quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Juristas apontam: Erika Marena e procuradores serão processados por vários crimes no caso do testemunho falso

Para advogados constitucionalistas e criminalistas, a criaçao de um testemunho inexistente na Lava Jato feito por Erika Marena com anuência de Dallagnol e outros procuradores são gravíssimos e, caso confirmados, podem configurar crimes como falsidade ideológica, prevaricação e fraude processual

Brasil 247, 24/02/2021, 08:01 h Atualizado em 24/02/2021, 09:12
   Erika Marena (Foto: reuters)

Conjur - A revelação de que ao menos uma delegada teria forjado e assinado depoimentos que nunca ocorreram, com a anuência de procuradores da autoproclamada operação Lava Lato, pode ter desdobramentos graves para os envolvidos.

Os diálogos foram enviados pelos advogados do ex-presidente Lula ao Supremo Tribunal Federal e foram apreendidos no curso de investigação contra hackers que invadiram os telefones de autoridades.

Na conversa revelada pela ConJur, os procuradores Deltan Dallagnol e Orlando Martello Júnior relatam o que contou uma delegada da Polícia Federal chamada Erika — provavelmente a delegada Erika Marena, que era a responsável pelos casos do consórcio de Curitiba.

"Como expõe a Erika: ela entendeu que era pedido nosso e lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada... Dá no mínimo uma falsidade... DPFs são facilmente expostos a problemas administrativos", disse Deltan.

Figura destacada no grupo de Curitiba, Marena foi interpretada pela atriz Flávia Alessandra no filme "Polícia Federal — A lei é para todos". Ela também tem um episódio trágico no currículo. Após sair da capital do Paraná e da "lava jato", foi para Santa Catarina. Lá, comandou uma operação que investigava uma suposta corrupção no núcleo de ensino à distância da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), que resultou na prisão preventiva do reitor Luiz Carlos Cancellier.O professor foi solto, mas sem o direito de pisar na universidade durante o inquérito. Ele cometeu suicídio logo em seguida, em outubro de 2017. O inquérito, por outro lado, não apresentou qualquer prova até o momento.

Para advogados constitucionalistas e criminalistas, os fatos narrados são gravíssimos e, caso confirmados, podem configurar crimes como falsidade ideológica, prevaricação e fraude processual.

"Há a possível falsidade ideológica do documento público, uma vez que teria sido fabricado um termo de depoimento com informações que não refletiam a realidade. Há a prevaricação dos agentes públicos que tomaram ciência do fato e nada fizeram. Em suma, o caso é gravíssimo e requer apurações para a eventual responsabilização dos culpados", explica Conrado Gontijo, advogado criminalista, doutor em Direito Penal pela USP.

Adib Abdouni, advogado criminalista e constitucionalista, defende uma investigação imediata contra a delegada. "O crime consiste em materializar declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. No caso da delegada, tal conduta agrava-se por ter sido cometida por funcionária pública, prevalecendo-se do cargo", diz.

Almino Afonso Fernandes, advogado constitucionalista e sócio do escritório Almino Afonso & Lisboa Advogados Associados, afirma que "é simplesmente inimaginável que alguém, a pretexto de combater a corrupção, possa utilizar-se de expediente tão abominável e criminoso, como se os fins pudessem justificar os meios". Para Almino, "mais lamentável, ainda, é saber que tais práticas tenham contado com a concordância de alguns poucos procuradores da República que, a rigor, deveriam defender a ordem jurídica e o Estado de Direito".

Para David Metzker, advogado criminalista e sócio da Metzker Advocacia, a "conduta extremamente grave e que precisa ser investigada". "Não há como admitir que depoimentos sejam criados. São demonstrações de ilegalidades que precisam ser analisadas com urgência".

O advogado Willer Tomaz, sócio do escritório Willer Tomaz Advogados Associados, vai além. "São bem conhecidos na comunidade jurídica os graves abusos e arbitrariedades perpetrados na Lava Jato em face dos réus, e este fato envolvendo uma possível falsificação do depoimento de uma testemunha por parte de uma delegada da Polícia Federal, para prejudicar um ou mais acusados, poderá configurar, se comprovado, diversos crimes passíveis de prisão e representará um dos maiores escândalos já vistos na história da justiça criminal brasileira, que jamais deveria se prestar a tamanho papelão. É do interesse de toda a sociedade que o caso seja investigado rigorosamente."

