sábado, 31 de agosto de 2019

Reunião de Eduardo e Araújo com Trump foi só mais um mico diplomático

Reinaldo Azevedo
31/08/2019 05h51
Eduardo Bolsonaro e Ernesto Araújo depois de encontro micado com Donald Trump. O que eles tinham a falar sobre a reunião? Nada! (Foto: Mandel Ngan/AFP)
O presidente Jair Bolsonaro e seu governo estão se tornando a caricatura que a esquerda sempre fez da submissão da direita brasileira aos EUA. O troço é bastante constrangedor. O antiamericanismo, com efeito, já foi uma das expressões do irracionalismo da nossa política. Agora nós temos a contraface: o americanismo se mostra a expressão do infantilismo. 

Em meio à grita mundial contra a devastação da Amazônia, Bolsonaro escreveu no Twitter: 

"Nunca Brasil e EUA estiveram tão alinhados. A coordenação com o Presidente americano foi essencial para a defesa da soberania brasileira na Amazônia, por ocasião do encontro do G-7, o que demonstra nossa relação cada vez mais sólida de amizade e respeito" 

Explicava a ida do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), possível indicado para a embaixada do Brasil em Washington, e de Ernesto Araújo, chanceler, para um encontro com Donald Trump nesta sexta. 

A dupla esteve na Casa Branca. Que tipo de conversa os dois mantiveram com Trump? Não dá para saber. O certo é que inventaram uma nova categoria das relações internacionais: a reunião simbólica.

O que isso significa? 

Na saída, nem um nem outro tinham algo a dizer. Eduardo se negou a dar entrevista em inglês à imprensa internacional. Deixou para Araújo. Falou apenas com repórteres brasileiros. Em português. 

Bolsonaro havia anunciado "novidades" decorrentes do encontro. Não veio nada. 

Coube a um desenxabido Araújo esta tentativa de explicação, segundo leio na Folha: 

"Não tínhamos expectativas de sair daqui com nada, mas achamos extremamente significativo que o presidente Trump tenha nos recebido". 

Considerando o que se anunciou e o que se disse como resultado da reunião, eu diria que foi mesmo "muito significativo".

TREINAMENTO MILITAR? 

Escreve a Folha: "O deputado disse que o americano 'aceitou nossa proposta de trabalhar conjuntamente para desenvolver de forma sustentável a Amazônia. Acordos de livre comércio e de treinamento militar conjunto também foram falados.'" 

Treinamento militar onde? Na Amazônia? 

Militares estrangeiros, americanos ou não, não põem os pés na Amazônia brasileira. Esse sempre foi um ponto de honra para as nossas Forças Armadas. Vai mudar a escrita agora? 

Eduardo ainda afirmou: 

"Não podemos aceitar, no Brasil, Macron falando e atentando contra nossa soberania nacional, depois querer fazer algum tipo de ajuda, porque não é uma ajuda que vem de bom coração. Isso é um desrespeito aos brasileiros, seria subjugar nossa brasilidade aceitar esse tipo de ajuda". 

Que coisa, né? 

Ali estavam o chanceler que, durante a fase mais aguda da crise na Venezuela, sugeriu abrir um corredor em plena Amazônia para a eventual passagem de tropas americanas para intervir naquele país. Com o apoio de Eduardo. 

Os militares brasileiros, incluindo o vice, Hamilton Mourão, botaram ordem na bagunça e atentaram para a estupidez da proposta. 

Parece que as considerações de Eduardo e Araújo sobre soberania são bastante elásticas. 

É… O Exército Brasileiro resolveu dar folga à tropa às segundas por falta de recursos. Será a que dupla foi a Trump para pedir alguns soldados de empréstimo? 

Saldo da viagem? Desperdício de algum dinheiro. E só. Tempo, com efeito, eles não perderam. Eis uma coisa que os dois têm de sobra…

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Meio ambiente: Lula exige retratação do jornal nacional! Globo mente e tenta mudar a história!

