quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Campanha de Temer pagou quase R$ 2 milhões a gráfica de cliente de Padilha


Montante foi repassado pela campanha de Michel Temer à vice-presidência em 2014 à Noschang Artes Gráficas, com sede em Tramandaí, Rio Grande do Sul, cidade onde o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, já foi prefeito.

O proprietário da empresa é Paulo Noschang, cliente do escritório de advocacia do ministro, que na época era deputado federal e integrava a coordenação nacional do PMDB na eleição presidencial.

As empresas ligadas ao empresário também receberam R$ 851 mil da Fundação Ulysses Guimarães, ligada ao PMDB, e que foi presidida pelo atual ministro entre 2007 e 2015.

Entre 2014 e 2015, o comitê de campanha de Temer e a Fundação Ulysses Guimarães pagaram cerca de R$ 2,8 milhões a Noschang.

Senado aprova fim das coligações e diminuição de partidos

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A PEC 36 será agora votada em 2º turno e depois seguirá para Câmara dos Deputados até o final do mês

Em 1º turno, Senado aprova fim da coligações e diminuição de partidos, Votação no Senado. Fim das coligações
Os senadores aprovaram em primeiro turno, com 58 votos favoráveis e 13 contrários, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 36 que acaba com as coligações partidárias nas eleições proporcionais (vereadores e deputados) e cria uma cláusula de barreira para a atuação dos partidos políticos.
O objetivo é diminuir o número de legendas partidárias no país.
A PEC, aprovada ontem, 9, ainda terá de ser votada em segundo turno pelos senadores antes de ser enviada para a Câmara, o que deve ocorrer até o fim do mês.
De autoria dos senadores do PSDB Ricardo Ferraço (ES) e Aécio Neves (MG), a PEC 36 foi aprovada na forma do substitutivo apresentado pelo relator, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
De acordo com o texto, as coligações partidárias nas eleições para vereador e deputado serão extintas a partir de 2020. Atualmente, os partidos podem fazer coligações, de modo que as votações das legendas coligadas são somadas e consideradas como um grupo único no momento de calcular a distribuição de cadeiras no Legislativo.
Barreira
Quanto à cláusula de barreira (ou cláusula de desempenho), a PEC cria a categoria dos partidos com “funcionamento parlamentar”, contemplados com acesso a fundo partidário, tempo de rádio e televisão e estrutura funcional própria no Congresso.
Segundo o texto, nas eleições de 2018, as restrições previstas na cláusula de barreira serão aplicadas aos partidos que não obtiverem, no pleito para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 2% de todos os votos válidos, distribuídos em, pelos menos, 14 unidades da Federação, com um mínimo de 2% dos votos válidos em cada uma. Nas eleições de 2022, o percentual se elevará para 3% dos votos válidos, distribuídos em, pelos menos, 14 unidades da Federação, com um mínimo de 2% dos votos válidos em cada uma.
Políticos que se elegerem por partidos que não tenham sido capazes de superar a barreira de votos terão asseguradas todas as garantias do mandato e podem mudar para outras legendas sem penalização. Em caso de deputados e vereadores, os que fizerem essa mudança não serão contabilizados em benefício do novo partido no cálculo de distribuição de fundo partidário e de tempo de rádio e televisão.
Federação
A PEC cria a figura da federação de partidos, para que partidos se unam em uma federação, passando a ter funcionamento parlamentar como um bloco. No sistema de federação, os partidos permanecem juntos ao menos até o período de convenções para as eleições subsequentes, o que torna o cenário político mais definido e confere legitimidade aos programas partidários.
O entendimento é de que a federação de partidos supera o obstáculo contra o fim das coligações e da cláusula de desempenho, sem criar dificuldades, entretanto, para os candidatos e partidos de menor representação parlamentar.
A proposta também trata da fidelidade partidária ao prever a perda de mandato dos políticos eleitos que se desliguem dos partidos pelos quais disputaram os pleitos. A medida se estende ainda aos vices e suplentes dos titulares eleitos que decidam trocar de partido e deve ser aplicada a partir das eleições do ano de promulgação da Emenda Constitucional que resultar dessa PEC.
As únicas exceções dizem respeito à desfiliação em caso de mudança no programa partidário ou perseguição política. Uma terceira ressalva é feita para políticos que se elegerem por partidos que não tenham superado a cláusula de barreira criada pela PEC.
Destaque
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apoiado por vários colegas, tentou aprovar um destaque para que os percentuais da cláusula de barreira fossem menores, porém a sugestão foi derrubada pelo plenário. Segundo os senadores que defendiam a alteração, as regras que constam no texto do relator poderão reduzir pela metade os 35 partidos políticos atualmente reconhecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas poderão atingir legendas tradicionais.
A proposta de uma cláusula de barreira menos restritiva, explicaram esses senadores, busca não prejudicar partidos pequenos, porém consolidados, como PV, PSOL, PCdoB, PROS e PPS. Pediram ou apoiaram a mudança os senadores Randolfe, Humberto Costa (PT-PE), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Lindbergh Farias (PT-RJ), Reguffe (sem partido-DF), Roberto Requião (PMDB-PR), Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), Telmário Mota (PDT-RR), Magno Malta (PR-ES) e outros.
Aécio Neves disse que a cláusula de barreira vai ajudar o país a não ter mais ‘partidos regionais. Em relação aos percentuais da regra, ele sugeriu que mudanças poderão ser negociadas quando a proposta for enviada para análise da Câmara.
Número de partidos
A senadora Lúcia Vânia (PSB-GO) ressaltou a necessidade de o sistema político brasileiro ser reformulado. Ela lembrou que as eleições municipais deste ano registraram índices recordes de abstenção de eleitores. Segundo ela, além dos 35 partidos políticos registrados no TSE, pelo menos mais uns 20 estão em processo de criação. Para ela, a diminuição do número de partidos políticos vai reduzir e racionalizar gastos públicos.
Vanessa afirmou que partidos como PCdoB, PSOL, PROS, PPS e PV “não são legendas de aluguel, como outras que negociam tempo de TV”.
Além dos autores, os senadores Omar Aziz (PSD-AM), Romero Jucá (PMDB-RR), Otto Alencar (PSD-BA), José Medeiros (PSD-MT), José Aníbal (PSDB-SP), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e outros também apoiaram a aprovação da PEC por entenderem que as mudanças fortalecerão os partidos políticos no país e acabarão com a ‘mercantilização da política’.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Cortella: “Temer não foi só deselegante, teve falta de educação”


