sábado, 12 de março de 2016

Por que Lula deveria serministro?


A hora pede ousadia

“Ficaria decepcionada se o Lula aceitasse um convite para ser ministro”, ouço de minha mulher, Erika.

Não tinha ainda refletido detidamente sobre o assunto, mas a frase de Erika me estimulou a fazer isso.

Por que alguém progressista como ela se decepcionaria?

A resposta padrão é mais ou menos esta: Lula ganharia foro privilegiado e se livraria das garras de Moro, mas mostraria medo. Ficaria claro, para muita gente, que ele tem algo a esconder.

Ora, ora, ora.

Não poderia discordar mais.

Se Lula estivesse numa disputa com Mujica ou com o papa Francisco, eu concordaria.

Mas ele está medindo forças – involuntariamente – com forças que lembram não Mujica, não Francisco, mas Al Capone.

Você tem que jogar o jogo conforme seu adversário, e não de acordo com seus sonhos. Esta é a realidade. Pode não ser idílica, ou utópica, ou romântica. Mas esta é a única realidade que temos.

Avalie os escrúpulos e o caráter dos que estão do outro lado. A Globo e a família Marinho, Aécio, FHC, a Veja e os Civitas, a Folha e os Frias, Moro e a PF, e isso para não falar dos Eduardos Cunhas e dos Conserinos.

Eles querem preservar seus formidáveis privilégios, e para isso buscam loucamente um golpe sob os pretextos mais esdrúxulos.

Desde a saída dos resultados, a vitória de Dilma é contestada da maneira mais infame possível. A desculpa A não colou? Vamos para a B. Também ela não vingou? Passemos para a desculpa C. E nisso foi um alfabeto inteiro de pretextos que escondiam uma única coisa: um golpe. Um crime de lesademocracia que jogaria, ou jogará, o país mais de meio século para trás.

Os índios americanos entraram na história por episódios de resistência épicos em que opunham pedrinhas às balas dos predadores brancos.

É lindo, é comovente, mas é claro que eles usariam outras armas se as tivessem.

Contra predadores, e é disso que se trata, você tem que ajustar sua estratégia à índole dos inimigos.

Lula já errou demasiadamente nisso.

Por exemplo. FHC nomeou um amigo para a Procuradoria Geral da República, o tristemente famoso Brindeiro, engavetador de qualquer coisa que pudesse embaraçar a presidência.

Lula se recusou a nomear uma réplica de Brindeiro. Colocou o primeiro da lista que lhe foi passada pelos procuradores.

Deu no que deu.

No STF, ele fez o mesmo. FHC indicou juízes como Gilmar Mendes. Uma das primeiras indicações de Lula foi Eros Grau, de conhecida simpatia pelo PSDB. (Fez campanha por Aécio em 2014.)

Isso não é republicanismo. É ingenuidade, é tolice, é não enxergar do que são capazes os que detestam você.

A direita prega para os rivais um republicanismo que ela jamais praticou.

A hora dura pede ousadia, pede inovação. Lula como ministro é uma resposta a quem deseja apenas tirar Dilma do jeito que for e impedir que Lula concorra em 2018.

A reação popular seria esta. Os que detestam Lula continuariam a detestá-lo. Os que o amam continuariam a amá-lo.

Que as urnas digam, em 2018, qual destes grupos é maior.

Fonte: DCM, 11/03/2016

Parabéns, bela Recife, pelos seus 479 anos de existência!

Especialistas criticam as peças de acusação contra Lula

"Nunca vi nada igual. Todo mundo comete erros, mas não é possível tamanha inépcia e falta de técnica. O texto é imprestável a qualquer juízo"

Aloisio Mauricio/Fotoarena/Folhapress 
Os promotores Fernando Henrique Araújo (à esq.), Cassio Conserino e José Carlos Blat

Folha, Mario Cesar de Carvalho, 12/03/2016

A acusação é "um lixo". Não são promotores, são "três patetas". Deram um "tiro no pé": vão ajudar o ex-presidente Lula com essa acusação tão simplória.

Foi assim que a denúncia e o pedido de prisão do ex-presidente Lula foram avaliados por professores de direito e especialistas ouvidos pela Folha. As duas peças, apresentadas nesta quinta (9) pelos promotores Cassio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique Araújo, acusam Lula de ter se beneficiado de um tríplex no Guarujá (SP).