Conversa Afiada, 20/08/2019

O Conversa Afiada reproduz nota oficial do site do Presidente Lula:

O Jornal Nacional exibiu ontem, fora de contexto, uma frase do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendendo a soberania brasileira sobre a Amazônia, com o objetivo de fazer uma comparação incorreta e indevida sobre as políticas para o Meio Ambiente e Amazônia de Lula e Bolsonaro. Lula estava certo ao defender nossa soberania, como fez durante seus dois mandatos. Agora a política ambiental de Lula e Bolsonaro não poderiam ser mais diferentes.

O Brasil obteve recordes de redução de desmatamento no governo Lula, e o tema da matéria, o Fundo Amazônia, que usa recursos da Noruega e da Alemanha geridos em parceria com o governo brasileiro, foi criado justamente durante o mandato de Lula, em 2008, informação sonegada na reportagem. O governo Lula também criou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, para gerir as Unidades de Conservação federais, e ampliou em 52,9% as áreas de proteção ao Meio Ambiente.

Na maior parte dos dois mandatos de Lula a ministra do Meio Ambiente foi Marina Silva, nascida na Amazônia e com uma vida dedicada à causa da sustentabilidade, enquanto o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro é um condenado por crime ambiental que sequer conhecia a Amazônia antes de ocupar o cargo.

As políticas ambientais eram construídas ouvindo a sociedade civil e especialistas e não negando evidências científicas.

O Brasil assumiu no governo Lula, na Cúpula de Copenhagen, em 2009, a liderança da discussão sobre proteção ambiental e mudanças climáticas no mundo. Na época de Lula o Brasil combinou expansão da produção agrícola com proteção ao Meio Ambiente, abrindo mercados para as exportações do campo brasileiro. Abertura de mercados agora ameaçada pelo ataque de Bolsonaro contra nossas florestas.

Exigimos que o Jornal Nacional informe seus telespectadores que o Fundo Amazônia foi criado no governo Lula, e as diferenças nas políticas ambientais dos dois governos.

O poder da Globo não lhe dá o direito de continuar mentindo, distorcendo informações ou modificando a história.

Haddad: juiz me condena por algo de que nem fui acusado! Todas as testemunhas mostraram que o delator mentiu!

Todas as testemunhas mostraram que o delator mentiu!  Que justiça é essa?

Conversa Afiada, 20/08/2019

Do Painel da Fel-lha:

“Levei quatro anos da minha vida para provar que o Ricardo Pessoa [ex-presidente da UTC] havia mentido na delação dele. O juiz afastou essa acusação. E o que ele fez? Me condenou por algo de que não fui acusado.” A frase é do ex-prefeito e ex-candidato à Presidência pelo PT, Fernando Haddad.

Trata-se de uma reação à notícia de que, no último dia 19, o juiz Francisco Carlos Inouye Shintate decidiu condenar o petista a quatro anos de reclusão em regime semiaberto no caso que apura a denúncia, lançada por Pessoa em sua delação, de que a empreiteira havia destinado recursos não contabilizados pela campanha de Haddad à Prefeitura de São Paulo em 2012.

Segundo o ex-prefeito, o juiz reconhece na decisão que não há como condená-lo pela suspeita lançada por Pessoa. “Todas as testemunhas que escalamos mostram que a acusação do delator era falsa”, diz.

Mas então, ainda segundo o ex-prefeito, “o juiz afastou a primeira acusação e me condenou por algo que não estava no processo: por ter declarado serviços na minha prestação de contas que não foram prestados. O inverso da denúncia original”.

“Esse nunca foi o objeto da ação, nunca fui chamado a responder essa questão, nenhuma das testemunhas foi questionada sobre isso. Eu não consigo entender.”

