segunda-feira, 13 de março de 2017

Padilha tem moral demais ou Temer não tem moral nenhuma?

PADILHA DESAFIA TEMER E DIZ QUE NÃO SERÁ DEMITIDO NEM SE FOR RÉU NA LAVA JATO

Citado por diversos delatores da Odebrecht como tesoureiro informal do PMDB, e também acusado de usar quatro senhas para receber R$ 5 milhões em propina, dos R$ 10 milhões acertados no jantar do Jaburu com a presença de Michel Temer, Eliseu Padilha fez um desafio público a seu chefe.

Em entrevista ao Globo, Padilha disse que não se enquadra em nenhuma linha de corte dos ministros que podem vir a ser demitidos em razão da Lava Jato.

Há três semanas, Temer disse que todos os ministros que se tornarem réus serão demitidos, mas Padilha garantiu que essa regra não vale para ele.

Parte da propina do PMDB foi entregue no escritório de José Yunes, melhor amigo de Temer.

O governo apodrece em praça pública, mas são intensos os movimentos para salvar o cadáver, como demonstra ida de Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ao Jaburu.

Padilha quer liderar a reforma da Previdência, que pode deixar 70% dos brasileiros sem aposentadoria, segundo o Dieese.

Emilio Odebrecht diz que Caixa 2 existe desde a época de seu pai

No depoimento que prestou ao juiz Sergio Moro nesta segunda-feira 13, e que está sob sigilo por determinação do magistrado, mas cujo conteúdo foi vazado, o executivo Emílio Odebrecht, presidente do Conselho de Administração da empreiteira, relatou que “sempre existiu” caixa 2 na construtora para doações de campanhas não eleitorais.

“Sempre existiu. Desde a minha época, da época do meu pai e também de Marcelo [Odebrecht]”, disse o patriarca.

Ele falou como testemunha de defesa de seu filho, Marcelo, que está preso no âmbito da Lava Jato.

Gilmar Mendes, ministro do Supremo, é peça chave do golpe

Qualquer pessoa consegue perceber que Gilmar age no sentido de consolidar o golpe


"Ele procura constituir uma narrativa do golpe. Com a sua autoridade, ele fala pelo golpe e procura naturalizar situações e questões que não podem ser naturalizadas. Mas hoje, Gilmar Mendes se superou", diz o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) em vídeo.

O deputado critica a tese do ministro do STF de que é preciso diferenciar caixa 2 de propina e ainda a defesa de que é preciso considerar o cenário político para o julgamento contra Temer no TSE.

Bolsonaro expõe seu fascismo sem máscara


"Bolsonaro não esconde quem é: ele expõe seu fascismo sem máscara", diz o cientista político Luis Felipe Miguel sobre a entrevista do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) publicada pela Folha nesta segunda-feira, 13.

"Se seus seguidores fossem só os brutalizados pelas condições de vida, sem acesso à informação e às ferramentas cognitivas para processá-la criticamente, já seria assustador. Mas os melhores índices do deputado marginal estão entre os mais escolarizados. Seu discurso, por mais primário que seja, consegue capitalizar os receios difusos que os desafios às hierarquias geram naqueles que realmente são ou pelo menos se julgam privilegiados", alerta.

Ministro do TSE censura trecho do caixa dois de Aécio Neves de R$ 9 milhões


Ministro Herman Benjamin, relator no processo que pede a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, atendeu a um pedido do PSDB e determinou que seja "tarjado" trecho do depoimento de Benedicto Barbosa da Silva Júnior, da Odebrecht, que citava Aécio Neves; o partido argumentou no pedido que as menções à sigla e à candidatura de Aécio se prestaram apenas a "uma indevida exploração política patrocinada junto à imprensa, com a finalidade exclusiva de causar danos à imagem do PSDB, e ao seu presidente, Aécio Neves"; Benedicto Júnior apontou o caixa dois de R$ 9 milhões dos senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Antonio Anastasia (PSDB-MG), que foram peças centrais no golpe de 2016.

Gilmar vai a Temer às vésperas da delação que pode cassá-lo

Uma relação indecente, imoral e aética
 

Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que, em tese, julga abusos que podem custar o mandato de Michel Temer, Gilmar Mendes foi ao encontro do investigado neste domingo 12, em pleno Palácio do Jaburu.