O filósofo e educador Mario Sergio Cortella criticou o gesto de Michel Temer, que desdenhou ontem da mobilização dos estudantes que protestam contra a PEC 55, do teto dos gastos, ao dizer que eles não leram o texto e não entenderam a proposta.

"Uma nação não pode permitir que um presidente tenha falta de educação dessa natureza. Ele jamais poderia humilhar as pessoas", disse Cortella.

Dilma diz que Hillary foi digna ao rejeitar o golpismo


Em mensagem nas redes sociais, a presidente eleita e afastada por um golpe parlamentar, Dilma Rousseff, elogiou a candidata derrotada nos Estados Unidos, Hillary Clinton, por "mostrar o espírito de uma liderança de tradição democrática".

"Mesmo tendo maioria nas urnas, aceitou as regras da disputa eleitoral, reconhecendo a vitória de Donald Trump no colégio eleitoral. Na democracia o que importa é o respeito às regras do jogo", disse.

Dilma escreveu ainda que "a democracia é um sistema que prevê ganhadores e perdedores nas eleições diretas" e que "a tradição de um democrata é reconhecer a derrota".

Uma pena que Hillary não tenha feito nada para conter o apoio dos Estados Unidos ao golpe no Brasil, liderado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado por Dilma em 2014.

A última batalha de Lula

Eduardo Guimarães

Seguramente, está sendo muito mais difícil destruir Lula do que a ditadura tucano-midiático-temerária esperava. Em que pesem como o mundo todas as acusações sem provas e tantas versões mentirosas dos fatos que a mídia e os porões da internet difundem todo dia contra o petista desde 1989, ele resiste.

A Lava Jato, os impérios de mídia, os grupos do Facebook montados em financiamentos obscuros, a operação pseudo policial que só persegue e pune efetivamente petistas, todo esse aparato repressor usado para destruir o ex-presidente não chega aonde precisava, apesar de esses poderes controlarem o Ministério Público, as polícias e o Judiciário.