PT: condenação de Haddad visa perseguir o candidato que recebeu 47 milhões de votos para presidente

Executiva Nacional do PT diz que a condenação do ex-prefeito Fernando Haddad por suposto crime de caixa 2 é uma "violência contra o estado democrático de direito"; "É mais uma evidência de que o sistema judicial brasileiro vem sendo utilizado, de forma ilegal e criminosa, para satisfazer objetivos políticos, eleitorais e econômicos"

Brasil247, 20/08/2019, 20:31 h Atualizado em 20 de agosto de 2019, 20:45
(Foto: REUTERS/Pilar Olivares)

O Partido dos Trabalhadores se manifestou no início da noite desta terça-feira, 20, sobre a condenação do ex-prefeito Fernando Haddad a quatro anos e meio de prisão pelo suposto crime de caixa dois duranta a campanha eleitoral de 2012 (leia mais no Brasil 247). 

Em nota, a Comissão Executiva Nacional do PT classifica a sentença do juiz eleitoral Francisco Carlos Inouye Shintate como uma "violência contra o estado democrático de direito" e uma "grave ofensa" contra a Justiça.

"A decisão contraria as testemunhas e provas da inocência da Haddad, que já havia sido reconhecida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, e o condena por um delito do qual ele sequer havia sido acusado, numa afronta ao direito de defesa e ao devido processo legal", diz o PT na nota.

Universidade dos EUA diz que desmatamento na Amazônia é o dobro do registrado pelo INPE

Estudo feito por pesquisadores da Universidade de Oklahoma aponta que a Amazônia foi desmatada em 400 mil km² , mais do que o dobro do que foi registrado pelo Inpe e que Jair Bolsonaro disse ser mentira

Brasil247, 20/08/2019
Enquanto Bolsonaro perdoa ruralistas, desmatamento na Amazônia cresce 100%

247 - De acordo com estudo de uma equipe de pesquisadores da Universidade de Oklahoma, nos Estados Unidos, a Amazônia perdeu mais de uma Alemanha em área de floresta entre 2000 e 2017. São cerca de 400 mil km² a menos de área verde.

O resultado é mais que o dobro da área de 180 mil km² registrada no mesmo período pelo sistema de monitoramento de desmatamento anual adotado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes).

Jair Bolsonaro acusou o Instituto brasileiro de não divulgar a verdade, criando uma crise que levou a saída do diretor Ricardo Galvão.

De acordo com estudo, que foi publicado na revista científica Nature Sustainability, o conceito de floresta desmatada e a qualidade das imagens analisadas pelo satélite utilizado na nova pesquisa, com menos interferência de nuvens e sombras, são apontados como fatores para a discrepância nos resultados.

Confira a íntegra da reportagem no site da BBC Brasil.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Brasil volta às ruas: o papel dos repórteres na defesa da democracia

Jornalista Ricardo Kotscho lembra que não são apenas estudantes, professores e artistas que estão mobizando para os atos desta terça-feira, 13; "A inédita união das centrais sindicais está mobilizando trabalhadores de todas as áreas, assim como os movimentos sociais e populares, que andavam sumidos das ruas", diz ele, ao conclamar a imprensa a divulgar os atos

Brasil 247, 12 de agosto de 2019, 16:54 h
Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia 

Há várias semanas estão sendo organizadas manifestações de protesto contra o governo pelas 12 centrais sindicais unidas, a União Nacional dos Estudantes e centenas de outras entidades mobilizadas em todo o país.

Você viu alguma notícia sobre os atos programados para esta terça-feira, dia 13 de agosto de 2019?

O único registro que encontrei até agora foi uma nota no Painel da Folha, com o título “Bloco na rua”:

“Organizadores de novos protestos contra cortes na educação se animaram com o monitoramento de adesões aos atos marcados para esta terça (13). Além de professores e alunos, que estão deliberando o assunto em assembleias nos diretórios acadêmicos, artistas reforçaram a mobilização”.

Não são só os estudantes, professores e artistas.

A inédita união das centrais sindicais está mobilizando trabalhadores de todas as áreas, assim como os movimentos sociais e populares, que andavam sumidos das ruas.

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É a sociedade civil organizada que está voltando a se manifestar, num momento de sufoco extremo, em que ninguém aguenta mais os desmandos desse governo demente e entreguista, comandado por um capitão desvairado, que agora deu para desfilar de motocicleta e jet-sky por Brasília.

