domingo, 18 de junho de 2017

Ex-presidente da OAB diz que país vive politização da Justiça

Eduardo Anizelli/Folhapress 
Autor do pedido de impeachment de Collor, Lavenère diz que a crise atual é mais grave que a de 1964

Folha, 18/06/2017

Autor do pedido de impeachment que levou à queda de Fernando Collor em 1992 e membro da comissão de defesa de Dilma Rousseff, o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Marcello Lavenère critica a "politização do Poder Judiciário", com a "atuação de figuras midiáticas", segundo ele, como o ministro Gilmar Mendes e o juiz Sergio Moro.

Para ele, a única maneira de sair da atual crise é por eleições diretas.

Folha - A atual crise política é mais grave que em 1992?
Marcello Lavenère - Penso que é mais grave que em 1992. Como estou perto de 80 anos, vi crises políticas e acredito que seja mais grave até que o golpe militar de 1964.

No golpe militar temos uma quartelada que tinha como motivação lutar contra o comunismo. Perseguiram os comunistas, os subversivos, mas não perseguiram o país.

A ditadura não entregou as riquezas brasileiras na bacia das almas, como o golpe político-midiático que foi dado contra a presidenta Dilma, com o pretexto cínico de dizer que é contra a corrupção.

Nesta crise agora, estamos vendo uma situação muito mais grave, inclusive envolvendo o Judiciário, que não decide de acordo com o que está no processo. Decisões são a favor ou contra a opinião pública.

O Judiciário tem cometido excessos?
O Poder Judiciário, depois da Constituição de 1988, ganhou um protagonismo muito grande. O cidadão brasileiro começou a procurá-lo, até porque o acesso à Justiça foi negado na ditadura.

Depois de 1988, o Judiciário foi tão chamado para resolver as coisas que passou-se a falar em ativismo, que extrapola suas atribuições nucleares e passa a ter atuação em áreas que não seriam consideradas seu campo de atuação.

Falou-se em judicialização da política. Agora vivemos a politização do Judiciário. Há atuação de figuras muito midiáticas, como Gilmar Mendes, Sergio Moro, Deltan Dallagnol. E isso começou no mensalão, quando os órgãos de imprensa condenaram antes e o Judiciário ratificou uma posição já estabelecida.

Michel Temer tem condições de terminar o mandato?
Não. Não tinha nem para iniciar, pois iniciou por um golpe. E está se mantendo às custas de procedimentos contrários à Constituição.

Deve haver eleições diretas?
Se o presidente golpista sair, ninguém em sã consciência admite que o Congresso, que já mostrou sua ilegitimidade porque é todo investigado, tem condições de fazer eleições indiretas. Se houver eleição indireta, vai continuar a crise. Se vier o presidente da Câmara [Rodrigo Maia], o senador Tasso Jereissati, Henrique Meirelles, vai continuar o povo na rua, economia complicada, desemprego, o desmonte do país. A única forma que tem hoje é eleição direta.

Como vê a decisão da OAB de pedir o impeachment?
O que a OAB fez é uma decisão a meu ver equivocada, porque o que a consciência cívica e brasileira está pedindo é que o presidente Temer, o golpista, renuncie, seja afastado, para que haja eleições diretas. Se esse pedido de impeachment for aceito, vai acontecer o quê? Se ele for processado, vai levar oito meses, um ano. Quando chegar a hora de decidir, o presidente vai sair porque cumpriu o mandato que o golpe lhe conferiu.

Como imagina que o Brasil pode sair dessa crise?
Só com diretas, imediatamente. Se o país quiser tomar esse caminho que esse governo está tomando, essa linha pós-neoliberal, de desmonte, tudo bem, o povo é que vai decidir.

Ou não, vamos para o caminho contrário, um governo nacionalista, que proteja nossas empresas, a Amazônia. Não se pode dizer que é inconstitucional respeitar o artigo 1º da Constituição, que diz que todo o poder emana do povo.

sábado, 17 de junho de 2017

O mal por si se destrói

Se ficar confirmado que o golpe e os golpistas estão acabados, teremos mais uma vez a confirmação do ditado popular de que "O mal por si se destrói".

O equilíbrio precário da aliança PMDB/PSDB


"O PSDB foi devorado pelo jogo pesado do PMDB. Se a cúpula tucana não enquadrasse os que defendiam a ruptura com Temer e a entrega imediata dos cargos no governo federal, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) também não teria os votos dos peemedebistas no conselho de ética do Senado", diz o jornalista Leonardo Attuch, editor do 247.

"O equilíbrio da aliança PSDB-PMDB, no entanto, é extremamente precário e pode desmoronar já na próxima terça-feira, quando um pedido de prisão formulado pelo procurador-geral Rodrigo Janot será levado ao plenário do Supremo Tribunal Federal. A se repetir a maioria formada no julgamento de um habeas corpus impetrado pela defesa de sua irmã Andréa Neves, Aécio será preso", diz ele.