Temer já foi citado por diversos delatores, por ter participado de um jantar em que se combinou uma propina de R$ 10 milhões para o PMDB – boa parte dela paga em dinheiro para Eliseu Padilha, que, nesta segunda-feira, reassumiu a Casa Civil.

Nesta segunda, Gilmar disse que o cenário político do País – que está em instabilidade profunda desde o golpe de 2016 – será levado em conta pelos ministros do TSE e também afirmou que Temer poderá ser candidato numa eleição indireta, mesmo que seja cassado.

domingo, 12 de março de 2017

Fordlândia:Uma utopia americana na Amazônia

Na floresta amazônica, as ruínas da terra da fantasia de Ford

SIMON ROMERO, EM FORDLÂNDIA (AMAZONAS)THE NEW YORK TIMES

Bryan Denton/The New York Times


A selva amazônica já engoliu o campo de golfe Winding Brook. Enchentes arrasaram o cemitério, deixando para trás um monte de cruzes de concreto. O hospital de cem leitos projetado pelo aclamado arquiteto de Detroit Albert Khan foi destruído por saqueadores.

Diante da escala de decadência e decrepitude nesta cidade --fundada em 1928 pelo empresário Henry Ford em paragens longínquas da bacia Amazônica--, eu não esperava encontrar as residências imponentes, muitas delas bem preservadas, na Palm Avenue. Mas lá estavam elas, graças aos invasores.

"Esta rua foi um paraíso dos saqueadores. Os ladrões levaram móveis, maçanetas, tudo o que os americanos deixaram para trás", disse Expedito Duarte de Brito, 71, um leiteiro aposentado que vive em uma das casas construídas para os gerentes de Ford no que deveria ser uma cidade de plantação utópica. "Eu pensei: 'Ou eu ocupo este pedaço da história ou ele se somará às outras ruínas de Fordlândia'", disse Brito.

Bryan Denton/The New York Times

Em mais de uma década de reportagens na América Latina, fiz dezenas de viagens à Amazônia, atraído frequentemente por seus enormes rios, os céus magníficos, cidades pujantes, civilizações perdidas e histórias de ousadia consumida pela natureza. Mas por algum motivo nunca cheguei a Fordlândia.

Isso mudou finalmente, quando embarquei em um barco fluvial neste ano em Santarém, um posto avançado na confluência dos rios Amazonas e Tapajós, e fiz a viagem de seis horas até o lugar onde Ford, um dos homens mais ricos do mundo, tentou transformar uma enorme extensão da selva brasileira em uma terra da fantasia do Meio-Oeste americano.

Explorei o posto a pé, percorrendo as ruínas e conversando com garimpeiros, agricultores e descendentes de trabalhadores rurais que vivem aqui. Sem nada de cidade perdida, Fordlândia abriga cerca de 2.000 pessoas, algumas das quais vivem nas estruturas desmoronadas construídas há quase um século.

Bryan Denton/The New York Times

Ford, o fabricante de automóveis que é considerado um fundador dos métodos de produção em massa industriais dos EUA, tramou seu projeto da Fordlândia em uma aposta para produzir sua própria fonte de borracha, necessária para fazer pneus e peças de carros como válvulas, mangueiras e vedações.

Ao fazê-lo, ele invadiu uma indústria moldada pelo imperialismo e alegações de suposta finalidade botânica. O Brasil era o lar da Hevea brasiliensis, a cobiçada seringueira que produz a borracha, e a bacia Amazônica floresceu de 1879 a 1912 enquanto as indústrias da América do Norte e da Europa alimentaram a demanda por borracha.

Para decepção dos líderes brasileiros, porém, Henry Wickham, um botânico e explorador britânico, contrabandeou milhares de sementes da seringueira em Santarém, fornecendo a matriz genética para as plantações de borracha nas colônias britânicas, holandesas e francesas na Ásia.














Esses empreendimentos do outro lado do mundo devastaram a economia da borracha no Brasil. Mas Ford não queria depender dos europeus, temendo uma proposta de Winston Churchill para criar um cartel da borracha. Por isso, em uma medida que agradou às autoridades brasileiras, Ford adquiriu um vasto terreno na Amazônia.

