segunda-feira, 8 de junho de 2015

O fim da FIFA

Vivemos em tempos de marcas, de branding. Se é que você me entende. E nisso de marca, a FIFA foi um marco.

A entidade fez do futebol o esporte mais popular e poderoso do mundo. Paixão mundial, o football movimenta bilhões de dólares em todo o planeta. A Copa do Mundo é cobiçada por chefes de Estado mundo afora. O EUA, veja você, terra da bola achatada, querem tirar da Rússia o papel de país sede.
LELÊ TELES

Geopolítica, irmão, tamanha é a força deste evento. Sediar uma Copa do Mundo significa ganhar, de graça, uma campanha de marketing global e ainda encher o país de turistas e de dólares.

Futebol é poder. Futebol é dinheiro. E essa grana entra por meio de apoios, patrocínios, merchandisings. Nada sai do bolso da FIFA, só entra. A poderosa entrava com a sua impoluta credibilidade, a chancela de sua marca.

Hoje, suja de lama, é mal falada até no mais esburacado campinho de várzea. Virou motivo de revolta e de chacota, sinônimo de roubalheira, falcatruas e maracutaias.

Durante uma partida de futebol, enquanto 22 marmanjos dão sapatadas na gorduchinha, a máquina registradora não para. Enquanto você grita gol, eles enchem as burras.

A arena leva o nome de uma grande empresa, tudo o que se vende ali é licenciado; à volta do gramado piscam letreiros em espaços disputadíssimos: compre isso, beba isso, coma aquilo, pague aquilo outro. A TV leva a emoção dos gramados para a sala de casa, bares, pubs, prostíbulos e conventos.

Mais que isso, aproveita a emoção dos torcedores embriagados de álcool e de êxtase e enche a alma deles com slogans, logos e toda sorte de malabarismos persuasivos. As empresas faturam com a euforia dessa paixão colocando suas marcas nas chuteiras, nos uniformes dos atletas, nos apitos dos juízes, nas bandeirinhas, nas macas, na placa de substituição... patrocínio caríssimo.

Até a bola tem marca. Por conta disso, os jogadores passaram a fazer as unhas, ajeitar o cabelo, cuidar da imagem. De desleixados raparigueiros, tornaram-se garbosos metrossexuais. Viraram um produto a ser comercializado a preço de ouro.

Agora, cada jogador tenta também impor a sua marca: um tem moicano, o outro usa gel nos cabelos; um faz pose de bad boy, o outro faz cara de coroinha. Tudo mercadoria. Mas todos eles, jogadores, cervejarias, bancos, empresas de material esportivo, companhias aéreas, fabricantes de energéticos, toda essa moçada cola sua imagem na imagem da FIFA.

A mesma FIFA das propinas, dos votos comprados, dos resultados manipulados, da mão de gato. Quem quer fazer uma selfie com Blatter, com Teixeira... quem quer que sua marca seja associada a essa associação de escroques? A FIFA é a lepra do século XXI. Todos fogem com medo do contágio.

É uma marca perdida, uma marca suja, um nome para ser esquecido, ou para ser lembrado apenas com indignação e nojo. Quem coloca em um filho o sobrenome de Hitler? Até o Adolph saiu de moda. Não conheço um cabra de nome Herodes, Caifás ou Judas.

Conheci um peruano com o bizarro nome de Pizarro, mas ele me disse que o pai achava que o homônimo era um herói. A suástica, símbolo milenar, virou apenas uma tatuagem no peito de arruaceiros desmiolados. Só o cristianismo pegou uma imagem negativa, ícone da tortura e da morte, a cruz, e fez dela um símbolo da paz e do amor, ressignificando-o.

A FIFA é um caso perdido. E como corrupção envolve dinheiro, e o dinheiro no futebol vem de empresas patrocinadoras, os nomes de muitas delas ainda virão à luz. O nome da Nike já apareceu, outros virão. É fato que muitas dessas empresas e companhias molharam as mãos, e os bigodes, dos mandachuvas da FIFA e da CBF.

Direito de transmissão de jogos com exclusividade, mesmo pagando mais barato que a concorrente, como fez a Globo; privilégio de escolher adversários e o elenco do escrete brasileiro, como já fez a Nike, monopólio da venda de guloseimas e bugigangas nas proximidades das arenas esportivas durante a Copa...

Mas todas elas sobreviverão, sairão como vítimas de achaques. Menos a FIFA (e a CBF), o destino da FIFA (e da CBF), marca que já valeu bilhões de dólares, é a lata do lixo.

Brasil247, 07/06/2015

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