O ex-ministro do Supremo Carlos Velloso, 80, disse à Folha que o pedido de prisão não cumpre os fundamentos exigidos pela lei. "É notório que o acusado tem residência fixa, não há sequer indício de que tentaria fugir. Também não há notícia de que o acusado estaria a ameaçar testemunhas, a destruir documentos", afirmou.

Nesta sexta (11), 57 promotores e procuradores do Ministério Público Federal, do Trabalho e dos ministérios públicos de oito Estados, incluindo São Paulo, condenaram a "banalização da prisão preventiva" e "operações midiáticas e espetaculares".

A acusação de que Lula cometeu crime de lavagem de dinheiro também é questionada pelos especialistas Gustavo Badaró e Heloísa Estelista, professores de direito da USP e da Fundação Getúlio Vargas, respectivamente.

"Lavagem de dinheiro não é um crime abstrato. Tem que ficar demonstrado que o dinheiro lavado foi integrado ao patrimônio do Lula de forma dissimulada. Não vi esse nexo na denúncia", diz Estelita.

Os promotores acusam Lula de ter recebido um presente de Léo Pinheiro, da OAS, e desistido do imóvel quando a informação tornou-se pública, no final de 2015.

Badaró também considera a acusação frágil: "Para haver lavagem, a denúncia teria de demonstrar que o dinheiro utilizado na compra tem origem criminosa".

VÍTIMA DE PERSEGUIÇÃO

Quatro procuradores da Lava Jato, de Curitiba e Brasília, avaliam que as peças terão uma repercussão negativa na operação por dar a Lula o pretexto para se dizer vítima de perseguição política.

Sob a condição de não serem identificados, eles apontaram o que consideram lacunas técnicas da denúncia.

Um dos problemas apontados é que os promotores não foram claros ao apontar o crime antecedente necessário para fundamentar a acusação de lavagem de dinheiro.

O suposto crime de estelionato contra os mutuários da Bancoop, atribuído a Lula e a dirigentes da cooperativa, foi considerado inconsistente e contraditório.

A reforma do tríplex, paga pela OAS, é investigada como benesse concedida pelo ex-presidente e sócio da empreiteira, Léo Pinheiro, a Lula em troca de favores concedidos pelo petista ao empresário.

Após conhecer o teor da denúncia e do pedido de prisão, o gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, traçou a estratégia de não comentar a peça para não azedar a relação com o Ministério Público paulista.

A insatisfação da Procuradoria foi vocalizada por Vladimir Aras, um dos procuradores mais próximos de Janot: "Nunca vi nada igual. Todo mundo comete erros, mas não é possível tamanha inépcia e falta de técnica. O texto é imprestável a qualquer juízo."

No Facebook, ele citou nesta sexta (11) o célebre mea-culpa atribuído a Napoleão Bonaparte após o fiasco militar da Campanha da Rússia (1812): "Do sublime ao ridículo, é só um passo".

Procurados, os promotores não quiseram se pronunciar.

Colaborou BELA MEGALE, de São Paulo

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Perguntas e Respostas

Há provas dos crimes pelos quais Lula é acusado?
Lula é acusado de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Sobre a lavagem, três especialistas ouvidos pela Folha dizem que não há provas de vantagem financeira que ele teria recebido e da ocultação dessa vantagem. Já sobre falsidade, há depoimentos de moradores e trabalhadores de que o tríplex foi reformado pela OAS para o ex-presidente

Lula lavou dinheiro, como dizem os promotores?
A denúncia não aponta qual teria sido a vantagem que ele recebeu no caso do tríplex, já que não ficou com o apartamento, ainda de acordo com professores de direito consultados. Os pesquisadores também dizem que não há provas de como Lula ocultou a vantagem que teria recebido

Há problema pelo fato de o tríplex ser investigado pelo Ministério Público de São Paulo e pelo Ministério Público federal em Curitiba?
Não, segundo decisão da ministra Rosa Weber, do STF. Não haveria conflito, de acordo com ela, porque São Paulo investiga o benefício que Lula teria recebido da OAS enquanto outros moradores eram lesados, enquanto a força-tarefa da Lava Jato apura a reforma feita pela empreiteira

Há provas de que recursos ilícitos foram usados na reforma do tríplex?
Não. O imóvel foi reformado sob orientação de funcionários da OAS e os gastos foram pagos pela empreiteira