Por onde andei neste final de semana _ não sei como ficaram sabendo dos protestos _ muita gente já se programava para ir à avenida Paulista, local da manifestação aqui em São Paulo, a partir das 16 horas.

Hoje cedo, o primeiro e-mail que abri foi o do premiado escritor Luiz Ruffato, comunicando a um grupo de amigos que estava desmarcando outros compromissos para ir à avenida, e os convidando a fazer o mesmo. Me deixou animado.

São pessoas de todas as tendências políticas, que já andavam desesperançadas, e agora voltam a se juntar para dar um basta ao avanço deste desgoverno cívico-militar contra a democracia.

É um clima muito semelhante ao do final de 1983, nos estertores da ditadura militar, quando líderes de diferentes partidos e de movimentos sociais começaram a discutir formas de mobilização pela redemocratização do país, com a volta de eleições diretas para a Presidência da República.

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Repórter de geral, como se dizia na época, eu tive a oportunidade de acompanhar, desde o início, a formação embrionária de um movimento popular que, no dia 25 de janeiro de 1984, inundaria de gente a praça da Sé, sob chuva, com faixas e cartazes, gritando “Diretas Já!”

Conto a história completa no livro “Explode um Novo Brasil” (Editora Brasiliense).

Era o dia do aniversário da cidade, e muitos colegas se surpreenderam ao ver aquela multidão de mais de 400 mil pessoas, reunida pela primeira vez desde o golpe dentro do golpe do AI-5 de 1968, que mergulhou o país na fase mais cruel da ditadura.

Não existiam ainda as redes sociais e a imprensa da época tentou esconder até o último momento a mobilização que crescia silenciosa nas periferias da cidade e do poder (a TV Globo registrou a grande festa democrática da praça da Sé como um evento do aniversário da cidade).

A cobertura política se limitava aos gabinetes nada arejados de Brasília. Poucos se arriscavam a sujar os sapatos para ir, como cantava Milton Nascimento, onde o povo está.

Achavam, até no jornal onde trabalhava, que eu estava maluco por acreditar que aquele primeiro comício da praça da Sé logo se reproduziria em outras capitais, com concentrações cada vez maiores, até o ponto em que a chamada grande imprensa não poderia mais ignorar o que estava mudando no Brasil.

Quem acreditou desde o primeiro momento nesta grande aventura, como dizia o velho Ulysses Guimarães, foi o dono da Folha, onde eu trabalhava, o visionário Octavio Frias de Oliveira.

O jornal abriu suas páginas para cobrir o dia a dia do movimento em todo o país, informando os preparativos, locais e horários das manifestações, e deslocando repórteres para cobrir todos os comícios.

Além dos partidos de oposição, estavam à frente do movimento a Ordem dos Advogados do Brasil(OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), além da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Não por acaso estas siglas da sociedade civil se uniram novamente para lançar nesta quinta-feira, dia 15, na sede da OAB, em Brasília, a Comissão Arns Contra a Violência, movimento criado em março por várias igrejas e entidades de defesa dos Direitos Humanos.

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O nome da comissão foi dado em homenagem a D. Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo na época das Diretas Já, que teve importante papel nas articulações para mobilizar a sociedade e foi o responsável pela edição do livro “Brasil Nunca Mais” sobre as torturas de perseguidos políticos durante o regime militar, do qual participei, junto com Frei Betto e outros jornalistas e advogados.

Por pior que seja a situação, as coisas podem mudar de uma hora para outra, se cada um de nós cumprir seu papel de cidadão, sem ficar esperando um milagre caído do céu.

Nós, repórteres, precisamos estar sempre atentos a essas mudanças e, para isso, precisamos ir aos lugares onde a vida real pulsa, independentemente do governo.

Confesso que não esperava viver tudo isso de novo, a esta altura do campeonato da vida, mas tem hora em que não há outra escolha.

É lutar, resistir, juntar forças, fazer reportagens e renovar esperanças.

Vida que segue.