Desde o início, a inaptidão e a tragédia prejudicaram o empreendimento, meticulosamente documentado em um livro do historiador Greg Grandin que li no barco enquanto subia o Tapajós. Desdenhando os especialistas que poderiam tê-lo aconselhado sobre agricultura tropical, os homens de Ford plantaram sementes de valor duvidoso e deixaram as doenças das folhas assolarem a plantação.

Apesar desses reveses, Ford construiu uma cidade em estilo americano, que ele queria que fosse habitada por brasileiros conduzidos pelo que ele considerava valores americanos.
Bryan Denton/The New York Times

Os empregados se mudaram para bangalôs feitos de madeira compensada --projetados em Michigan, é claro--, alguns dos quais ainda estão de pé. Postes de rua iluminavam as calçadas de concreto. Partes desses caminhos persistem na cidade, ao lado de hidrantes vermelhos e à sombra de salões de dança decadentes e armazéns desmoronados.

"Afinal, Detroit não é o único lugar onde Ford produziu ruínas", disse Guilherme Lisboa, 67, dono da Pousada Americana.

Além de produzir borracha, Ford, um declarado abstêmio, antissemita e cético da Era do Jazz, queria claramente que a vida na selva fosse mais transformadora. Seus gerentes americanos proibiam o consumo de bebida alcoólica, enquanto promoviam a jardinagem, a dança de quadrilha e leituras de poemas de Emerson e Longfellow.

Indo mais longe na busca da utopia por Ford, esquadrões sanitários atuavam em todo lugar, matando cães sem dono, secando poças de água onde poderia se multiplicar o mosquito transmissor da malária e examinando os empregados em busca de doenças venéreas.

Bryan Denton/The New York Times

"Com uma certeza de propósito e falta de curiosidade sobre o mundo que parece muito conhecida, Ford deliberadamente rejeitou conselhos de especialistas e decidiu transformar a Amazônia no Meio-Oeste de sua imaginação", escreveu o historiador Grandin em seu relato da cidade.

Hoje, as ruínas de Fordlândia são um testamento da loucura de tentar dobrar a selva à vontade do homem.

Desejando promover o automóvel como uma forma de recreação --juntamente com o campo de golfe, as quadras de tênis, um cinema e piscinas--, os gerentes estenderam quase 50 km de ruas em Fordlândia. Mas os carros estão em geral ausentes da cidade de pistas enlameadas, eclipsados pelas motocicletas encontradas em todas as cidades amazônicas.

No final da Segunda Guerra Mundial, estava claro que cultivar seringueiras em Fordlândia não poderia ser rentável diante das pragas e da concorrência da borracha sintética e das plantações asiáticas libertas da dominação japonesa.
Bryan Denton/The New York Times


Depois que Ford entregou a cidade ao governo brasileiro, em 1945, as autoridades transferiram Fordlândia de um órgão público para outro, principalmente para experiências malsucedidas de agricultura tropical. A cidade entrou em um estado de declínio aparentemente perpétuo.

"Nada acontece aqui, e é assim que eu gosto", disse Joaquim Pereira da Silva, 73, um agricultor de Minas Gerais que seguiu sua estrela até Fordlândia em 1997. Hoje ele vive na Palm Avenue em uma antiga casa americana que comprou por R$ 20 mil de um invasor que a havia consertado.

"Os americanos não tinham ideia sobre a borracha, mas sabiam construir coisas duradouras", disse ele.

Alguma coisa na utopia fracassada impressionou estudiosos e artistas em outras partes do mundo. A Fordlândia inspirou um disco de 2008 do compositor islandês Johann Johannson e um romance de 1997 de Eduardo Squiglia sobre um aventureiro argentino que viaja até aqui para recrutar trabalhadores agrícolas.


Alguns descendentes dos trabalhadores que se instalaram em Fordlândia, juntamente com migrantes de outras partes do Brasil, têm pequenos terrenos onde pasta o gado zebu. Outros plantam mandioca em áreas onde as seringueiras foram derrubadas décadas atrás. Muitos sobrevivem com pequenos pagamentos do governo ou aposentadorias.