Há justificativa para o pedido de prisão?
Não, segundo especialistas ouvidos pela Folha, porque não há provas de que ele estaria destruindo provas, coagindo testemunhas ou esteja planejando fugir

Lula e Marisa tiveram tratamento diferenciado em relação aos outros compradores de imóveis via Bancoop?
Sim, segundo depoimentos colhidos pelo Ministério Público de São Paulo. O apartamento recebeu um elevador e uma cozinha de luxo da Kitchens que não fazem parte dos outros imóveis no mesmo prédio. No final do ano passado, porém, Marisa anunciou que desistira do imóvel

sexta-feira, 11 de março de 2016

Até promotores repudiam pedido de Conserino

Se pedindo a prisão de Lula, queriam aparecer, conseguiram

Um grupo de promotores de Justiça, procuradores da República e procuradores do Trabalho, integrantes do Ministério Público de diversas partes do Brasil assinou nesta sexta (11) um texto de repúdio contra o que considera “banalização da prisão preventiva”.

O documento é resposta ao pedido de prisão preventiva feita ontem por promotores de São Paulo, entre eles Cássio Conserino, contra o o ex-presidente Lula.

“O grupo vêm a público externar sua profunda preocupação com a dimensão de acontecimentos recentes na quadra política brasileira, e que, na impressão dos/as subscritores/as, merecem uma reflexão crítica, para que não retrocedamos em conquistas obtidas após anos de ditadura, com perseguições políticas, sequestros, desaparecimentos, torturas e mortes”, diz o texto, assinado inclusive por promotores do MP paulista.

Eles também criticam "operações midiáticas" e condução coercitiva que ocorrem "ao arrepio da Constituição e que redunda em pré-julgamentos".

Líderes internacionais manifestam apoio à Lula


Em uma declaração de apoio ao ex-presidente Lula, ex-chefes de Estado e de governo de diversos países da Europa e da América Latina, como Cristina Kirchner (Argentina), Felipe Gonzalez (Espanha), Fernando Lugo (Paraguai), José Mujica (Uruguai) e Juan Manuel Insulza (OEA), destacam a importância do ex-presidente brasileiro no combate à pobreza e no aprofundamento da democracia e afirmam que "preocupa à opinião democrática, no entanto, a tentativa de alguns setores de destruir a imagem deste grande brasileiro".

"Lula não se considera nem está acima das leis. Mas tampouco pode ser objeto de injustificados ataques a sua integridade pessoal", escrevem os líderes internacionais.

Só tem uma boa razão para você protestar dia 13: se você é rico (ou banqueiro)

Lula na cadeia? Lula fora da cadeia? Temer, Cunha, Dilma, Aécio? Vamos falar de coisa séria: dinheiro. Vamos falar de quarenta e oito bilhões de reais. É quanto lucraram em 2015 o Bradesco, Itaú e Santander. Foi R$ 20,6 bi para o Itaú, R$ 19,9 bi e R$ 6,6 para o Santander. Considerando que 2015 foi ano de crise brava, você poderia imaginar que o lucro dos bancos ia cair. Em vez disso, subiu. Bradesco teve lucro 16,4% maior que em 2014; Itaú, 15,6% maior; Santander, 13,2% maior.

E em 2016? A crise econômica apertou. Será que os bancos vão conseguir ter lucros gigantescos novamente? Com a palavra, os próprios bancos, conforme reportagem de Felipe Marques e Vinícius Pinheiro no Valor Econômico. O Itaú indicou a analistas que seu lucro pode cair em torno de 15% ao ano (seria de um pouco mais de R$ 17 bilhões). O Credit Suisse avalia que o Bradesco deve ter uma queda similar, de 14% (também ficaria em torno de R$ 17 bilhões). Já o presidente do Santander Brasil, Sérgio Rial, garante que o Santander terá lucros maiores esse ano no país. Se essas previsões se confirmarem, os bancos terão lucros gigantescos, no meio da maior recessão da nossa história em décadas. Mas serão lucros menores que em 2015.

Mas os bancos brasileiros, os bancos internacionais, e quem tem muito dinheiro pra investir, seja brasileiro ou estrangeiro, torcem para que uma coisa mude. Uma coisa só. E mude o mais rápido possível. E essa coisa é a taxa de juros.

