, o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa, escreveu a Carlos Fernando dos Santos Lima, que conduzia as negociações com a Camargo Corrêa, e sugeriu que aproveitasse uma reunião com Moro para consultá-lo sobre as penas a serem propostas aos delatores", escrevem os jornalistas.

– A título de sugestão, seria bom sondar Moro quanto aos patamares estabelecidos – disse Deltan. 

– O procedimento de delação virou um caos. O que vejo agora é um tipo de barganha onde se quer jogar para a platéia, dobrar demasiado o colaborador, submeter o advogado, sem realmente ir em frente. Não sei fazer negociação como se fosse um turco. Isso até é contrário à boa-fé que entendo um negociador deve ter. E é bom lembrar que bons resultados para os advogados são importantes para que sejam trazidos novos colaboradores – respondeu Carlos Fernando.

– Vc quer fazer os acordos da Camargo mesmo com pena de que o Moro discorde? “Acho perigoso pro relacionamento fazer sem ir FALAR com ele, o que não significa que seguiremos – interferiu Deltan.

A opinião de Moro foi parcialmente respeitada. Com a assinatura dos acordos, dois dias depois, ficou acertado que os dois executivos da Camargo Corrêa, Dalton Avancini e Eduardo Leite, ficariam mais um ano trancados em casa, mas não num presídio.

Em nota, Moro negou ter participado dos acordos. “Enquanto juiz, não houve participação na negociação de qualquer acordo de colaboração”, diz nota enviada por sua assessoria.

Editor do Intercept manda recado a Moro: não temos vocação pra ser seu Deltan

"Meu passatempo predileto é ler nas entrelinhas: Moro acha que ele precisa 'concordar' pra que a gente publique. Moro: o Brasil não é sua 13ª Vara e ninguém aqui tem vocação pra ser seu Deltan. A gente vai seguir publicando as graves reportagens da Vaza Jato sem seu aval", afirmou Leandro Demori, um dos editores do Intercept Brasil.


247 - Um dos editores do Intercept Brasil, Leandro Demori criticou o ministro da Justiça e 
Segurança Pública, Sérgio Moro, após as novas revelações do site, em mais uma parceria com o jornal Folha de S.Paulo, revelar que o ex-juiz interferiu nas negociações de delações premiadas junto com procuradores da Operação Lava Jato.

"Meu passatempo predileto é ler nas entrelinhas: Moro acha que ele precisa 'concordar' pra que a gente publique. Moro: o Brasil não é sua 13ª Vara e ninguém aqui tem vocação pra ser seu Deltan. A gente vai seguir publicando as graves reportagens da Vaza Jato sem seu aval", escreveu Demori no Twitter.

Após a reportagem que apontou mais ilegalidades na Operação Lava Jato, Moro postou na rede social: "Mais uma vez, não reconheço a autenticidade de supostas mensagens minhas ou de terceiros, mas, se tiverem algo sério e autêntico, publiquem. Até lá não posso concordar com sensacionalismo e violação criminosa de privacidade'.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Ex-diretor da Odebrecht diz ter sido coagido pelo MP a construir relato no caso do sítio de Atibaia

Mais uma denúncia bombástica atinge a Lava Jato. Em depoimento ao Tribunal de Justiça de São Paulo, o executivo Carlos Armando Paschoal diz ter sido coagido pelo Ministério Público a construir um relato sobre o sítio de Atibaia (SP), que rendeu a segunda condenação ao ex-presidente Lula, que vem sendo mantido como preso político desde abril do ano passado no Brasil

(Foto: Lula sítio Atibaia)

247 – O ex-diretor-superintendente da Odebrecht Carlos Armando Paschoal disse à Justiça de São Paulo que foi "quase que coagido a fazer um relato sobre o que tinha ocorrido" e que teve que "construir um relato" no caso do sítio de Atibaia, aponta reportagem do jornalista Nathan Lopes, no Uol. O caso do sítio rendeu a segunda condenação ao ex-presidente Lula, que vem sendo mantido como preso político desde abril do ano passado.

Paschoal prestou depoimento no TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) no último dia 3 de julho como testemunha. "No caso do sítio, que eu não tenho absolutamente nada, por exemplo, fui quase que coagido a fazer um relato sobre o que tinha ocorrido. E eu, na verdade, lá no caso, identifiquei o dinheiro para fazer a obra do sítio. Tive que construir um relato", disse ele. Ao explicar o que seria "construir um relato", Paschoal disse que seria apontar algo como "olha, aconteceu isso, isso, isso e isso; e eu indiquei o engenheiro para fazer as obras". Paschoal não explicou exatamente como teria sido a coação do MP nem deu mais detalhes sobre se o que teria sido "construído" em seu depoimento.

Governo suspende contratos para fabricar 19 remédios de distribuição gratuita

O Ministério da Saúde suspendeu, nas últimas 3 semanas, contratos com 7 laboratórios públicos nacionais para a produção de 19 medicamentos distribuídos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS)

247 - O Ministério da Saúde suspendeu, nas últimas 3 semanas, contratos com 7 laboratórios públicos nacionais para a produção de 19 medicamentos distribuídos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A reportagem é do jornal Estado de S.Paulo. 

Documentos obtidos pelo jornal apontam suspensão de projetos de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) destinados à fabricação de remédios para pacientes que sofrem de câncer e diabete e transplantados. 

A reportagem ainda informa que os laboratórios que fabricam por PDPs fornecem a preços 30% menores do que os de mercado. E já estudam ações na Justiça. Associações que representam os laboratórios públicos falam em perda anual de ao menos R$ 1 bilhão para o setor e risco de desabastecimento – mais de 30 milhões de pacientes dependem dos 19 remédios. A lista inclui alguns dos principais laboratórios: Biomanguinhos, Butantã, Bahiafarma, Tecpar, Farmanguinhos e Furp.