É estupendo o fracasso de Moros, Dallagnoles e assemelhados em destruir a imagem de Lula como seria “necessário” àqueles aos quais esses esbirros da ditadura temerária servem.

Quanto mais aumentam o tom contra Lula, mais ele se fortalece nas pesquisas – após a queda em 2015, claro.

Lula começou a se refortalecer em 4 de março deste ano, quando foi preso ilegalmente e levado ilegalmente à força para depor. A partir dali, seus adversários começaram a desmoronar e ele a se fortalecer nas pesquisas e, agora, Lula já se tornou uma grande ameaça aos planos dos golpistas.

Solto e sem impedimento a se candidatar em 2018, Lula poderá se eleger até com certa facilidade. Eis porque a guerra contra ele não vai ter fim enquanto ele estiver vivo ou livre.

É nesse momento de recuperação de musculatura eleitoral que o ex-presidente já organiza uma reação ao golpe e ao arbítrio, tomando o lugar que ninguém consegue ocupar na esquerda.

Lula está propondo uma frente de esquerda, uma frente contra o arbítrio, uma reação da sociedade a uma tentativa escandalosa de violação da democracia que se traduz pela sanha de seus inimigos de encarcerá-lo até o fim de sua vida sob a justificativa das próprias “convicções” – ou desejos, o que é muito mais certo.

Muito tem se falado nos últimos anos sobre “horizontalidade” de lideranças dos movimentos políticos de esquerda. Muito se praticou em termos dessa “horizontalidade” e o resultado está aí para todos verem: movimentos sem rumo, sem um discurso, sem planejamento, que batem cabeça em ações erráticas.

Nesta quinta-feira, em São Paulo, Lula inicia a que talvez seja a última batalha de sua guerra pessoal para dar dignidade a este povo. É isso o que ele tentou fazer em seu governo brilhante de oito anos: dar dignidade ao povo brasileiro. Fazer com que não nos sintamos inferiores a povo algum, a nação alguma.

Pode-se dizer que a luta de Lula é a luta contra o complexo de vira-latas que a direita tentou incutir na alma de cada um de nós. Seu governo deu a milhões de brasileiros dignidade e orgulho da própria nacionalidade. Eis o que a direita tentou destruir.

Nesta quinta, 10 de novembro, mais uma vez atenderei ao chamado do ex-presidente.

Não mudo de opinião, não mudo de lado, não compro o discurso que antes repudiava. Tenho uma palavra só.

E enquanto não me provarem com mais do que convicções que esse homem cometeu os atos que lhe atribuem sem provas, estarei ao seu lado, sob sua liderança, porque essa história de horizontalidade é uma idiotice. Todas as grandes conquistas da humanidade tiveram líderes.

Que Lula nos lidere. Por certo, pela última vez. Assim, reproduzo seu chamamento. E peço que quem puder atender a esse clamor na quinta-feira no fim da tarde que o faça sem pestanejar. E quem não for de São Paulo que espalhe esta mensagem para quem conheça por aqui.

Leia, abaixo, a convocação de Lula

***

Em Defesa da Democracia, do Estado de Direito e do ex-presidente Lula

O estado de direito democrático, consagrado na Constituição de 1988, é a mais importante conquista histórica da sociedade brasileira. Na democracia, o Brasil conheceu um período de estabilidade institucional e de avanços econômicos e sociais, tornando-se um país melhor e menos desigual, mas essa grande conquista coletiva encontra-se ameaçada por sucessivos ataques aos direitos e garantias, sob pretexto de combate à corrupção.

A sociedade brasileira exige sim que a corrupção seja permanentemente combatida e severamente punida, respeitados o processo legal, o direito de defesa e a presunção de inocência, pois só assim esse combate será eficaz e a punição, pedagógica. Por isso, na última década, o Brasil criou instrumentos de transparência pública e aprovou leis mais eficientes contra a corrupção, provendo os agentes do estado dos meios legais e materiais para cumprirem sua missão constitucional.