Para os especialistas, a queda projetada no lucro dos bancos em 2016 está ligada a três elementos. A diminuição do crédito, o aumento da inadimplência, e a taxa de juros. O crédito vai continuar caindo. Os calotes vão continuar aumentando.

O país está em uma recessão brava e não levanta tão cedo. É inevitável que os bancos emprestem ainda menos para empresas e para pessoas físicas. E natural que façam uma provisão maior dos seus recursos para se protegerem da inadimplência.

Sobra uma única coisa que pode fazer os lucros dos bancos serem muito maiores do que está projetado para 2016. Basta uma canetada. Basta o Banco Central do Brasil subir a taxa de juros. Hoje a taxa básica, a Selic, está em 14,25%. É altíssima para padrões internacionais. É cretiníssima, considerando-se que o país está em recessão, e que a inflação que temos não tem nada a ver com demanda. É resultado direto da desvalorização do real, da instabilidade política e do tarifaço promovido pelo próprio governo ano passado. O PIB está despencando e mesmo assim nossa taxa de juros está nas alturas.

Mas não está alta o suficiente para fazer o lucro dos bancos voltar ao patamar de 2015. E, mais preocupante ainda para os banqueiros, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, já sinalizou que a taxa vai ficar estável, nesse patamar. Ou até, quem sabe, apareça oportunidade para baixá-la.

Donde a pressão dia e noite para que o Banco Central suba os juros. Nos programas de TV, nos artigos dos especialistas, nas análises dos experts internacionais. Donde a pressão sobre Tombini e Nelson Barbosa, fiadores dessa política, e Dilma, chefa dos dois. Dilma que já tentou baixar o patamar dos juros brasileiros anos atrás, na canetada, e levou lambada de tudo que foi lado.

O que acontece se o juro baixar? Diminui o lucro dos bancos. Diminui o lucro de quem tem muito dinheiro investido nos bancos. Não é que eles não vão lucrar. Vão lucrar e muito. Mas não nos patamares indecentes que lucram hoje.

Pela razão que seja, Dilma resiste a subir ainda mais a taxa de juros. Então engrossa a cada dia a campanha para o Brasil trocar Dilma por um presidente mais "alinhado com o mercado". Que faça "os ajustes que o Brasil precisa". Que corte na previdência, nas aposentadorias, no valor do salário mínimo. Que nos garanta boas notas das agências de rating (que quem assistir ao filme "A Grande Aposta" nunca mais vai levar a sério). E, claro, um governo que aumente os juros - porque é isso que o Brasil precisa para "restaurar a credibilidade"...

O roteiro da mudança é claríssimo. É fazer exatamente o que está sendo feito na Argentina. O presidente recém-eleito, Maurício Macri, criou uma equipe econômica que é uma perfeita filial de Wall Street. A Bloomberg, que é a voz jornalística mais influente no mercado financeiro global, publicou uma reportagem com o seguinte título: "JPMorgan and Deutsche Bank Boys Are Running the New Argentina" ("os caras do JPMorgan e Deutsche Bank estão dirigindo a Nova Argentina"). É isso. O novo ministro das finanças, Alfonso Prat-Gay. é veterano do JPMorgan. Escolheu como seus braços direitos, para fazer a gestão da dívida do país, outros dois ex-JPMorgan, Luis Caputo e Santiago Bausili. Caputo chegou a ser diretor geral do Deutsche Bank na Argentina. O secretário executivo do Ministério, Mario Quintana, criou o fundo de investimentos Pegasus Venture Capital. E por aí vai. É tudo gente que veio do Goldman Sachs, Barclays, Morgan Stanley. Os postos chave do novo governo argentino estão todos ocupados por financistas, executivos, economistas de banco. Não é à toa que os credores da Argentina estão chamando essa turma de "a melhor equipe econômica da região." Melhor para os credores. Não para os argentinos.

A Argentina ia bem sob Cristina Kirschner? Claro que não. O Brasil vai bem sob Dilma? Claro que não. A política econômica atual do Brasil é desastrosa para o país. É necessário e urgente mudá-la. Isso sim seria uma ótima razão para protestos de milhões. Mas não basta trocar pessoas, ou coligações partidárias, precisamos é trocar de política econômica, de projeto de país. Os que estão à frente do movimento para tirar Dilma do Planalto têm um projeto ainda mais danoso que o dela (por difícil de imaginar que seja). O protesto deste dia 13 tem como objetivo final tirar Dilma e colocar em seu lugar - bem, quem? E para fazer exatamente o quê? Isso os líderes dos protestos não dizem. Ficam em brados vagos, combater a corrupção etc.