De acordo com o advogado criminalista Daniel Bialski, mestre em Processo Penal pela PUC-SP e membro do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim), "caso o STF entenda pela validade das provas obtidas, a delegada federal e demais envolvidos poderão e deverão ser investigados por diversos crimes. Entre eles, falsidade ideológica e/ou documental e fraude processual majorada, além das cominações administrativas até demissão do serviço público", opina.

Por fim, o advogado Luis Felipe D´Aloia, criminalista do escritório Bialski Advogados, entende que, "se confirmada, tendo em vista que eram cientes e nenhuma providência tomaram, os procuradores, que têm o dever de ofício em coibir tais condutas, poderão responder por prevaricação ou até mesmo como partícipes das supostas condutas que teriam sido adotadas pela agente policial".

Coronel do Exército demitido por Salles diz que Ibama está paralisado e loteado entre PMs

Ex-superintendente do Ibama em Mato Grosso do Sul, o coronel da reserva do Exército Luiz Carlos Marchetti acusa Ricardo Salles de paralisar o Ibama e lotear o órgão entre PMs de São Paulo

24 de fevereiro de 2021, 08:10 h Atualizado em 24 de fevereiro de 2021, 08:15
Coronel da reserva do Exército Luiz Carlos Marchetti e Ricardo Salles 
(Foto: Reprodução | Mayke Toscano/Secom-MT | ABr)

Exonerado do cargo nessa terça-feira (23) pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o ex-superintendente do Ibama em Mato Grosso do Sul, o coronel da reserva do Exército Luiz Carlos Marchetti, afirmou que o ministro está "mobiliando" (loteando) o instituto com policiais militares de São Paulo.

"O que está acontecendo é uma coisa sórdida. Um policial militar lá de dentro pediu minha vaga e a sequência disso foi a sequência de uma política equivocada do ministro, que mobiliou todo o Ibama", afirmou em entrevista ao portal Campo Grande News.

Segundo o coronel, quem deve assumir a vaga deixada é um coronel da Polícia Militar de São Paulo. "Ele já fez o mesmo em outros Estados. É uma pena porque vai mandar para o meio ambiente uma pessoa que nunca pisou aqui. Eu estou no Estado há 30 anos", acrescentou.

O desgaste do ministro junto ao governo e à população ficou evidente a partir do segundo trimestre deste ano, após a divulgação de conteúdo de um vídeo da reunião ministerial que aconteceu no dia 22 de abril do ano passado, quando Salles sugeriu que o governo deveria aproveitar a atenção da imprensa voltada à pandemia de Covid-19 para aprovar "reformas infralegais de desregulamentação e simplificação" na área do meio ambiente e "ir passando a boiada".

Pelo visto "boiada" se concretizou. Pesquisadores compilaram despachos federais de regramento ambiental no Brasil e encontrou durante o governo Bolsonaro 57 dispositivos legais que se encaixam nas categorias de "desregulação" e "flexibilização", enfraquecendo regras de preservação.

Rosa Weber dá 5 dias para Bolsonaro explicar decretos que flexibilizam acesso às armas

A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber, determinou um prazo de cinco dias para que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) explique seus decretos sobre armas

Brasil 247, 24/02/2021, 03:51 h Atualizado em 24/02/2021, 03:51
   Rosa Weber e Jair Bolsonaro (Foto: STF | ABr)

Sputnik - Bolsonaro terá que dar explicações no prazo de cinco dias sobre decretos que flexibilizam acesso às armas. Foi o que determinou nesta terça-feira (23) a mnistra do STF, Rosa Weber.

Bolsonaro editou, via quatro decretos no dia 12 de fevereiro, um grupo de regras para o uso e a compra de armas de fogo, de forma a flexibilizar o acesso às armas.

Ações dos partidos PSB, Rede, PT e PSOL questionam os decretos apontam que elas violam direitos fundamentais como o direito à vida, à dignidade da pessoa humana e à segurança pública.

A ministra Rosa Weber é a relatora das ações partidárias que questionam os decretos no Supremo e determinou que as matérias sejam levadas ao plenário do STF. Na decisão da terça-feira (23), Weber salienta que todos os decretos sobre armas feitos por Bolsonaro até agora foram questionados na Corte.