Moro instruiu Lava Jato a não apreender celulares de Cunha! "Acho que não é uma boa"

Conversa Afiada, 2/08/2019
(Crédito: Agência Brasil)

De Severino Motta e Leandro Demori (The Intercept Brasil), no BuzzFeed News:

Na véspera da prisão do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (MDB-RJ), o então juiz da Lava Jato Sergio Moro convenceu os procuradores da força-tarefa de Curitiba a não pedir a apreensão dos telefones celulares usados pelo emedebista.

É o que indica um conjunto de mensagens trocados pelo aplicativo Telegram entre o então juiz e o coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol.

Os diálogos entre o então juiz e o chefe dos investigadores ocorreram no dia 18 de outubro de 2016 e integram o pacote de mensagens enviados ao site The Intercept Brasil por fonte anônima. Os diálogos foram analisados pelo BuzzFeed News.

A exemplo de outros veículos jornalísticos, o BuzzFeed News decidiu publicar o conteúdo por considerar que se trata de informação de interesse público.

A decisão de não apreender os celulares de Cunha, que já não tinha mais foro privilegiado desde setembro de 2016, destoa do padrão da Lava Jato. Saíram dos celulares de executivos de empreiteiras, por exemplo, muitas anotações e mensagens que embasaram investigações.

No dia 18 de outubro de 2016, um dia antes da prisão de Cunha, o chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, mandou mensagens ao então juiz.


• 11:45:25 Deltan: Um assunto mais urgente é sobre a prisão

• 11:45:45 Deltan: Falaremos disso amanhã tarde

• 11:46:44 Deltan: Mas amanhã não é a prisão?

• 11:46:51 Deltan: Creio que PF está programando

• 11:46:59 Deltan: Queríamos falar sobre apreensão dos celulares

• 11:47:03 [Moro]: Parece que sim.

• 11:47:07 Deltan: Consideramos importante

• 11:47:13 Deltan: Teríamos que pedir hoje

Após ouvir as ponderações do procurador, Moro responde o seguinte:


• 11:47:15 [Moro:] Acho que não é uma boa

Apesar da resposta, Deltan insiste e tenta agendar uma reunião com Moro para tratar do assunto:

• 11:47:27 Deltan: Mas gostaríamos de explicar razões

• 11:47:56 Deltan: Há alguns outros assuntos, mas este é o mais urgente

• 11:48:02 [Moro]: bem eu fico aqui até 1230, depois volto às 1400.

• 11:48:49 Deltan: Ok. Tentarei ir antes de 12.30, mas confirmo em seguida de consigo sair até 12h para chegar até 12.15

• 12:05:02 Deltan: Indo

Não há, nos diálogos, registros do que foi discutido na reunião presencial entre eles. Porém, pouco depois, às 14h16, Deltan envia nova mensagem a Moro dizendo que, após conversar com procuradores e ao levar em consideração o que foi dito pelo então juiz, a força-tarefa desistiu de pedir a apreensão dos celulares.

• 14:16:39 Deltan: Cnversamos [Conversamos] aqui e entendemos que não é caso de pedir os celulares, pelos riscos, com base em suas ponderações

E Moro respondeu:

• 14:21:29 [Moro]: Ok tb

No dia seguinte às conversas, em 19 de outubro, Eduardo Cunha foi preso em Brasília.

Ao perceber a ação, o político disparou diversos telefonemas para parlamentares ligados ao então ministro Moreira Franco e ao então presidente Michel Temer. Tinha a esperança de que, com uma jogada, seria capaz de reverter a prisão.

Ao ser informado de que além de preso seria encaminhado para Curitiba, Cunha chegou a questionar os agentes responsáveis por sua prisão se deveria ou não levar ou entregar seu aparelho celular. Ouviu uma resposta negativa, segundo seus advogados.

Questionados pelo BuzzFeed News, tanto a força-tarefa da Lava Jato quanto o Ministério da Justiça disseram que os celulares de Cunha já haviam sido apreendidos.

De fato, no dia 15 de dezembro de 2015, os aparelhos telefônicos do então presidente da Câmara foram recolhidos na operação Catilinárias.