Não falam porque não ganham nada assumindo que o plano para o Brasil é o "Plano Argentina". É ocupar o governo brasileiro com banqueiros. Priorizar os ganhos financeiros e não quem trabalha, produz ou empreende. Piorar a rede de proteção social dos pobres, piorar os serviços, privatizar a qualquer custo e preço. Cortar na carne de quem já está pele e osso. E encher ainda mais os cofres de quem já tem muito, no Brasil e no exterior. Se você pensa que a vida está difícil sob Dilma, se a oposição conseguir o que pretende, não sabe o que te espera.

Vamos então defender Dilma? Mas de jeito nenhum. Não se trata de defender ou atacar um lado. Se trata de colocar em pauta o que realmente interessa, e o que está acima dos partidos e das pessoas. Vamos construir um país mais justo, produtivo, educado e transparente. Que tenha uma imprensa e judiciário intolerantes com corruptos, independente de qual seu partido. Que valorize o trabalho e a iniciativa, não só o capital. Como fazemos isso? Brigando pelo que é importante, não "contra tudo que está aí". 

Se você é rico e vai lucrar ainda mais se Dilma for trocado por algum fantoche de Wall Street, ué, vá para as ruas defender seu interesse. Se você é um dos 99,9% dos brasileiros que não vivem de juros, pense duas vezes.

A perseguição ao PT pode não levar ao impeachment - mas a algo bem mais perigoso

Lula e Dilma estão no banco dos réus. De lá jamais sairão. Uma eventual condenação abrirá a porta para novas acusações. Mas nem precisa. Mesmo se inocentados, permanecerão sob fogo cerrado. A missão de longo prazo é impedir Lula de voltar a concorrer para presidente. A missão imediata é impedir Dilma o quanto antes. O show de hoje, e de todo dia, é para atingir esse objetivo. Show que não tem data para acabar.


Agora bateram mais forte que nunca em Lula, e mais dolorido, em sua família. Ele promete bater de volta. Como todo poderoso e famoso, tem convicção que é um escolhido, e agora certeza que é perseguido. Diz que irá aos quatro cantos do país. Convoca petistas, sindicatos, sem-terra. Falou como falava nos palanques. Deve ter eletrizado os simpatizantes. As manifestações pró e contra Lula e Dilma vêm aí. Arrisca aparecer um mártir. O Brasil vai mal? As coisas sempre podem piorar - e frequentemente pioram.

As investigações são detalhe. Não se trata de provar crime. Se trata de criar um clima político que leve ao impeachment ou cassação de Dilma e, sonho dourado, cadeia para ela e Lula. Por enquanto não existe prova de nada contra Dilma, pessoalmente. Mônica Bergamo, na Folha, noticia que a construtora Andrade Gutierrez pode dar à Lava Jato informações sobre pagamentos feitos à campanha de Dilma em 2014, via caixa dois. Se isso acontecer, pode chegar a justificativa necessária para o impeachment da presidente.

Dilma é peso pena que qualquer vento leva. Por mérito pessoal, jamais seria presidente. Lula ganhou quatro eleições para presidente, duas para si, duas para Dilma. Por isso, e pela sua desastrosa gestão da economia do país, é que ela é uma presidente tão fraca.

Lula foi o maior líder de massas que esse país já viu. Foi eleito para priorizar as necessidades dos pobres que o elegeram. Priorizou os grandes - grandes indústrias, grandes bancos, grandes grupos educacionais, grandes fazendeiros, grandes obras, grandes ganhos para quem tinha grandes fortunas. Não ignorou completamente os necessitados, raridade na nossa história. É sua única redenção e justificativa para seu grande capital eleitoral. Esses passinhos que deu na direção de uma melhor distribuição de renda já são pecado mortal para os poucos que têm muito. A profundidade do preconceito de classe no Brasil é poço sem fundo.