Hoje, no entanto, o que vemos é a manipulação arbitrária da lei e o desrespeito às garantias por parte de quem deveria defendê-las. Tornaram-se perigosamente banais as prisões por mera suspeita; as conduções coercitivas sem base legal; os vazamentos criminosos de dados e a exposição da intimidade dos investigados; a invasão desregrada das comunicações pessoais, inclusive com os advogados; o cerceamento da defesa em procedimentos ocultos; as denúncias e sentenças calcadas em acusações negociadas com réus, e não na produção lícita de provas.

A perversão do processo legal não permite distinguir culpados de inocentes, mas é avassaladora para destruir reputações e tem sido utilizada com indisfarçáveis objetivos político-eleitorais. A caçada judicial e midiática ao ex-presidente Lula é a face mais visível desse processo de criminalização da política, que não conhece limites éticos nem legais e opera de forma seletiva, visando essencialmente o campo político que Lula representa.

Nos últimos 40 anos, Lula teve sua vida pessoal permanentemente escrutinada, sem que lhe apontassem nenhum ato ilegal. Presidiu por oito anos uma das maiores economias do mundo, que cresceu quatro vezes em seu governo, e nada acrescentou a seu patrimônio pessoal. Tornou o Brasil respeitado no mundo; conviveu com presidentes poderosos e líderes globais, conheceu reis e rainhas, e continua morando no mesmo apartamento de classe média em que morava 20 anos atrás.

Como qualquer cidadão e cidadã, Lula pode e deve ser investigado, desde que haja razões plausíveis, no devido processo legal. Mas não pode ser submetido, junto com sua família, ao vale-tudo acusatório que há dois anos é alardeado dentro e fora dos autos. Acusam-no de ocultar imóveis, que não são dele, apenas por ouvir dizer. Criminalizam sua atividade de palestrante internacional, ignorando que Lula é uma personalidade conhecida e respeitada ao redor do mundo. A leviandade dessas denúncias ofende a consciência jurídica e desrespeita a inteligência do público.

A caçada implacável e injusta ocorre em meio a crescente processo de cerceamento da cidadania e das liberdades políticas, que abre caminho para a reversão dos direitos sociais. Líderes de movimentos sociais são perseguidos e até presos, manifestações de rua e ocupações de escolas são reprimidas com violência, jornalistas independentes são condenados por delito de opinião. Ao mesmo tempo, o sistema judiciário recua ao passado, restringindo o recurso ao habeas corpus e relativizando a presunção de inocência, garantias inalienáveis no estado de direito.

Esse conjunto de ameaças e retrocessos exige uma resposta firme por parte de todos os democratas, acima de posições partidárias. Quando um cidadão é injustiçado – seja ele um ex-presidente ou um trabalhador braçal – cada um de nós é vítima da injustiça, pois somos todos iguais perante a lei. Defender o direito de Lula à presunção da inocência, à ampla defesa e a um juízo imparcial é defender a democracia e o estado de direito. É defender a liberdade, os direitos e a cidadania de todos os brasileiros e brasileiras.

Estudantes no Senado foram recebidos com spray de pimenta


247, com Blog do Esmael Morais - A Polícia Legislativa do Senado agrediu nesta tarde estudantes paranaenses que viajaram até Brasília para acompanhar audiência pública sobre a MP 746 (reforma do ensino médio) e a PEC 55 (antiga PEC 241), que congela os gastos públicos por 20 anos e que agora está em debate no Senado.

Os policiais receberam os estudantes secundaristas com spray de pimenta. O grupo, que fazia um cordão em frente à entrada do Senado em protesto às medidas do governo Temer, foi impedido de entrar no Senado e surpreendido com os jatos de spray de pimenta.

Eles denunciaram ainda que os policiais utilizaram armas de choque elétrico. Entre humilhação e confusão, alguns estudantes se sentiram mal com a agressão sofrida e houve caso de estudante que foi parar no hospital, conforme denunciou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), durante sessão na Casa.

"Estudantes querem debater a PEC. Querem ser ouvidos. Querem participar e defender seus direitos. É lamentável que sejam recepcionados desta maneira. O estado de exceção casa vez mais evidente. Inadmissível!", protestou a senadora, sobe o episódio.

Os estudantes do Paraná se encontraram com uma caravana de Goiânia, que também pretendia acompanhar uma audiência sobre a MP 746 (reforma do ensino médio) no Senado.