Entre os efeitos da flexibilização que Bolsonaro propõe estão o aumento do número de armas que cada brasileiro pode possuir, além de que colecionadores, caçadores e atiradores tiveram o acesso às armas facilitado.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

STF exige que Ministério da Justiça investigue delegada Érika Marena por falsificação de testemunho na Lava Jato

O STF exigiu que o Ministério da Justiça investigue a conduta da delegada da PF Érika Marena, que durante investigações da Lava Jato inventou depoimento inexistente de uma testemunha. Procuradores disseram que ela lavrou depoimento sem ter de fato ouvido um delator

23 de fevereiro de 2021, 05:58 h Atualizado em 23 de fevereiro de 2021, 08:03
  Delegada Érika Marena (Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

O STF (Supremo Tribunal Federal) questionou o ministro da Justiça, André Mendonça, sobre a revelação de que a delegada Érika Marena, da Polícia Federal, que coordenou investigações da Lava Jato, inventou depoimento de uma testemunha sem que ele tivesse ocorrido de fato. A PF é subordinada a Mendonça.

O ministro afirmou que investigaria os fatos, informa a jornalista Mônica Bergamo em sua coluna na Folha de S.Paulo.

A conduta da delegada Érika Marena foi revelada em diálogos entre os procuradores Deltan Dallagnol e Orlando Martello Júnior.

Leia a reportagem sobre a falsificação de Marena. Ela é apontada como a responsável pelo suicídio do então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier. Ele se matou em 2 de outubro de 2017 depois de ser ilegalmente preso e perseguido por Marena. Leia a reportagem desta segunda-feira (22):

247 com Conjur - Novos diálogos de procuradores da Lava Jato, enviados ao Supremo Tribunal Federal pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira (22), a delegada da Polícia Federal Erika Marena é acusada de forjar e assinar depoimentos que jamais ocorreram na operação.

Erika Marena foi a delegada responsável pela operação que perseguiu reitores em Santa Catarina, prendendo ilegalmente Luiz Carlos Cancellier, então reitor da UFSC e que se suicidou depois de uma humilhação pública com acusações de corrupção na universidade. Em 2018, ela foi convidada por Sérgio Moro para integrar a equipe dele no Ministério da Justiça. Depois da saída dele, acabou exonerada.


Nos diálogos, os procuradores da Lava Jato revelam que Erika praticou uma falsificação. Pensando atender a pedidos dos procuradores, Erika criou um falso termo de depoimento, simulando ter ouvido a testemunha com escrivão e tudo, “quando não ouviu nada”.

A constatação consta de diálogo mantido entre os procuradores Deltan Dallagnol e Orlando Martello Júnior em janeiro de 2016. Nele, eles relatam o que contou uma delegada da Polícia Federal chamada Erika.

"Como expõe a Erika: ela entendeu que era pedido nosso e lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada... Dá no mínimo uma falsidade... DPFs são facilmente expostos a problemas administrativos", disse Deltan.

Orlando Martello Júnior mostra preocupação com a possibilidade de esses problemas administrativos levarem ao descrédito da força-tarefa de Curitiba. Diz que “se deixarmos barato, vai banalizar”.

Então propõe uma saída: “combinar com ela de ela nos provocar diante das notícias do jornal para reinquiri-lo ou algo parecido. Podemos conversar com ela e ver qual estratégia ela prefere. Talvez até, diante da notícia, reinquiri-lo de tudo. Se não fizermos algo, cairemos em descrédito”.

A sequência do diálogo, segundo a defesa de Lula, mostra que o uso de depoimentos forjados era algo reiterado pelo grupo de procuradores de Curitiba. O diálogo segue na mensagem de Martello Júnior a Deltan Dallagnol.

“O mesmo ocorreu com padilha e outros. Temos q chamar esse pessoal aqui e reinquiri-los. Já disse, a culpa maior é nossa. Fomos displicentes!!! Todos nós, onde me incluo. Era uma coisa óbvia q não vimos. Confiamos nos advs e nos colaboradores. Erramos mesmo!”, diz.

A preocupação é, também, com a eficiência das colaborações premiadas que a força-tarefa fez uso. “Se os colaboradores virem uma reação imediata, vão recuar. O Moura quer ficar bem com JD e demais, ao mesmo tempo em q se da de bobo e nada acontece com ele. À prova, igualmente, fica prejudicada”, complementa Martello Júnior.