Depois há os moradores como Eduardo Silva dos Santos, nascido há 66 anos no hospital projetado por Khan, o arquiteto que desenhou grande parte da Detroit do século 20. Santos hoje mora em uma pequena casa perto das ruínas do hospital.

Procurando material deixado pelos americanos, ele criou uma lanterna para pesca com velhas peças de carros e um moedor de especiarias com máquinas descartadas. Santos tem opiniões mistas sobre a Fordlândia administrada pelos americanos, já que ele cresceu lá depois que Ford desativou a cidade.
Bryan Denton/The New York Times

"Este lugar na época de Ford era limpo, não tinha insetos nem animais, nem selva na cidade", disse Santos, um de 11 filhos de uma família que dependia da borracha.

"Meu pai trabalhou para eles", disse ele, "e fez o que lhe mandaram fazer. Os trabalhadores são como cachorros: obedecem."

Mas para decepção de Ford às vezes eles não obedeciam.

Os gerentes tentavam aplicar a proibição do álcool, mas os trabalhadores simplesmente pegavam barcos até uma ilha próxima cheia de bares e bordéis. E em 1930 os trabalhadores cansados de comer a dieta de Ford, de aveia, pêssegos em calda e arroz integral, em um refeitório quentíssimo, fizeram uma greve geral.

Quebraram relógios de ponto, cortaram a eletricidade da plantação e cantaram "Brasil para os brasileiros; matem todos os americanos", obrigando alguns gerentes a fugir pela selva.
Bryan Denton/The New York Times

A Amazônia oferecia seus próprios desafios aos americanos. Alguns não conseguiram se adaptar às condições, sofrendo crises de nervos. Um deles se afogou quando uma tempestade no rio Tapajós virou seu barco. Outro gerente partiu depois que três de seus filhos morreram de febres tropicais.

Ford poderia ter evitado essas tragédias, e a administração ruinosa da plantação, se tivesse buscado conselhos de especialistas para cuidar das seringueiras ou de estudiosos sobre a capacidade do Amazonas de frear aventuras grandiosas. Mas ele parecia detestar aprender com o passado.

"A história é besteira", disse Ford a "The New York Times" em 1921. "Que diferença faz saber quantas vezes os gregos antigos voaram suas pipas?"

quarta-feira, 8 de março de 2017

Virou suruba: Gilmar diz que Congresso pode eleger Temer se TSE cassá-lo

Ele perdeu uma boa oportunidade de ficar calado!

Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Gilmar Mendes disse que Michel Temer pode ser eleito presidente indiretamente pelo Congresso Nacional se o TSE decidir cassá-lo.
 
Nos próximos dias, o ministro Herman Benjamin, do TSE, deve propor a cassação de Temer, diante das evidências de que ele pediu R$ 10 milhões pagos pelo departamento de propinas da Odebrecht.
 
No entanto, pela lógica de Gilmar, o Brasil pode não se livrar de Temer, mesmo com a condenação pelo TSE.
 
O golpe já fez com que os brasileiros ficassem 9,1% mais pobres e continua arruinando o País.

terça-feira, 7 de março de 2017

'Fui condenado por chamar uma corrupta de corrupta', diz ex-deputado

Edson Silva - 1º.out.2012/Folhapress

O ex-deputado Fernando Chiarelli (PT do B), em 2012, quando se preparava para um debate eleitoral

 Folha, 05/03/2017 02h00

"Fui condenado e preso por chamar uma pessoa corrupta de corrupta". O ex-deputado federal Fernando Chiarelli é um homem que tem raiva. Muita raiva.

No dia 2 de agosto do ano passado, momentos antes de ter sua candidatura a prefeito de Ribeirão Preto (SP) oficializada pelo PT do B, Chiarelli foi detido por três agentes da Polícia Federal.

O motivo da prisão era e é incomum, ainda mais em tempos de Lava Jato. O ex-deputado havia sido condenado a um ano e oito meses de detenção pela Justiça Eleitoral (semiaberto) porque, quatro anos antes, chamara a então prefeita da cidade, Dárcy Vera (PSD) de "desonesta", entre outros termos nada lisonjeiros ("ave de mau agouro", "criatura maldita" etc).