Celso Amorim e Trump

O perigo é o que ele vai fazer com o mundo

Conversa Afiada, 09/11/2016

Foi Hillary quem não deixou sair o acordo com o Irã

O ansioso blogueiro conversou por telefone, desde Madrid, com o (excelente) ministro das Relações Exteriores do Presidente Lula.

PHA: Quais os efeitos da eleição de Donald Trump para o Brasil, na sua opinião?

Celso Amorim: Eu acho que a gente tem que ficar preocupado com os efeitos do Trump para o mundo, não é ? Sobretudo as atitudes preconceituosas que ele revelou e fazem parte de uma onda conservadora da qual também fez parte o Brexit. A atitude dele em relação aos mexicanos, em relação aos muçulmanos e árabes em geral, em relação às mulheres... Quero dizer, tudo isso é, sobretudo, um mal exemplo em um país que, bem ou mal, é um líder até em termos ideológicos no mundo.

O mal que ele causa é pelo mal que ele causa ao mundo. Agora, especificamente em relação ao Brasil, eu sinceramente não vejo que vá mudar muito a política. Ele não dá muita importância à América Latina, e ao Brasil por conseguinte, mas o Obama não deu tanto... Na realidade, então, nesse aspecto eu me preocupo menos.

Eu temo que ele queira, por exemplo... não reverter, mas retardar o processo com Cuba, ter uma atitude mais dura com Venezuela, esse tipo de coisa.

PHA: O fato de ele não defender a Trans-Pacific Partnership (TPP), que era a menina dos olhos do Obama, e também o sonho de alguns políticos brasileiros ligados ao PSDB... Isso pode ter algum efeito sobre a postura, por exemplo, do governo Temer em relação aos Estados Unidos?

Celso Amorim: Era bom que eles percebessem que nem sequer os Estados Unidos estão defendendo o TPP. O TPP é ruim em si pro Brasil. Para os Estados Unidos, eu não sei julgar - eu sei que ele causa muitos problemas para os trabalhadores, porque ele é uma coisa muito para beneficiar só as multinacionais. Mas, pelo menos, são multinacionais americanas. 

No caso do Brasil, eu acho que ele seria muito negativo por vários motivos. O TPP seria muito restritivo em relação à política de compras governamentais, que pode ser útil à política industrial brasileira. Ele seria muito negativo para a política de utilização de remédios genéricos, um assunto ao qual eu estou ligado atualmente, inclusive pela minha função nessa organização, a UNITAID (http://www.unitaid.eu/en/) . As medidas de patentes e propriedade intelectual no TPP são muito mais duras - é o que eles costumam chamar de TRIPS Plus, muito mais duras do que as previstas no acordo da Rodada Uruguai e na Declaração de Doha, principalmente, que flexibilizou bastante.

Então, seria para o Brasil um desastre entrar pro TPP. Eu tenho a impressão que agora o desastre não vai ocorrer, porque não vai ter TPP.

Em francês tem um ditado: "à quelque chose malheur est bom" (boas coisas podem vir do ruim). Na realidade, embora a eleição do Trump seja ruim, pelo menos sob esse aspecto acho que nós estamos livres de uma ameaça. Porque essa sequiosidade da mídia brasileira, da grande mídia principalmente, e das elites, de uma parte da elite que queria a todo custo entrar para esses mega-acordos comerciais... Que hoje em dia tá todo mundo rejeitando! Na França, na Inglaterra, ninguém mais quer fazer o outro acordo, da outra parceria, a Parceria Transatlântica.

Agora, eu não posso excluir que o Trump queira fazer acordos bilaterais. E aí que teremos que ver como será. Mas eu acho que é muito difícil, porque a atitude dele, até com relação ao NAFTA (que une Canadá, México e EUA – PHA) é também negativa. Então, eu acho que vamos ter que procurar o caminho que nós deveríamos estar procurando o tempo todo, que é a integração com outros países em desenvolvimento, integração com os BRICs - sem desprezar, naturalmente, o mercado americano, o mercado europeu, mas sem também ter a ilusão de que esses grandes acordos comerciais nos trarão vantagens. E voltar, se possível, a uma negociação multilateral. Não sou cético de que isso possa acontecer, mas vamos tentar fazer, pelo menos, entre aqueles que queiram, entre os países do sul... Quem sabe a Europa se interessa, também, diante das atitudes do Trump?