Corrupção é mato na história política do país. O papo que o PT "institucionalizou" a corrupção é só isso, papo. A oposição grita contra Dilma e Lula. Temer preside o PMDB, cujos políticos têm colorida coleção de processos e condenações. No Congresso, presidido por Renan e Cunha, ambos do PMDB, os seguintes na linha sucessória depois de Dilma e Temer, uma boa parte (a maioria?) tem pouca moral para clamar pela ética. O partido que lidera a oposição, o PSDB, tem rencas de acusações a responder.

Mas são sempre dois pesos, duas medidas. Lula e companhia têm muito a explicar. Temos provas contra ele? Cadeia e pronto. Mas Alckmin, Aécio, Serra etc. também têm muito a explicar. É mensalão mineiro, Petrobras, Alstom, merenda e por aí vai. Cadê os paladinos da justiça para encrencar com o PSDB? O governo FHC corrompeu deputados para garantir a aprovação da emenda da reeleição, que o beneficiou. A Polícia Federal nem investigou... vão bater na porta dele no dia de São Nunca.

Otimistas entendem que o Brasil sairá melhor da Lava-Jato do que entrou - e que se for para começar a limpa pelo PT, que assim seja. Mas investigar de um lado só não é justiça, é perseguição política. Sim, será um país melhor com políticos corruptos na cadeia. Mas não se forem todos de um partido só. Não precisa muito para ampliar o escopo da Lava-Jato. Basta perguntar aos empresários corruptores, envolvidos na Lava-Jato quanto dinheiro deram para o PSDB e outros partidos da oposição, quanto pagaram por palestras, que benefícios suspeitos financiaram. Fácil e difícil assim.

Dilma pode sobreviver, mesmo com uma condenação de Lula, se não houver nenhuma prova contra ela? Sim. FHC terminou seu mandato, com o PT batendo forte, muitas acusações de corrupção, e pedidos de impeachment. Para ficar em um caso similar, outro "poste", Celso Pitta, que Paulo Maluf elegeu em São Paulo, também governou até o final. Podemos ter sim mais três anos de Dilma no poder, crise econômica se aprofundando, crise política pegando fogo. Considerando o estado do Brasil, a pergunta é: para quê? Para quê tirar Dilma? Para quê manter Dilma?

Dilma e tucanos têm receituário parecido para tratar nossos problemas. Trocar o governo atual por uma outra coalizão fisiológica, só que com o PSDB à frente (e um PT furioso na oposição) seria trocar seis por meia dúzia. Ou quase: os tucanos defendem ainda mais benefícios para os ricos e ainda menos benefícios para os pobres. Os antipetistas querem "ajuste", "austeridade", que em português claro é menos dinheiro para educação, saúde, aposentadorias. Querem menos impostos (principalmente para os ricos) e juros sempre, sempre mais altos. A política econômica defendida pelo PT (e com esse viés mais financista pelo PSDB e partidos que o apóiam) é garantia de acirramento da nossa desigualdade. É o principal fator de atraso do país e é causa fundamental dessa penúria em que vivemos - material, intelectual, eleitoral. O tratamento arrisca matar o paciente.

O eleitor não entende isso, porque ninguém explica. O eleitor entende roubalheira, que há anos lhe dizem que é coisa do Lula. A quem beneficiaria estender a investigação de corrupção ao PSDB, PPS, Democratas, Solidariedade etc.? Não ao "mercado", e como se sabe, quem dita as regras do jogo é quem tem dinheiro. Por que a bolsa sobe e o mercado financeiro celebra quando há cheiro de impeachment de Dilma? Porque o PSDB é ainda mais pró-bancos, privatização e "austeridade" que o PT, claro.

É diferença sutil, mas há diferença. O PT governou com as elites, mas sua base é o povão. O PSDB é a própria expressão eleitoral da elite, a de verdade e a que aspira a ser. Ambos são partidos de centro, por isso arquiinimigos. Não têm ninguém com expressão eleitoral à esquerda deste centro. À direita temos conservadores de todos os matizes. Nenhuma idéia interessante ou inovadora em pauta. O debate econômico no Brasil é monotemático e, principalmente, chato.

Não que uma saída de Dilma, e Lula fora do páreo, seja garantia de ascenção dos tucanos ao poder. No caso de convocação de novas eleições, pode acontecer qualquer coisa. O fastio do eleitor com os políticos está aí, em todas as pesquisas. Podemos eleger um populista de direita, um Trump à brasileira. Podemos eleger qualquer coisa. Podemos não eleger ninguém.