A prisão de Cunha, quando optou-se por não apreender os novos aparelhos do político, aconteceu cerca de 10 meses depois, em 19 de outubro de 2016.

Temos algo que agradecer a Bolsonaro

t1noticias, 12 de agosto de 2019 09:39
Jair Bolsonaro /Palácio do Planalto Alan Santos/PR

Muitas críticas podem ser feitas ao presidente Bolsonaro, mas um mérito ninguém pode lhe tirar: ele conseguiu arrancar do rosto dos brasileiros a máscara de cordialidade utilizada até o seu surgimento enquanto figura midiática. 

Hoje, graças à idolatria a Bolsonaro, podemos identificar, com precisão, quais pessoas que se veem representadas por suas ideias homofóbicas, de menosprezo à mulher, de apologia à ditadura e de ataque à ciência, à cultura, ao meio ambiente, aos povos indígenas e aos quilombolas. 

Grande parte destas pessoas que o chamam de “mito” vivia acuada pelas transformações sociais das últimas décadas, reprimidas, com vergonha de externar seus preconceitos e se mostrar arcaicas e rançosas. Com a ascensão de Bolsonaro, encontraram seu porta-voz, um ser que não tinha pudor em gritar preconceitos e proclamar a intolerância. 

Logicamente, nem todos os 57 milhões de brasileiros que votaram no candidato do PSL se viam integralmente representados por seu discurso extremista. O que é apenas menos grave, já que esta parcela do eleitorado também escolheu Bolsonaro ciente do que ele representava, mas considerando que suas ideias torpes não o diminuíram enquanto pessoa e homem público. 

À época da campanha eleitoral, o candidato já carregava condenações judiciais por declarações homofóbicas e racistas. Já havia exaltado torturador em plena sessão da Câmara Federal, lamentado que a Ditadura Militar não tenha matado um número maior de pessoas e desdenhado dos familiares que procuravam os corpos de filhos e pais desaparecidos nos anos de chumbo. Também já havia utilizado a tribuna para enaltecer a atuação das milícias, defendido salário menor para as mulheres (a quem chama de “fraquejadas”) e adiantado que em seu governo não haveria “nem um centímetro” de terras demarcadas para indígenas e quilombolas. 

O político que ganhou notoriedade pelas declarações retrógradas dadas a programas de televisão foi crescendo progressivamente durante a campanha eleitoral. 

Reafirmo, ninguém votou desavisadamente em Bolsonaro. Havia os eleitores que se viam refletidos em seu discurso de ódio e havia aqueles que não se identificavam diretamente, mas que não consideravam suas falas graves ou simplesmente não se importavam com o que ele dizia, já que não se viam entre os alvos da intolerância estimulada pelo candidato. 

Talvez amenizasse a escolha dos eleitores se os valores desumanos do candidato fossem compensados por uma capacidade para administrar o país superior à dos seus concorrentes. Pelo contrário, o que se tinha era um político que sentou preguiçosamente em uma cadeira de deputado federal por quase três décadas, sem fazer absolutamente nada. Sem experiência, sem capacidade, sem equilíbrio.

Em resumo, ele nunca mostrou a mínima habilidade para ocupar a Presidência, somente deu provas de destempero. Seus eleitores nunca se viram diante do dilema se compensaria dar poder à intolerância para, em troca, ter um gestor competente. 

Ao abraçar Bolsonaro, o brasileiro decidiu retirar da cara a máscara da cordialidade e da tolerância, qualidades que, falsamente, eram consideradas características da nossa gente. Esse novo posicionamento é muito mais coerente com a realidade do país, que é um dos líderes mundiais em feminicídio, em assassinato de LGBTs e que se caracteriza pela existência de um abismo social entre brancos e negros. 

É ruim que um presidente tenha vindo para acirrar as diferenças e aprofundar a ruptura entre os grupos de brasileiros? Certamente! 

Porém, é muito bom que a gente possa identificar quem compartilha suas ideias, para que tenhamos condições de medir as pessoas com quem nos relacionamos. 

Flávio Herculano/Jornalista