PHA: O senhor participou diretamente da tentativa brasileira e da Turquia de fechar um acordo com relação ao programa nuclear do Irã. O presidente Lula já disse várias vezes que isso só não foi possível por causa da então Secretária de Estado Hillary Clinton. O Trump diz que não vai reconhecer esse acordo. Existe um perigo, na sua avaliação, de haver uma reversão ?

Celso Amorim: Muita coisa que se diz na campanha depois não se realiza. O discurso dele hoje já foi um pouquinho diferente de muita coisa que ele disse na campanha. Mas esse é um risco, porque ele pode querer fazer isso por um gesto de demagogia para atrair mais ainda o apoio da direita. Mas como eu acho que ele já tem esse apoio da direita, eu tenho a impressão que, na realidade... 

Eu não sei quem vai ser o Secretário de Estado dele, mas essas coisas, às vezes, em política internacional, acaba predominando uma certa dose de realismo. Na realidade, naquela época, o Obama nos havia pedido, nós conseguimos fazer um acordo e, na hora H, a própria Hillary deu pra trás. 

Não é o momento de falar mal da Hillary Clinton, acho eu. Até porque ela acabou de perder uma eleição. E, bem ou mal, se eu fosse norte-americano eu teria votado nela. Não escondo isso. Não que eu morresse de amores mas, pelo menos, ela estaria, digamos assim, dentro do quadro da normalidade. 

PHA: Dos males, o menor...

Celso Amorim: Ainda que a normalidade possa não ser positiva. Mas o Trump, a gente não sabe. É uma coisa totalmente inesperada. Eu acho que existem riscos. Por outro lado, o Trump tem revelado, em relação a certos temas - por exemplo, Síria e Rússia -, uma dose de realismo político maior.

Então, essa parte da relação geopolítica com outros países é uma questão que a gente vai ter que ver. Mas eu acho que vai haver sobressalto, pelo menos no curto prazo, nem que depois ele renegocie e diga que "ah, não, agora tem um acordo bom...". Sabe como é, né? Um pouco como Uribe estava tentando fazer na Colômbia.

Putin a Trump: acabou a Guerra Fria

Chora, Cerra, chora!

Conversa Afiada, 09/11/2016
Foto de quando Putin levava o Brasil a sério


Maior adversário dos Estados Unidos, o presidente russo, Vladimir Putin, parabenizou na manhã de hoje (9) o magnata republicano Donald Trump por sua eleição à Casa Branca. Em pronunciamento que já era esperado, pois Putin explicitamente torcia para Trump derrotar a democrata Hillary Clinton, o líder russo comentou "que as relações entre o seu país e os Estados Unidos poderão sair da crise". As informações são da Agência Ansa.

Putin enviou um telegrama a Trump, que foi eleito o 45º presidente dos Estados Unidos na madrugada de hoje, com 288 delegados no colégio eleitoral, 18 a mais do que o necessário para assumir a Casa Branca. O russo afirmou "estar seguro no diálogo entre Moscou e Washington, que deve se basear no respeito recíproco, atendendo aos interesses dos dois países", divulgou o Kremlin. Os Estados Unidos e a Rússia são os maiores adversários políticos no cenário internacional, em um conflito ideológico e de interesses que perdura desde a Guerra Fria (1945-1991).

Durante toda a campanha eleitoral à Casa Branca, Putin e Trump trocaram elogios. "Ele representa os interesses das pessoas comuns, que criticam aqueles que estão há anos no poder, gente a quem não agrada a transferência do poder por herança", disse Putin meses atrás, em uma clara referência à Hillary, mulher do ex-presidente Bill Clinton.

(...)

Stone: Moro não quer Lula em 2018

Dilma? Foi Golpe!

Conversa Afiada, 08/11/2016
Stone entende de Golpes, como o que matou John Kennedy


Oliver Stone visita Lula e presta solidariedade ao ex-presidente

O cineasta norte-americano Oliver Stone, vencedor de três Oscars e cinco Globos de Ouro, está no Brasil para o lançamento de seu mais novo filme, Snowden, e fez questão de se encontrar com o ex-presidente Lula, que o recebeu em almoço nesta terça-feira (08). 