Para muita gente influente, impeachment não é o melhor desfecho. Porque nunca há garantias de que em eleições diretas será eleita a pessoa "certa". Esses são dos que mais botam lenha na perseguição política ao PT. Têm outro objetivo, bem mais perigoso. Preferem pular essa parte de eleições diretas. Após dois anos de mandato, se houver cassação, e lei diz que não são convocadas diretas. O próximo presidente, nesse caso, será eleito de maneira indireta, no Congresso. Esse Congresso que todos elegeram e em que ninguém confia. Tão fácil de "influenciar", como todos sabemos.

Seria um grande retrocesso para a democracia brasileira. Muitos chamariam de golpe de estado, no Brasil e no exterior. Aliás, já começam a aparecer questionamentos na imprensa internacional quanto à suposta imparcialidade de Moro e da Lava-Jato. O que alguns sonham como melhor dos mundos pode se tornar o pior dos mundos muito rápido.

Até porque enquanto a maioria dos brasileiros sofre calada os efeitos da crise política e econômica, alguns brasileiros, dos dois lados, estão à procura de um mártir para chamar de seu. Esses embates na rua podem gerar um cadáver a qualquer momento, com consequências imprevisíveis. E enquanto a classe média brada pelo impeachment, muitos na elite torcem por uma solução sem povo. Querem o PT sangrando nas eleições de 2016, com cassação de Dilma e Temer em 2017, eleição indireta para presidente.

É onde estamos. E daqui não saíremos tão fácil.

Juíza rejeita pedido de prisão de Lula

A Juíza Maria Priscila Veiga Oliveira, 4ª Vara Criminal da Justiça de São Paulo, acaba de REJEITAR A DENÚNCIA, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por ocultar patrimônio, por Incompetência pelo ´princípio do Promotor natural... e pede o ARQUIVAMENTO DOS AUTOS

Trecho da Decisão

Tratam os presentes autos de investigação da Promotoria Ministério Público de São Paulo , de apuração em torno do evento delitivo... de Luis Inacio Lula da Silva...,

...Ab initio, é forçoso não conhecer a distribuição da presente investigação do Ministério Público de São Paulo... Com efeito, dissecando as provas indiciária trazida à colação no inquérito da Promotoria, tem-se, por Incompetência pelo ´princípio do Promotor natural... REJEITO A DENÚNCIA e peço o ARQUIVAMENTO DOS AUTOS.

Fonte: WebJustiça, 11/03/2016

Em tempo: Em respeito aos leitores deste Blog, esclareço que a notícia acima tem fonte, http://webjuslegal.blogspot.com.br/ e lá permanece até este momento, 09:49 de sábado, 12/03/2016. Desconfiado da veracidade, acessei a página, de onde retirei a seguinte explicação: Com o vazamento da decisão da Juíza Maria Priscila Veiga Oliveira, no caso LULA: BBC Brasil retira a noticia de sua página e Tribunal de SP decreta segredo de Justiça. Meu entendimento é que a fonte supracitada buscou a noticia da BBC Brasil.

Jornalista revela: golpe é a favor da corrupção


Como propagandista do impeachment, o jornalista Ricardo Noblat cometeu hoje um ato de sincericídio.

Segundo o colunista do Globo, os políticos devem derrubar rapidamente a presidente Dilma Rousseff para tentar se safar da Lava Jato e de outras investigações, ou seja, quem sair às ruas contra a corrupção neste domingo estará sendo manipulado por corruptos preocupados com o próprio pescoço.

Como diria Gregório Duvivier, "querem lavar o chão com merda".

Depois no tweet, Noblat foi trucidado pelos internautas.

Sergio Moro e as perguntas que não querem calar

As empresas que financiaram o PT abasteceram o PSDB. Os patrocinadores do Instituto FHC são os mesmos do Instituto Lula. As delações que citam Aécio Neves foram esquecidas. Por que? Seria Sergio Moro um juiz ingênuo?
Sérgio Moro confraterniza com o tucano João Dória Jr., acusado de compra de votos na própria prévia interna organizada pelo PSDB para escolha do candidato à prefeitura de São Paulo (reprodução)


O espetáculo da condução coercitiva do ex-presidente Lulana semana passada expôs a nu as motivações políticas do juiz federal Sergio Moro. Criticada por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e por juristas de todos os matizes (incluindo um ex-ministro de FHC), a operação não tem outra explicação que não o linchamento público de Lula.

