A polêmica em torno do uso do paracetamol, princípio ativo básico do medicamento Tylenol, produzido pela gigante farmacêutica norte-americana Johnson & Johnson, ganhou um novo contorno, nesta quarta-feira, com a divulgação de estudo publicado na página do médico brasileiro Renan Marino, pesquisador e professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP) e mestre em Ciências da Saúde. Com a recomendação do Ministério da Saúde, no Brasil, e da Organização Mundial de Saúde (OMS), “para o tratamento da febre e da dor nos casos de dengue”, o remédio é taxado como um risco à vida do paciente, no recente artigo publicado por Marino: “A grande maioria dos óbitos por dengue é devido à pura ‘barbeiragem’ terapêutica, porque hoje, com os atuais conhecimentos sobre as drogas, é inaceitável se prescrever paracetamol na dengue, não importando qual seja o pretexto!”, exclama o cientista.
Segundo o pesquisador, “diante do aumento incontrolável dos números de casos graves e do registro de dezenas de mortes por dengue em nosso país neste primeiro trimestre de 2013, na sagrada missão médica de prevenir e evitar a doença e morte, e no exercício do direito constitucional de denunciar e combater tudo que coloque em risco a saúde e a vida de qualquer cidadão deste país, é que explico em detalhes as verdadeiras causas deste desastre provocado pela absoluta falta de racionalidade terapêutica no manejo desta doença, sob os auspícios da equivocada orientação que a população e a classe médica vêm inadvertidamente recebendo das autoridades sanitárias”.
Leia, em seguida, a íntegra do artigo
“Por isso julgo urgente compartilhar estas diretrizes simples, seguras, eficazes e suficientes, para evitarmos o aumento dos casos fatais decorrentes da atual epidemia de dengue. Desde 2001 quando realizamos o primeiro trabalho populacional de campo para prevenção da dengue, temos observado ao longo do tempo, a relação direta dos casos graves e fatais com o uso de medicação de potencial lesivo ao fígado.
“Dengue é inevitável, mas a mortalidade da Dengue pode perfeitamente ser controlada!
“Com a destruição do entorno de florestas das cidades e o definitivo caos urbano instalado nas metrópoles, o Aedes aegypti teve um processo de perfeita adaptação neste novo habitat. De acordo com os darwinistas, este mosquito transmissor da dengue é sobrevivente de recuadas eras geológicas, contemporâneo dos dinossauros, já há muito extintos, e continua seu processo evolutivo com muita eficiência, sendo mais provável que continue existindo neste planeta mesmo após o eventual desaparecimento da espécie humana deste cenário. Para consolar os criacionistas, com certeza havia um casal de Aedes na Arca de Noé…
“É necessário compreender objetivamente a natureza das alterações que se passam no corpo humano em resposta ao ataque dos quatro tipos virais desta doença e como e por que o paracetamol é o verdadeiro responsável pelos casos de má evolução:
1 – Todos os quatro tipos virais da dengue são extremamente hepatotrópicos, tem atração pelas células do fígado, e assim explica-se que fundamentalmente a dengue seja uma hepatite viral, já que isto ocorre em 100% dos casos, em diferentes intensidades (lesões demonstradas por microscopia eletrônica há mais de uma década) e evoluem com aumento das enzimas chamadas transaminases ou aminotransferases que caem na circulação sanguínea quando as células do fígado são lesadas (TGO e TGP, hoje denominadas AST e ALT).
2 – Até a década de 60, quando as pessoas com dengue não eram expostas a drogas tóxicas ao fígado, a dengue era considerada pelos estudiosos em Doenças Infecciosas, uma doença benigna e que raramente evoluía para a morte!
3 – Desde o final da década de 60, observou-se um crescente uso do paracetamol ou acetominofen pela população, hoje considerado a droga de maior risco potencial de causar lesões ao fígado, utilizada em larga escala no mundo todo e sem controle algum quanto aos seus sérios efeitos colaterais.
4 – O paracetamol também já detém há mais de uma década o imbatível título de maior causador de perda de função do fígado e transplantes deste órgão, conforme dados divulgados na Grã-Bretanha e Estados Unidos da América.
5 – Em condições normais, o paracetamol é conjugado com o Ácido Glucurônico ou sofre Sulfatação no processo de inativação pelo fígado. Porém, em 10% das situações, uma 3ª via metabólica chamada Citocromo p-450 (CYP2E1) é ativada dentro de organelas intra-celulares e ela gera detritos altamente tóxicos que só não destroem o próprio órgão porque são imediatamente bloqueados por uma substância produzida no fígado denominada glutationa.