Chiarelli foi, então, levado para a penitenciária de Tremembé e lá ficou por 45 dias, até obter um habeas corpus. "Foi constrangedor", diz o ex-parlamentar, que perdeu o direito de concorrer na eleição.

Quase três meses depois, veio a redenção. Chiarelli preparava-se para fazer uma caminhada quando a televisão noticiou a prisão de Dárcy numa operação da PF intitulada "Mamãe Noel".

De acordo com o Ministério Público, a hoje ex-prefeita participou de um esquema de fraudes em contratos da ordem de R$ 203 milhões.

"A investigação indica que [Dárcy] era a chefe, tinha proeminência, atuava na organização dessas fraudes, desses crimes", afirmou, à época, o procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio.

Dárcy permaneceu 11 dias na cadeia e, desde então, vive reclusa em sua casa. Seus bens estão bloqueados.

"Eu era chamado de aloprado, de insano. Mas já sabia. Fui levado para a cadeia, como se fosse um bandido, enquanto ela seguia saqueando", diz o ex-deputado.

Procurada pela Folha, a ex-prefeita não atendeu aos pedidos de entrevista. A advogada Maria Cláudia de Seixas, que a representa, disse que Dárcy vai provar sua inocência e que ela nega enfaticamente ter recebido propina ou participado de um conluio para desviar verbas.

Para a advogada, não dá para relacionar o caso do ex-deputado com a situação da ex-prefeita. "Uma coisa não se confunde com a outra."

SEM TRAVAS NA LÍNGUA

Chiarelli é um político que foge ao figurino tradicional. Nacionalista "como o personagem de Lima Barreto" [de "Triste Fim de Policarpo Quaresma", 1915], ele não tem trava alguma na língua.

Em 1995, foi cassado pela Câmara de Ribeirão após ser acusado de chamar um colega de "aleijado". Dárcy Vera entrou no seu lugar.

Catorze anos depois, suplente de deputado federal, assumiu a vaga após a morte de um parlamentar e, num discurso, declarou que o "Judiciário é o poder mais corrupto que existe".

Na tribuna também, "João sem Medo", como se autodenominava, afirmou que um ministro merecia cadeia – Wagner Rossi, que posteriormente deixou o cargo para se defender de acusações de irregularidades–, chamou os líderes partidários de "líderes de quadrilha" e disse que a Câmara dos Deputados "funcionava à base da extorsão". Dilma Rousseff, recém eleita para o primeiro mandato, era, nas palavras do orador, "a abobada que acaba de ser eleita presidenta".

No processo em que o juiz Luís Augusto Freire Teotônio o condenou por calúnia, difamação e injúria por ofensas à ex-prefeita de Ribeirão, há outro episódio inusitado.

Segundo o relato do magistrado na sentença condenatória, Chiarelli chegou a desafiar um juiz para um duelo após a concessão de um direito de resposta à sua adversária no programa eleitoral.

"Não se tratava de um duelo físico, como Davi e Golias", diz o ex-deputado. "Eu estava apenas desafiando o juiz a provar que o que eu falei não era verdade", explica. Chiarelli havia dito num debate na TV que "Carminha", como costumava chamar a então prefeita, em referência à vilã da novela "Avenida Brasil", da Globo, havia batido numa empregada doméstica.

"Você colocou o rosto dela no vaso sanitário", afirmou. Algo, aliás, que ele não tem como atestar que ocorreu. "Não houve agressão", contesta a advogada de Dárcy.

Professor de inglês e tradutor, Chiarelli, 55 anos, diz que nasceu pobre e que ainda mora na mesma casa construída pelo seu pai.

Ao falar sobre a temporada que passou na penitenciária, ele se diz muito indignado. "Se tivesse cometido um homicídio. Se tivesse roubado ou cometido peculato. Mas preso por calúnia?"

O ex-deputado corre o risco de voltar para a cadeia. No final do ano, foi novamente condenado (sete meses de detenção em semiaberto) em um outro processo por difamação, pelo mesmo juiz, contra a mesma ex-prefeita.