O argumento de que a medida extrema foi para a proteção do ex-presidente não convence nem as carolas do Country Club de Maringá, frequentado pelo juiz. Oministro Marco Aurélio Mello, que não é exatamente um petista, afirmou que “não gostaria de ser ‘protegido’ dessa maneira”.

A Lava Jato ganhou popularidade por ter pegado peixes graúdos do empresariado. Os donos do Brasil foram em cana e não saíram no mesmo dia. Assim, Moro elevou-se com a fama de justiceiro, o Falcone das Araucárias. No entanto, com o passar do tempo, a Lava Jato e seu principal condutor foram revelando vícios comprometedores.

O primeiro foi o dos pesos da balança. A décima quarta fase da operação, quando foram presos Marcelo Odebrecht [presidente da Odebrecht] e Otávio Marques de Azevedo [presidente da Andrade Gutierrez], recebeu o nome de “Erga Omnes”, em latim “Vale para todos”. Vale mesmo?

Presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) foi citado em mais de uma delação – numa delas como detentor de um terço das propinas de Furnas e… nada. A campanha tucana foi beneficiária de doações das mesmas empresas que financiaram Dilma, por vezes com valores iguais ou maiores. Mas num caso as doações foram criminosas e noutro não? O Instituto FHC recebeu contribuições de várias das empresas investigadas, tal como o Instituto Lula. Mas não consta ter havido busca e apreensão por lá.

Visivelmente a Lava Jato escolheu alvos e excluiu outros. Optou por atacar Lula e o PT e por preservar o PSDB. Além disso, há os incríveis vazamentos das operações e de depoimentos sob “sigilo”. O editor da revista “Época” – do Grupo Globo – anunciou a operação no Twitter com horas de antecedência. Há algo de podre aí. Resta saber o que une Moro, Globo e a PF numa sintonia tão fina…

Por muito menos, o ministro Gilmar Mendes falou em “estado policial” e Paulo Lacerda foi defenestrado da direção da PF em 2007. Aliás, não deixa de ser curioso o silêncio de Gilmar, tão preocupado com as garantias constitucionais, em relação aos procedimentos “heterodoxos” do juiz Moro e da Lava Jato.

Abuso das prisões preventivas, negociações pouco claras em relação às delações premiadas e agora a condução coercitiva (condução compulsória por agentes policiais) sem intimação prévia. Para atingir seus propósitos, Moro abre precedentes perigosos. Com a mente messiânica de um justiceiro, parece estabelecer para si o objetivo de “moralização” do país. Há, porém, sérios motivos para se desconfiar do que ele entende por isso.

Num evento com empresários no ano passado, Moro disse que “a iniciativa privada tem melhores condições de liderar um movimento contra a corrupção”. Hein? A mesma iniciativa privada que sonega R$ 500 bilhões de impostos todos os anos e tem 30% do PIB em paraísos fiscais? Aquela que desviou no esquema do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) mais de três vezes o valor das propinas da Petrobras? Ora, dizer um disparate desses revela ou ingenuidade ou cinismo.

Moro é também admirador confesso da Operação Mãos Limpas, conduzida pela procuradoria de Milão nos anos 1990. A Mãos Limpas prendeu 2.993 pessoas durante quatro anos e investigou 872 empresários, 438 parlamentares e 4 primeiros-ministros. Liquidou com os quatro maiores partidos políticos do país.

O resultado de tudo isso não foi a “moralização” da Itália. Foi a ascensão de Silvio Berlusconi como primeiro-ministro, estabelecendo um reinado corrupto e depravado que durou 12 anos. A Mãos Limpas não acabou com a corrupção porque nenhum justiçamento acaba. É evidente que as investigações sobre corrupção são importantes e devem ser aprofundadas, mas sem as arbitrariedades, achincalhamentos e a seletividade de nenhum justiceiro de toga.

Enfrentar a corrupção no Brasil implica enfrentar um sistema político em que os interesses públicos e privados historicamente se amalgamam. Mas isso não está pautado no horizonte do juiz Sergio Moro. Para ele, trata-se de prender Lula e contribuir com a derrubada do governo petista. Definitivamente não parece ingenuidade.

*Guilherme Boulos é filosofo pela USP e integrante da coordenação nacional do MTST

Fonte:Pragmatismo Político, 11/03/2016