"Portanto, os tucanos não terão mais motivos para se enfileirar nas trincheiras de Temer, que também sofrerá novos desgastes com a denúncia de Janot".

Joesley derruba o mito da ligação LulaFriboi


A entrevista bombástica do empresário Joesley Batista, em que ele apontou Michel Temer como chefe da "maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil", também serviu para desmontar uma lenda urbana: a de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus parentes seriam sócios da JBS, dona da marca Friboi.

Num determinado trecho, o jornalista de Época questiona por que Joesley nunca gravou Lula e a resposta veio direta: "porque eu nunca tive uma conversa não republicana com o Lula".

Joesley disse ainda que só esteve com Lula uma única vez enquanto ele foi presidente – o encontro ocorreu em 2006, quando assumiu o comando da empresa.

Em sua nota, Temer diz que Joesley protegeu o PT, alegando que a JBS que a empresa cresceu no governo Lula e não no dele.

A realidade, no entanto, mostra que praticamente todas as empresas brasileiras cresceram com Lula e afundaram com o golpe.

Moro terá 15 dias para explicar liberação dos áudios de Lula


O juiz Sérgio Moro terá que explicar ao corregedor nacional de Justiça os motivos pelos quais autorizou a divulgação de conversas telefônicas entre os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff.

A medida é questionada, pois Moro não tinha autorização judicial para gravar diálogos da presidenta do País.

O juiz federal tem prazo de 15 dias para enviar as explicações para o corregedor João Otávio de Noronha.

Joesley e a Globo


"A Globo capturou as manifestações de 2013 e as colocou em sua grade de programação – com agendas e transmissões ao vivo – para fazer daquelas 'jornadas' o primeiro movimento manipulado de massas com vistas a tirar o PT do poder. Deu no que deu: em três anos, ajudou a colocar essa quadrilha chefiada por Michel Temer no Palácio do Planalto", diz o jornalista Leandro Fortes.

"Agora, anuncia um desembarque triunfante, entregando Temer aos leões, mas com o cuidado recorrente de se tornar dona do processo para que, como de costume, as coisas possam mudar de tal forma que permaneçam da mesma forma que estão".

Segundo ele, a Globo decidiu trabalhar pelas Indiretas Já e "decidiu capturar, também, o #ForaTemer, depois de ter sido a protagonista do golpe que colocou essa gente no poder".

Aécio é o primeiro caso de usuário de tornozeleira moral


O jornalista Fernando Brito, do blog Tijolaço, avalia a situação delicada de Aécio Neves, que teve negado o pedido para que fosse julgado pelo pleno do Supremo Tribunal Federal.

"Com isso, Aécio vai ser julgado pelos mesmo ministros que, semana passada, decidiram manter presa sua irmã, Andrea, por três votos a dois", lembra Brito.

"Não creio, porém, que vá fazer grande diferença, porque Aécio Neves, depois da “saidinha” para se reunir com o tucanato e tentar mostrar que não está no fundo do poço, vai ter de seguir em sua prisão domiciliar. Aécio Neves é o primeiro caso que se conhece de usuário de tornozeleira moral", escreve o jornalista.

PF ouve delatores e quer saber função de Geddel no esquema


A Polícia Federal vem colhendo depoimentos de delatores da JBS e de investigados no inquérito que envolve o presidente Michel Temer, com o objetivo de descobrir se eles sabiam dos pagamentos para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do doleiro Lúcio Funaro.

Um dos alvos agora é o ex-ministro Geddel Vieira Lima.

PF quer saber, por exemplo, qual o papel de Geddel no esquema: se ele perguntava aos funcionários da JBS e aos familiares do doleiro sobre pagamentos.

Zanin diz que Joesley foi incapaz de apontar qualquer crime de Lula


"A entrevista de Joesley Batista tem que ser entendida no contexto de um empresário que negocia o mais generoso acordo de delação premiada da história. Mesmo nesse contexto, Batista foi incapaz de apontar qualquer ilegalidade cometida, conversada ou do conhecimento do ex-presidente Lula. Considerações genéricas e sem provas de delatores não podem ser consideradas como dignas de crédito e não têm qualquer valor jurídico", diz o advogado Cristiano Zanin Martins.

Temer decide processar Joesley, mas não explica propinas


Em nota divulgada neste sábado, Michel Temer anunciou que irá processar o empresário Joesley Batista, que o chamou de chefe da "maior e mais perigosa quadrilha" do Brasil.

"Na segunda-feira, serão protocoladas ações civil e penal contra ele. Suas mentiras serão comprovadas e será buscada a devida reparação financeira pelos danos que causou, não somente à instituição Presidência da República, mas ao Brasil. O governo não será impedido de apurar e responsabilizar o senhor Joesley Batista por todos os crimes que praticou, antes e após a delação", diz Temer.

Na nota, no entanto, ele não explica porque Rodrigo Rocha Loures, seu ex-assessor especial, recebeu uma mala com R$ 500 mil em propinas, depois de ser indicado para ser o interlocutor de Temer com a JBS.