“Concordo, mas se o colaborador e a defesa revelarem como foi o procedimento, a Erika pode sair muito queimada nessa... pode dar falsidade contra ela... isso que me preocupa”, responde Deltan.

As mensagens entre procuradores foram apreendidas no curso da chamada operação "spoofing".

Moro admite que Lava Jato poderá ser anulada e reclama que é “odiado”

O ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro, que já foi a pessoa mais poderosa do país, com milhões de admiradores, agora reclama que é “odiado” e teme que a Lava Jato seja toda anulada

23 de fevereiro de 2021, 08:30 h Atualizado em 23 de fevereiro de 2021, 08:33
  (Foto: Agência Brasil)

Sergio Moro já admite a interlocutores que a Lava Jato irá desmoronar debaixo de toda enxurrada de ilegalidades reveladas pelas petições da defesa de Lula depois do acesso às mensagens da Operação Spoofing. Moro está com medo de que toda Lava Jato seja anulada.Segundo a colunista Bela Megale, Moro admite que não tem horizonte na política e que se sente odiado. “Parte considerável dos políticos de Brasília me odeia”, tem dito o ex-juiz e ex-ministro.

A Operação Spoofing foi deflagrada pela Polícia Federal em julho de 2019, com o objetivo de investigar as invasões às contas de Telegram da Lava Jato que deram origem à Vaza Jato e agora às petições da defesa de Lula. Toda a escuta foi conduzida pelo hacker Walter Delgatti, cuja história será transformada num documentário pela TV 247.

As revelações que vieram à tona desde a Vaza Jato e agora com as petições da defesa de Lula levaram o ministro Gilmar Mendes, do STF, a afirmar que a Lava Jato corrompeu a democracia no Brasil: "Primeiro a Lava Jato atua na prisão do Lula. Prestes à eleição, a Lava Jato divulga o chamado depoimento ou delação do Palocci, tentando influenciar o processo eleitoral. Depois, o Moro vai para o governo Bolsonaro, portanto eles não só apoiaram como depois passam a integrar o governo Bolsonaro”.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Dias Toffoli afirma que houve financiamento internacional a campanhas contra instituições

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli afirmou que o inquérito das fake news identificou financiamento internacional a atores que usam as redes sociais para fazer campanhas contra as instituições brasileiras, em especial o STF e o Congresso Nacional

Brasil 247, 22/02/2021, 05:21 h Atualizado em 22/02/2021, 07:58
    Ministro do STF Dias Toffoli (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Em entrevista ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, exibido na madrugada desta segunda-feira (22), o ex-presidente do STF, Dias Toffoli, disse que o inquérito das fake news identificou que houve financiamento internacional a atores que usam as redes sociais para fazer campanhas contra as instituições brasileiras.

Toffoli disse que a investigação vai dar continuidade ao "aprofundamento desses dados", sob comando do ministro Alexandre de Moraes - quem, segundo Toffoli, o "autorizou" a dar a informação para a imprensa, informa O Estado de S.Paulo.

Na entrevista, Toffoli classificou a descoberta como "gravíssima”. O ministro acrescentou que não poderia dar mais detalhes sobre a investigação.

Daniel Silveira traduziu para o povão discurso do general

"O discurso de Daniel Silveira é a tradução do que disse o general para o pesquisador da FGV, mas acessível para os que gritam 'mito', para os que andam de ônibus e para os que convivem de perto com o poder das milícias", escreve a jornalista Denise Assis

Brasil 247, 21/02/2021, 09:59 h Atualizado em 22/02/2021, 05:11
   Daniel Silveira (Foto: Reprodução/YouTube)

Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - Tive a pachorra de ouvir não uma, mas algumas vezes o vídeo com a fala do ainda deputado federal Daniel (o quê?) Silveira, que obteve na Câmara 364 votos a favor da manutenção da sua prisão, e apenas 130 pela sua liberdade. Isto, depois da unanimidade de 11 X 0 no Supremo Tribunal Federal, onde seu “discurso” caiu como um alerta vermelho de que algo não ia bem no reino da nossa pátria mãe gentil.

E não vai mesmo. Há na sua fala muito mais do que as baixarias do “bilau pequeno” do ministro Edson Fachin e a linguagem miliciana da surra do gato morto. Há um recado. E muito bem dado, para as classes que não frequentam as páginas do livro de memórias do general Villas Boas.