Miriam Leitão: a economia não sai do ponto-morto

"A economia deve crescer mais, mas não será suficiente para garantir um crescimento robusto em 2019"

247 - "A atividade finalmente cresceu em maio, após quatro meses de quedas. A alta do IBC-Br, um indicador do Banco Central, foi de 0,54% na comparação com abril", escreve a jornalista Miriam Leitão em sua coluna no jornal O Globo. "Mas o que já se sabe é que esse é um ano de crescimento mais fraco que em 2018 ou 2017".

Segundo a colunista, "a economia não está em recessão, mas não sai do ponto-morto". "Infelizmente, a alta do IBC-Br não é o reinício da retomada. Os dados estão oscilantes, às vezes negativos, outras vezes positivos. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, me disse semana passada que no segundo semestre haverá um ponto de inflexão", complementa.

"A economia deve crescer mais, mas não será suficiente para garantir um crescimento robusto em 2019".

domingo, 14 de julho de 2019

Depois de arrasar a economia, Deltan passou a contar dinheiro

Após as revelações deste domingo, já não será mais possível passar pano para as traquinagens deste fariseu que se apresentava como devoto carola, mas só pensava em dinheiro, diz o jornalista Leonardo Attuch, editor do 247

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O novo capitulo da Vaza Jato é devastador para o procurador Deltan Dallagnol, coordenador de uma operação que prendeu o ex-presidente Lula sem provas, quebrou as construtoras brasileiras e desempregou milhões de pessoas. Enquanto tudo isso acontecia, Deltan contava dinheiro.

“Se tudo der certo nas palestras, vai entrar ainda uns 100k limpos até o fim do ano. Total líquido das palestras e livros daria uns 400k. Total de 40 aulas/palestras. Média de 10k limpo”, disse ele, num dos diálogos. Em outro, com a esposa, ele dizia: “vamos lucrar, ok?”

Deltan também agenciou palestras do ex-juiz Sérgio Moro e do ex-PGR Rodrigo Janot, como se fosse uma espécie de empresário da força-tarefa. Com o colega Roberson Pozzobon, tramou a criação de uma empresa em nome das esposas ou de um instituto que os esconderia e pagaria menos IR.

Depois das revelações deste domingo, já não será mais possível passar pano para as traquinagens deste fariseu que se apresentava como devoto carola, mas só pensava em dinheiro. Se o CNMP decidir aliviar, o sinal para a sociedade será péssimo: o de que o crime compensa.

Detalhe: Deltan tratou como ‘propina’ as palestras que o ex-presidente Lula, um dos maiores líderes globais, concedeu. Mas como devem ser classificadas suas palestras a empresários, como os donos da XP, que hoje lucram com o rentismo e a ‘ponte para o futuro’?

Em condições normais de temperatura e pressão, o ex-presidente Lula seria solto e o procurador que fez de sua prisão uma escada para o enriquecimento pessoal estaria sendo investigado. Mas nada é normal no Brasil pós-golpe. De todo modo, o chefe da força-tarefa foi desmascarado.

El País atesta a veracidade de todas as mensagens da Vaza Jato

"Com o auxílio de uma fonte externa ao The Intercept, que prefere preservar sua identidade, tivemos acesso a parte de um arquivo de mensagens de um dos chats mencionados nas reportagens e comparamos seu conteúdo com o material disponibilizado pelo site. O conteúdo é idêntico", aponta reportagem do Intercept

14 de julho de 2019, 18:59 h Atualizado em 14 de julho de 2019, 19:28
(Foto: Senado | ALESP)

247 - Principal jornal da Espanha e uma das publicações mais importantes do mundo, o jornal El Pais acaba de soltar uma reportagem que é uma verdadeira bomba, atestando a autenticidade do conteúdo vazado pelo Intercept, Folha de São Paulo, Band News FM e revista Veja.

Confira um trecho:

Com o auxílio de uma fonte externa ao The Intercept, que prefere preservar sua identidade, tivemos acesso a parte de um arquivo de mensagens de um dos chats mencionados nas reportagens e comparamos seu conteúdo com o material disponibilizado pelo site. O conteúdo é idêntico. À parte imagens, que não estavam disponíveis nos documentos consultados, as informações são as mesmas em ambos os chats e mostram o dia a dia de conversas de trabalho entre procuradores, assessores de imprensa e jornalistas. A partir deste material, identificamos outras conversas com potencial de verificação.

Inclusive, mensagens do EL PAÍS com pedidos de informações enviados à Lava Jato puderam ser identificadas. É o caso de um pedido feito pelo repórter Gil Alessi por email no dia 2 de março de 2017 para a assessoria do Ministério Público Federal do Paraná (MPF-PR), e que foi compartilhado em um dos chats do Telegrampor um assessor de imprensa.

Ao ter acesso aos arquivos do The Intercept, vemos que a consulta ao material é artesanal, e depende de busca por termos em diversos chats – o site não mapeou o número total de documentos nem de chats disponíveis. A quantidade do material faz com que o processo de entrevista dos dados seja lento e bastante trabalhoso. A maioria das conversas traz apenas conteúdos corriqueiros que, certamente, não geram interesse público, logo, não haveria motivo para terem sido inventadas.

O EL PAÍS acompanhou o percurso de algumas destas conversas, cujo conteúdo foi possível checar com fonte externa ao The Intercept, para tentar verificar possíveis fraudes. Por exemplo, quando a Lava jato fez quatro anos, o procurador Deltan Dellagnol conversou com assessores de imprensa da força tarefa sobre material a ser divulgado. Um esboço de texto foi preparado e compartilhado em alguns chats com pessoas de interesse, como assessores e jornalistas.