À frente do Ministério da Justiça desde a posse de Michel Temer, Alexandre de Moraes protagonizou mais falhas do que qualquer cargo pode suportar". No começo de janeiro, em meio a verdadeiro caos penitenciário, suas reações equivocadas e oscilantes despertaram a articulação no meio jurídico para que renunciasse ou fosse exonerado.
A mais recente crítica foi relativa à afirmação do ministro de que o Estado de Roraima, palco de carnificina de 30 detentos, não pedira apoio ao Ministério da Justiça para crise em seu sistema prisional.
Moraes foi desmentido logo em seguida por documento divulgado pelo jornal O Globo que mostrava justamente o contrário. Então, recuou e disse que o apoio requerido era para "segurança pública" e não por "sistema carcerário".
Novamente, o ofício assinado pela governadora do Estado Suely Campos contradisse a fala do ministro, uma vez que dispõe pedido de ajuda para o sistema prisional, o que foi negado expressamente pelo ministro.
Em setembro do ano passado, em plena campanha eleitoral, Moraes prometeu ao grupo neofascista MBL que nova fase da operação Lava Jato ocorreria dali a poucos dias contra o PT. Tudo isso em ato de campanha do candidato tucano à prefeitura de Ribeirão Preto. No dia seguinte, o ex-ministro dos governos Lula e Dilma Antonio Palocci foi preso.
Logo que assumiu a pasta da Justiça, em maio do ano passado, Moraes pregou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que o governo pare de nomear o procurador-geral da República a partir da tradição de escolher o mais votado de uma lista tríplice encaminhada pelo Ministério Público Federal, o que já denotava estratégia para blindar o presidente da República contra investigações e processos por corrupção, já que o PGR é o único que pode denunciar presidentes da República.
Esse é o perfil do sucessor indicado por Michel Temer nesta segunda-feira para a vaga do falecido ministro Teori Zavascki no STF.
Porém, se fossem só as gafes, não seria nada. O que é mais escandaloso na indicação que o presidente da República acaba de fazer é que Moraes, além de ser filiado ao PSDB, é membro de um governo que está sendo investigado pelo STF, já que praticamente todo o ministério e o próprio presidente foram citados por delatores da Lava Jato.
Durante os governos Dilma e Lula, nomear ministros para o STF era uma temeridade. A mídia, que levanta campanhas contra ou a favor de medidas de governos e o Senado, que tem a prerrogativa de sabatinar e votar as indicações de ministros do STF queriam saber até os pensamentos mais recônditos dos indicados pelos presidentes petistas.
Agora em evidência por assumir a relatoria da Lava Jato no STF, o ministro Edson Fachin, em maio de 2016, foi sabatinado por 12 horas antes de ter sua indicação aprovada pelo Senado, pois suspeitavam de que pudesse ser muito de esquerda, mesmo sem ser filiado ao PT. Ele teve que garantir que não era "muito de esquerda" para ser aprovado, e toma suas decisões assombrado pelo estigma de "esquerdista".
Tudo isso sem falar na denúncia do jornal carioca Extra que vincula o provável novo ministro do Supremo ao PCC e da tese de doutorado dele mesmo que diz que membros do governo não podem ser indicados ao STF.
Temos visto, nos Estados Unidos, o novo presidente, Donald Trump, substituir juízes da suprema corte segundo seus interesses políticos e ideológicos. Como se vê, só os governos petistas foram honestos – ou ingênuos – o suficiente para não fazer valer o poder da Presidência da República. Por isso o PT, Lula e o governo Dilma foram massacrados.