Voltem à cena política da semana passada e só assim podemos entender o contexto em que surge para os seus 15 minutos de fama o tal Daniel do quê. A rejeição a Jair Bolsonaro como presidente da República atingiu seu maior percentual desde junho de 2020, como mostrou pesquisa realizada pelo PoderData entre terça-feira (15) e esta quinta (17). De acordo com o levantamento, 48% dos entrevistados consideraram que a atuação do chefe do Executivo é ruim ou péssima. É importante destacar que quando essas pesquisas vão para a rua o Planalto já tem em mãos os números, detectados pelo GSI. Ou deveria ser assim. Portanto, já havia entre a turma do poder, notícias da queda, sem a receita da “volta por cima”.

Tínhamos em pauta o depoimento vexaminoso do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, concedido intramuros do Exército Brasileiro, à Polícia Federal (uma desonra). Pazuello estava contra a parede por sua inépcia na compra e distribuição das vacinas – sem falar na falta de oxigênio em Manaus. Havia a perspectiva do tombo de 4% do PIB e, ainda, o escândalo das compras milionárias no alto escalão das Forças Armadas. Juntem tudo isto, agora dispam-se do preconceito verbal, abram os ouvidos e coloquem para rodar novamente o vídeo.

Não. Não está ali apenas um “feixe de músculo”. A função é clara. Sofremos um ataque violento de desmonte das instituições e do ambiente democrático de que dispomos com muita luta. Foi ação orquestrada. Na iminência da derrota política, de um descer de ladeira sem fim, a turma do “fim da guerra fria” arquitetou uma jogada decisiva.

De um lado, vinha o general Villas Boas, (de novo ele) disseminando suas ideias e repercutindo o seu discurso para o distinto público letrado. De outro, Daniel, direcionado para os 31% que se aglomeram e passam a quilômetros das páginas de um livro, repetindo o mesmo discurso. Os dois falam as mesmas coisas, mas um tem a sofisticação na medida para os que estudaram, enquanto Daniel, com sua linguagem chula, cantochão – mas cristalina -, dá o recado para o povão.

O discurso de Daniel é a tradução do que disse o general para o pesquisador da FGV, mas acessível para os que gritam “mito”, para os que andam de ônibus e para os que convivem de perto com o poder das milícias.

Não tenham dúvida. Daniel teve uma função naquele momento, bem como Villas Boas e os “empijjamados” do Clube Militar, cuja única função é fustigar a democracia, desde o retorno aos quartéis, em 1985. Na queda, na fragilidade, foram para o “tudo ou nada”, da mesma forma que Bolsonaro, ao se dirigir ontem, aos formandos da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em Campinas, disse que se dependesse dele, “não seria esse o regime que estamos vivendo”. Disso sabemos nós. O que não podemos ignorar, é que eles fizeram uma ação orquestrada para todos os públicos.

Estão dispostos a destruir o pacto da transição, montado (sem a nossa anuência) entre Tancredo Neves, o general Leônidas Pires Gonçalves, a Arena arrependida e o MDB conservador. Aqueles senhores desconheceram, naquele momento histórico da “conquista” do colégio eleitoral, a força da sociedade, que depois de 21 anos subjugada ergueu a sua voz nas ruas e participou ativamente da construção da Constituição de 1988, inserindo na Carta direitos que eles odeiam e desde 2016 tentam apagar item por item, artigo por artigo.

A Constituição mandou para casa os agraciados com a “Medalha do Pacificador”, os alunos da “Escola das Américas” e dos generais Golbery e João Figueiredo, professores da grade de formação dos quadros do SNI. Deixou em cena os filhotes da guerra fria, que tremem só em ver uma camiseta vermelha e são formados pelo “Manual de Campanha – Operações Psicológicas”, do Estado Maior do Exército, de que tratei em artigo de 17 de junho de 2020, aqui, no 247. Caso estejam bem-dispostos, ouçam novamente neste final de semana o vídeo do Daniel. Está lá, o discurso do manual. E o do general, “traduzido”.