Admirador assumido de Lula, o norte-americano prestou solidariedade pela perseguição jurídica que o ex-presidente vem sofrendo.

Para Stone, o objetivo de atacar Lula ao máximo até o ano de 2018, a fim de destruir sua imagem como político antes das próximas eleições presidenciais.

Do puteiro que serviu anu como faisão à era do e daí

*Luciana Oliveira

Nunca antes das redes sociais houve tantos descarados à relativizar a lei, tantos despreocupados com a associação do discurso à prática, tantos engôdos morais.

Ao abrir a janela virtual nos deparamos diariamente com pedófilos que festejam o assassinato de adolescentes em conflito com a lei, com grileiros que chamam o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de criminoso, com condenados por corrupção pedindo cadeia a corruptos, com operadores do direito que defendem o direito só pra pessoas 'direitas' e com pais de família nada exemplares que oferecem conselhos com seus abomináveis manuais de hipocrisia.

Tomo como exemplo um sujeito que vive a denunciar a degradação moral nas mídias sociais, sobretudo na política, mas lá atrás montou um puteiro em Porto Velho e serviu carne de Anu como se fosse Faisão.

E daí? As meninas atraídas com a promessa de um jantar dos deuses devoraram a ave de mau agouro e os clientes 'requintados' lamberam os beiços como se Faisão fosse. Não vi, mas me contaram desse jeito clientes fiéis da Casa de Tolerância que fez isso.

Só que à época ninguém admitiu que comeu carne de um pássaro que adora carrapatos porque, naturalmente, pegaria muito mal pra imagem dos frequentadores.

Hoje acho que tirariam onda na internet e até aplaudiriam a criatividade do dono do puteiro para evitar o fracasso do seu empreendimento.

Na Era Do E Daí qualquer um pode forjar autoridade moral, porque de qualquer ângulo que se olhe tem outro fazendo o mesmo.

A presidente Dilma Rousseff perdeu o mandato, porque deputados e senadores decidiram que ela cometeu um crime com decretos suplementares sem autorização do Congresso. O que lhe tomou o mandato há apenas cinco meses fez o mesmo, abriu crédito suplementar, no valor de R$ 82 milhões por meio de Medida Provisória.

E daí?

Pra que questionar a lógica se o Tribunal de Contas da União que emitiu parecer recomendando a reprovação das contas da presidenta justamente por isso, agora foi favorável à alternativa para o governo amenizar a crise?

O novo líder do governo no Congresso é Romero Jucá, que passou só 12 dias como Ministro do Planejamento, porque foi flagrado numa conversa tramando o fim da Lava Jato com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.

Ele é réu em sete inquéritos no Supremo Tribunal Federal, dois são da Operação Lava Jato.

E daí se isso impediu ele de ser ministro, mas não líder do governo?

Duvido que alguém consiga explicar por que o Ministro Dias Toffoli, do (STF), pediu vistas na ação que questiona se réu em ação penal na corte pode ocupar cargo na linha sucessória da Presidência da República?

Seria para proteger o presidente do Senado, Renan Calheiros, que responde a 11 inquéritos no STF e terá seu posto ameaçado caso passe à condição de réu?

Para o jeitinho brasileiro que o ministro deu, ainda ecoa o E Daí da parcela da sociedade brasileira que tem um discurso moral abissopelágico e a prática evidente de conformismo.

Alguém sabe dizer por que o ministro das Relações Exteriores, José Serra, não caiu, após delatores da Odebrecht o acusarem de ter recebido via caixa 2 mais de 23 milhões de reais pra sua campanha em 2010?

E por que a mídia tradicional esqueceu o assunto, alguém sabe?

Calou, porque a sociedade que fala que só o PT é responsável pela corrupção e deve ser extirpado da cena política, votou em massa no PSDB nas eleições municipais.

São tempos de inegável banalização do mal e flagrante descaramento.

Recorro ao exemplo citado lá no topo da reflexão pra sentenciar: o menu diário é Anu como sendo Faisão e a maioria só quer mesmo é que o puteiro vá pra frente.

*Jornalista/membro da Comissão Nacional de Blogueiros