Decisão do Supremo fecha a lavanderia eleitoral

Uol/Josias de Souza 07/03/2017


Responsável pelos processos da Lava Jato, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal transformou em réu o senador Valdir Raupp (PMDB-RO). Fez isso ao acatar denúncia na qual a Procuradoria-Geral da República acusa Raupp de receber da construtora Queiroz Galvão propina de R$ 500 mil camuflada de doação eleitoral com registro no TSE. A decisão acomoda uma corda no pescoço de todos os políticos que tentam escapar de processos do petrolão alegando que doação eleitoral oficial não pode ser tachada de propina.

Raupp terá agora a oportunidade de se defender em ação penal que correrá no Supremo enquanto ele tiver mandato de senador. De acordo com a Procuradoria, ele recebeu da Queiroz Galvão, na campanha de 2010, dinheiro desviado de contratos firmados com a Petrobras. Raupp alegara que se tratava de doação legal. O relator da Lava Jato no Supremo, ministro Edson Fachin, considerou que há indícios do cometimento de dois crimes: corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Decano da Suprema Corte, o ministro Celso de Mello despejou água fria nas expectativas dos investigados da Lava Jato que sonhavam em transformar o Tribunal Superior eleitoral em lavanderia de verbas sujas. “A prestação de contas pode constituir meio instrumental do crime de lavagem de dinheiro se os recursos financeiros doados, mesmo oficialmente, a candidatos e partidos, tiverem origem criminosa resultante da prática de outro ilícito penal, como crimes contra a administração pública”, disse o ministro.

Celso de Mello prosseguiu: “Configurado esse contexto, que traduz uma engenhosa estratégia de lavagem de dinheiro, a prestação de contas atuará como dissimulação do caráter delituoso das quantias doadas. Os agentes da conduta criminosa objetivaram, por intermédio da Justiça Eleitoral, conferir aparência de legitimidade a doações manchadas em sua origem pela nota da delituosidade.”

Houve uma divisão entre os cinco ministros da Segunda Turma. Além de Celso de Mello, apenas Ricardo Lewandowski acompanhou integralmente o voto do relator Fachin. Outros dois ministros, Gilmar Mendes e Dias Toffoli ratificaram a denúncia da Procuradoria apenas na parte em que Raupp é acusado de corrupção Passiva. Ambos rejeitaram a imputação de lavagem de dinheiro.

O ministro Gilmar Mendes, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral, soou como se estivesse incomodado em ter de criminalizar doações formais de campanha. Mas acabou votando a favor do recebimento da denúncia em relação ao crime de corrupção passiva imputado a Raupp. Com a maioria já formada, foi seguido por Toffoli, seu antecessor na presidência do TSE.

No escândado do petrolão, o PT foi o primeiro a abusar da inteligência alheia ao tentar qualificar propinas como doações eleitorais. Mas o próprio Michel Temer acabou enveredando pela mesma trilha. Em defesa apresentada no processo sobre a cassação da chapa encabeçada por Dilma Rousseff nas eleições de 2014, a defesa de Temer imitou o petismo.

“Doação recebida e declarada de pessoa jurídica com capacidade contributiva, independentemente do que diga um delator, não é caixa dois”, anotou a defesa de Temer. Seus advogados acabaram arrastando o PSDB, autor da ação que corre no TSE, para a mesma vala comum. “Até porque, como visto, o partido-autor foi agraciado com vultosas quantias das mesmas empresas, logo, não há mau uso da autoridade governamental pelos representados [Dilma e Temer].”

Essa argumentação consta de petição protocolada pelos advogados de Temer no TSE em fevereiro de 2016. O que a peça afirmou, com outras palavras, foi o seguinte: 1) se a doação financeira foi registrada na Justiça Eleitoral, não importa que o dinheiro tenha sido roubado dos cofres da Petrobras. 2) ao sorver verbas das mesmas fontes que irrigaram a campanha Dilma—Temer, o PSDB de Aécio Neves foi hipócrita ao enxergar lama na chapa adversária sem se dar conta de que sua campanha presidencial frequentou a mesma poça.

Hoje, Dilma é ex-presidente e Temer, seu substituto constitucional, tem no PSDB de Aécio seu principal aliado depois do PMDB. É contra esse pano de fundo que a turma do Supremo informou que propina não se confunde com doação eleitoral.