Mais uma farsa da Lava Jato: PF registrou depoimento de testemunha que sequer foi ouvida

"Ela entendeu que era pedido nosso e lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada...", afirmou Deltan Dallagnol em referência à delegada Erika Marena durante uma conversa com Orlando Martello Júnior. "A culpa maior é nossa, fomos disciplicentes", disse Martello. Os diálogos estão em nova petição apresentada pela defesa de Lula ao STF

Brasil 247, 22/02/2021, 13:00 h Atualizado em 22/02/2021, 13:18
     Deltan Dallagnol e a delegada Erika Marena 
(Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil - Divulgação)

Em nova petição apresentada pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (22), ficam evidentes novas ilegalidades cometidas pela Lava Jato. Procuradores da operação em Curitiba (PR) afirmaram, em diálogos, que a delegada da Polícia Federal Erika Marena lavrou o termo de depoimento de uma testemunha sem que ela tivesse sido ouvida.

Em uma conversa no dia 26 de janeiro de 2016, o procurador Deltan Dallagnol afirmou ao também procurador Orlando Martello Júnior: "Como expõe a Erika: ela entendeu que era pedido nosso e lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada... DPFs [delegado da polícia federal] são facilmente expostos a problemas administrativos". O teor das conversas foi publicado pela coluna de Mônica Bergamo.

"Podemos combinar com ela [Erika] de ela nos provocar diante das notícias do jornal para reinquiri-lo ou algo parecido", respondeu Martello. "Podemos conversar com ela e ver qual estratégia ela prefere. Talvez até, diante da notícia, reinquiri-lo de tudo. Se não fizermos algo, cairemos em descrédito. O mesmo ocorreu com padilha e outros. Temos q chamar esse pessoal aqui e reinquiri-los. Já disse, a culpa maior é nossa. Fomos displicentes!!! Todos nós, onde me incluo. Era uma coisa óbvia q não vimos. Confiamos nos advs e nos colaboradores. Erramos mesmo!", acrescentou.

"Concordo", responde Dallagnol. "Mas se o colaborador e a defesa revelarem como foi o procedimento, a Erika pode sair muito queimada nessa... pode dar falsidade contra ela... isso que me preocupa".

Erika Marena foi a delegada responsável pela operação que perseguiu reitores em Santa Catarina, prendendo ilegalmente Luiz Carlos Cancellier, então reitor da UFSC e que se suicidou depois de uma humilhação pública com acusações de corrupção na universidade. Em 2018, ela foi convidada por Sérgio Moro para integrar a equipe dele no Ministério da Justiça. Depois da saída dele, acabou exonerada.

Na petição encaminhada ao STF, a defesa do ex-presidente Lula apontou uma "gravíssima realidade" nas conversas dos procuradores de Curitiba. "Além de terem praticado inúmeras ilegalidades contra o aqui reclamante [Lula[, a construção de um cenário em que ele ocuparia a liderança máxima de uma afirmada organização criminosa envolveu o uso contumaz de depoimentos que jamais existiram", afirmou.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

É impossível seguir Jesus e se calar sobre Bolsonaro: traíram o Evangelho

        O presidente Jair Bolsonaro em Brasília     Imagem: Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo

Ronilso PachecoColunista do UOL 21/02/2021 04h00

Não são poucas as igrejas evangélicas e os evangélicos que têm demonstrado apoio irrestrito ou silêncio conivente com o governo bolsonarista. Até aí, estaria tudo bem, porque, gostemos ou não, são escolhas.

Como o campo evangélico é extremamente diverso, é comum a alegação de que evangélicos possuem posicionamentos diferentes e podem sustentar suas posições na Bíblia, porque isso seria uma questão de interpretação. Mas, definitivamente, não se trata de interpretação. Mas, definitivamente, não se trata de interpretação. A vida de Jesus está lá, nos quatro Evangelhos do Novo testamento para servir de referência.

A posição desses pastores — seus impérios, sua conivência com a política bem-sucedida de indiferença com os cuidados da população — é uma traição inquestionável do que é a vida de Jesus descrita nos quatro Evangelhos.

Homens como Silas Malafaia, Edir Macedo, Valdemiro Santiago e R.R. Soares não possuem qualquer compromisso com uma "forma" de ser evangélico. São interesseiros milionários. É inexplicável que líderes milionários se digam imitadores de alguém que mal tinha uma casa e fomentou que os ricos distribuíssem a riqueza que tinham.

Chega a ser doentio que esses pastores busquem conquistar o país com uma megaigreja em cada parte do território nacional, enquanto, na Bíblia, Jesus não teve qualquer apego aos templos por onde passou.