6 – Hoje, os estudos demonstram que em doenças virais, e especialmente na dengue, porque ocorre inflamação generalizada do fígado, a glutationa deixa de ser sintetizada e os seus estoques são esgotados muito rapidamente. Como resultado da corrosão das células hepáticas pelos resíduos do paracetamol, são liberadas grandes quantidades de substâncias vasoativas, com parada na produção dos fatores de coagulação, levando ao colapso circulatório, hemorragias, choque e finalmente óbito por insuficiência múltipla dos órgãos. Estes fenômenos ocorrem em geral no 5º dia de evolução e representam fielmente os casos de intoxicação pelo paracetamol, mas que são erroneamente classificados como Dengue Hemorrágica!
7 – Em todo o período de 1980 a 1990, em que o paracetamol foi adotado pelo Ministério da Saúde como único medicamento a ser tomado em casos de dengue, contrariando o bom senso e toda a mínima lógica terapêutica (além de não existir até hoje nenhum estudo realizado quanto à segurança de sua indicação nestes casos), esta doença alcançou recordes macabros em número de casos graves e fatais no Brasil.
“Este escândalo levou à introdução da Dipirona em 2001 como opção ou em associação, alternando-se com o paracetamol, e de fato ocorreu uma diminuição da ocorrência de casos graves e fatais após esta medida.
“Definindo os grandes grupos de risco para Dengue Hemorrágica ou com Complicações
1 – Grupo Natural: Todos os indivíduos portadores de doenças crônicas que afetem o fígado, no curso de infecção pelo vírus da dengue: cardiopatas, diabéticos, Doenças de Auto-imunidade, Hipertensão Arterial Sistêmica, Síndrome Metabólica, Obesidade Mórbida, Neoplasias, etc.., além dos portadores de doenças propriamente do fígado, como Hepatites A, B, C, D, E, Cirrose Hepática, etc…
2 – Grupo Acidental: Todos os indivíduos, mesmo saudáveis, especialmente crianças menores de 10 anos (baixas reservas de glutationa), que apresentando doenças virais, principalmente se afetarem o fígado como no caso da dengue, e que sejam medicados com paracetamol, princípio ativo do medicamento comercialmente conhecido como Tylenol.
3 – Grupo de Altíssimo Risco: Todos os indivíduos do Grupo 1 que sejam medicados com paracetamol.
A grande maioria dos óbitos por dengue é devido à pura ‘barbeiragem’ terapêutica, porque hoje com os atuais conhecimentos sobre as drogas é inaceitável se prescrever paracetamol na Dengue, não importando qual seja o pretexto!
Recomendações práticas para boa evolução dos casos de dengue
1 – Guardar repouso absoluto;
2 – Hidratação abundante, com água, sucos naturais, água-de-coco, chás, isotônicos;
3 – Dieta leve e frutas, evitando-se alimentos gordurosos;
4 – Abstenção de álcool;
5 – Não ingerir paracetamol ou medicamentos que causem agressão ao fígado;
6 – Quando necessário, usar apenas dipirona (nos casos de alergia à dipirona, usar ibuprofeno com orientação médica, apenas em doses analgésicas e antitérmicas) para controle da dor e febre;
7 – Nos casos que requeiram controle médico, em geral são suficientes apenas seguimento com hemograma completo para contagem de plaquetas e leucócitos, hematócrito, e hemoglobina, além de dosagem de transaminases para avaliar a intensidade da inflamação do fígado.
A versão da indústria
A área de comunicação da indústria norte-americana Johnson & Johnson informa, na página que a empresa mantém na internet, que o uso de medicamentos “à base de paracetamol, entre eles o TYLENOL®, é recomendado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial de Saúde para o tratamento da febre e da dor
nos casos de dengue“.
Ainda segundo a empresa, “o paracetamol vem sendo usado com segurança em todo o mundo desde 1955, inclusive nos Estados Unidos e Inglaterra”, e divulga o depoimento dos autores do livro Dengue no Brasil – Doença Urbana 2012, dos médicos Artur Timerman, mestre em Infectologia pela USP, e Kleber G. Luz, doutor em Doenças Infecciosas pela USP e mestre em Pediatria pela Unifesp.