t1noticias, 12 de agosto de 2019 09:39
Jair Bolsonaro /Palácio do Planalto Alan Santos/PR
Muitas críticas podem ser feitas ao presidente Bolsonaro, mas um mérito ninguém pode lhe tirar: ele conseguiu arrancar do rosto dos brasileiros a máscara de cordialidade utilizada até o seu surgimento enquanto figura midiática.
Hoje, graças à idolatria a Bolsonaro, podemos identificar, com precisão, quais pessoas que se veem representadas por suas ideias homofóbicas, de menosprezo à mulher, de apologia à ditadura e de ataque à ciência, à cultura, ao meio ambiente, aos povos indígenas e aos quilombolas.
Grande parte destas pessoas que o chamam de “mito” vivia acuada pelas transformações sociais das últimas décadas, reprimidas, com vergonha de externar seus preconceitos e se mostrar arcaicas e rançosas. Com a ascensão de Bolsonaro, encontraram seu porta-voz, um ser que não tinha pudor em gritar preconceitos e proclamar a intolerância.
Logicamente, nem todos os 57 milhões de brasileiros que votaram no candidato do PSL se viam integralmente representados por seu discurso extremista. O que é apenas menos grave, já que esta parcela do eleitorado também escolheu Bolsonaro ciente do que ele representava, mas considerando que suas ideias torpes não o diminuíram enquanto pessoa e homem público.
À época da campanha eleitoral, o candidato já carregava condenações judiciais por declarações homofóbicas e racistas. Já havia exaltado torturador em plena sessão da Câmara Federal, lamentado que a Ditadura Militar não tenha matado um número maior de pessoas e desdenhado dos familiares que procuravam os corpos de filhos e pais desaparecidos nos anos de chumbo. Também já havia utilizado a tribuna para enaltecer a atuação das milícias, defendido salário menor para as mulheres (a quem chama de “fraquejadas”) e adiantado que em seu governo não haveria “nem um centímetro” de terras demarcadas para indígenas e quilombolas.
O político que ganhou notoriedade pelas declarações retrógradas dadas a programas de televisão foi crescendo progressivamente durante a campanha eleitoral.
Reafirmo, ninguém votou desavisadamente em Bolsonaro. Havia os eleitores que se viam refletidos em seu discurso de ódio e havia aqueles que não se identificavam diretamente, mas que não consideravam suas falas graves ou simplesmente não se importavam com o que ele dizia, já que não se viam entre os alvos da intolerância estimulada pelo candidato.
Talvez amenizasse a escolha dos eleitores se os valores desumanos do candidato fossem compensados por uma capacidade para administrar o país superior à dos seus concorrentes. Pelo contrário, o que se tinha era um político que sentou preguiçosamente em uma cadeira de deputado federal por quase três décadas, sem fazer absolutamente nada. Sem experiência, sem capacidade, sem equilíbrio.
Em resumo, ele nunca mostrou a mínima habilidade para ocupar a Presidência, somente deu provas de destempero. Seus eleitores nunca se viram diante do dilema se compensaria dar poder à intolerância para, em troca, ter um gestor competente.
Ao abraçar Bolsonaro, o brasileiro decidiu retirar da cara a máscara da cordialidade e da tolerância, qualidades que, falsamente, eram consideradas características da nossa gente. Esse novo posicionamento é muito mais coerente com a realidade do país, que é um dos líderes mundiais em feminicídio, em assassinato de LGBTs e que se caracteriza pela existência de um abismo social entre brancos e negros.
É ruim que um presidente tenha vindo para acirrar as diferenças e aprofundar a ruptura entre os grupos de brasileiros? Certamente!
Porém, é muito bom que a gente possa identificar quem compartilha suas ideias, para que tenhamos condições de medir as pessoas com quem nos relacionamos.
Flávio Herculano/Jornalista
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