Aliás, as principais memórias sobre Jesus, os textos mais conhecidos sobre suas mensagens (o Sermão da Montanha talvez seja o maior deles) aconteceram em meio ao povo, na rua, nos montes, às margens de rios, e nunca no templo. É sintomático que, nas poucas ocasiões em que Jesus aparece no templo, ele tenha precisado fugir da elite religiosa, ameaçado de morte.

Isso não quer dizer que igrejas são desnecessárias, quer dizer que igrejas têm mais a ver com uma relação comunitária, cuidada por sua liderança, do que com um império de centenas de igrejas espalhadas pelo país e que torna o seu pastor-fundador absurdamente rico, milionário.

O império desses homens também criou uma geração de pastores "playboys" que ostentam preconceito, racismo religioso e homofobia. Pastores como André Valadão e Lucinho Barreto não são apenas pregadores ruins, são cínicos e desrespeitosos.

Como a pregação no púlpito de uma igreja também é algo que se aprende a fazer (as frases, as orações, as músicas, os gestos, o tom de voz, tudo pode ser ensinado e aprendido) eles apenas interpretam, cada um à sua maneira.

Lucinho Barreto é o homem que age como menino, brincando de "cheirar a Bíblia", incitando racismo religioso, gabando-se de atacar terreiros. Que diz que, contra bandido, o policial deve matar "descarregando a arma e jogar o revólver na cara no final".

Da mesma forma faz André Valadão, o menino rico que ostenta a boa vida em Orlando, nos Estados Unidos, enquanto acha estar defendendo a Bíblia ao dizer que "igreja não é lugar para gays".

Igreja Batista Lagoinha, Vitória em Cristo, Universal, Renascer, Sara Nossa Terra, Catedral do Avivamento, de Marco Feliciano, Igreja Batista Atitude, entre outras e suas respectivas lideranças não possuem nada, absolutamente nada, do que a vida de Jesus é. Consequentemente, elas ferem e traem quem deposita nelas a credibilidade de conhecimento e compromisso com o Evangelho.

Mas nem tudo vem do mundo pentecostal e seus pastores milionários, seus playboys inconsequentes. Não mesmo. A precariedade e perversidade políticas do governo Jair Bolsonaro (sem partido) também têm a chancela dos que fingem "racionalidade" e imparcialidade.

Órgãos como Convenção Batista Brasileira, Coalizão pelo Evangelho, Visão Nacional para a Consciência Cristã, Associação Nacional dos Juristas Evangélicos, Jocum (Jovens com uma Missão), entre outros, contribuem para blindar um governo que tem na violência sua principal linguagem, prioriza mais as armas do que as vacinas e continua atacando minorias sociais (e a democracia).

E, como o governo odeia tudo que tem aparência de "esquerda", "comunista" ou "progressista", esses homens (sempre homens) "ilustrados" da igreja usam o silêncio para chancelar tudo que o bolsonarismo tem raivosamente implementado, da política econômica à social.

Não há inspiração em Jesus possível aqui. Um país com um governo que patina no cuidado da saúde numa das maiores crises sanitárias de nossa história, com a economia secundarizada para os mais pobres, implorando por um auxílio emergencial para não tocar a fome, e o campo evangélico conservador e fundamentalista dividido entre os que olham ensimesmados para o céu e os que olham para suas contas bancárias e para os privilégios da sua igreja.

Rosa Weber envia à PGR acusação contra Bolsonaro por promoção da cloroquina

O documento do PDT pede que Bolsonaro seja investigado pela suposta “prática dos crimes de emprego irregular de verbas públicas e perigo para a vida ou saúde de outrem” e pela “dispensa de licitação para a produção de comprimidos de cloroquina”

21 de fevereiro de 2021, 15:18 h Atualizado em 21 de fevereiro de 2021, 15:18
  (Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE)

A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou à Procuradoria-Geral da República uma notícia-crime contra Jair Bolsonaro, apresentada pelo PDT, por promoção do uso da cloroquina no tratamento da Covid-19, segundo a Crusoé.

O documento pede que Bolsonaro seja investigado pela suposta “prática dos crimes de emprego irregular de verbas públicas e perigo para a vida ou saúde de outrem” e pela “dispensa de licitação para a produção de comprimidos de cloroquina”.

Cabe ao PGR, Augusto Aras, optar se prossegue ou arquiva o pedido.