Agentes da Polícia Federal prenderam vários empresários e entre eles, o empresário Geovani, proprietário do Hotel Miranda
Empresário Geovani, do Hotel Miranda, no momento de sua prisão pela Policia Federal
Em cumprimento a mandados de busca e apreensão durante a “Operação Castanheira”, deflagrada no município de Novo Progresso, no Oeste do Pará, na 3ª feira (26), agentes da Polícia Federal prenderam vários empresários do Município. Entre eles, o empresário Geovani, proprietário do Hotel Miranda, que na ocasião empreendeu fuga de sua residência no momento da ação policial e se escondeu em uma igreja evangélica, no bairro Bela Vista, onde foi localizado e preso pela Polícia.
Na residência do proprietário do supermercado Duvallle, a ação policial procedeu na prisão da esposa do empresário, assim como na apreensão de armas e documentos encontrados.
A esposa de um dos envolvidos nos mandados de busca apreensão foi presa e encaminhadas para a cidade de Belém do Pará, para prestar depoimentos. Os envolvidos nas ações criminosas são considerados os maiores desmatadores da Floresta Amazônica. Eles devem ser indiciados pelos crimes de invasão de terras públicas, furto, crimes ambientais, falsificação de documentos, formação de quadrilha, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Somadas, as penas podem ultrapassar os 50 anos de reclusão aos condenados.
De acordo com o delegado da Policia Federal, Bruno Benassuly, que comandou a operação, os agentes partiram da base aérea do Cachimbo, porém, chegaram na madrugada de terça-feira, 27, em Novo Progresso. Ele explica que o aparato contou com noventa e seis policias federais em caminhonetes para cumprir 22 mandados de busca e apreensão, 11 mandados de prisões preventivas, 3 mandados de prisões temporárias e 4 conduções coercitivas.
Segundo o delegado Bruno Benassuly, várias residências e escritórios foram interceptadas pela madrugada, onde advogados representando a OAB/PA foram chamados para participar da operação como testemunhas. Entre os locais de busca, foram inspecionados a residência do proprietário do supermercado Castanha, de nome Ezequiel Castanha; residência do proprietário do Hotel Mirada, empresário Geovanni; residência do proprietário do Supermercado Duvalle, de propriedade de Ismael Duvalle; escritório de advocacia, entre outros.
A Polícia Federal informou que os empresários Ezequiel Castanha e Ismael Duvallle conseguiram fugir da operação, mas estão com mandados de prisão e estão sendo considerados foragidos da justiça.
A “Operação Castanheira” revê como objetivo desarticular uma organização criminosa especializada em grilagem de terras e crimes ambientais, na cidade de Novo Progresso. O dano ambiental, estimado em perícias, ultrapassa R$ 500 milhões.
OPERAÇÃO CONJUNTA
A operação da Polícia Federal contou com a parceira de agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Ministério Público Federal (MPF) e Receita Federal do Brasil (RFB). Noventa e seis policiais federais e 19 servidores do Ibama participam da chamada “Operação Castanheira”. As prisões e diligências ocorreram em mais três estados, além do Pará: São Paulo, no Paraná e no Mato Grosso. A Polícia Federal emitiu nota afirmando que se tratam dos “maiores desmatadores da Amazônia”.
Segundo as investigações, trata-se de uma organização criminosa especializada em invadir e promover desmatamentos ilegais em terras públicas federais, que são loteadas e vendidas para grandes criadores de gado. Entre as áreas invadidas estaria a Floresta Nacional do Jamanxim, área que sofregrandes desmatamentos e ameaças de redução de sua área, promovida por agropecuaristas e deputados ruralistas. A Flona foi criada em 2005, exatamente para tentar conter o desmatamento que poderia a crescer na região em função do anúncio do asfaltamento da Cuiabá-Santarém, a BR-163, corredor de exportação de soja dos cerrados do Mato Grosso.
Presos na “Operação Castanho” no momento em que chegavam algemados em Belém
CRIME AMBIENTAL
Nos últimos dias, o Greenpeace divulgou análises a partir de imagens de satélitesdo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que áreas embargadas pelo Ibama na região da BR-163, devido a grandes desmatamentos ilegais promovidos em anos anteriores, estavam sendo livremente queimadas. Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, a operação foi apelidada de Castanheira, em alusão à árvore protegida por lei e símbolo da Amazônia, que seria “abundante” na região de Novo Progresso. Até o momento, a Polícia Federal e o MPF ainda não divulgaram o nome dos presos.
Contudo, a ordem de prisão do dono do supermercado Castanho, em Novo Progresso, Ezequiel Castanho, acusado de ser um dos principais envolvidos no esquema, parece ter sido a real “inspiração” para o nome da operação.
PRESOS FORAM TRANSFERIDOS PARA BELÉM
As seis pessoas suspeitas de integrar a quadrilha que praticava crimes ambientais em Novo Progresso, foram presas e levadas para Belém no fim da tarde de quarta-feira (27). Os cinco homens e uma mulher foram transportados em um avião da Força Aérea e saíram do Aeroporto Internacional Val-de-Cans, na capital, algemados.
Segundo o procurador da república, Daniel Azeredo, “a sofisticação da quadrilha a torna a maior dos últimos anos especializada em desmatamento da Amazônia. É um crime ambiental que envolveu lavagem de muito dinheiro, corrupção e falsificação de documentos. Acredito que este é o primeiro caso de crime ambiental em que a investigação focou também no aspecto financeiro dos envolvidos”.
Segundo o MPF, a quadrilha invadia áreas públicas protegidas, como a Floresta Nacional Jiamanxim, faziam queimadas para a formação de pastos. Posteriormente, a área era loteada e revendida a produtores e agropecuaristas. Perícias apontam que dano ambiental no Município ultrapassa R$ 500 milhões. O delegado da Polícia Federal no Pará, Raimundo Benassuly, detalha como os crimes ocorriam. “Essa investigação começou há um ano, em parceria com o Ibama, que está em Novo Progresso desde 2008. Fizemos uma interceptação telefônica que revelou como o bando agia. Um crime organizado com alta lucratividade. Foram identificadas 11 áreas desmatadas, que eram revestidas para especulação imobiliária, ou seja grilagem de terra. Eles queimavam a área, plantavam capim, e preparavam para a plantação de soja. Daí vendiam para empresários, sobretudo, do sul e do sudeste do país. Fizemos a quebra do sigilo bancário que revelou altas quantias, terras que eram vendidos a R$ 10 milhões. Agora eles serão ouvidos aqui em Belém. Dentre os presos, tem grandes empresários de Novo Progresso, um advogado que sabia que ele estava trabalhando com documento falsificado e lavagem de dinheiro”, concluiu Benassuly. Com informações e fotos de Adécio Piran e Igor Mota.
Fonte: RG 15/O Impacto