sábado, 25 de abril de 2015

Itaituba e os grandes projetos



É triste o destino de uma cidade, onde sua sociedade é indiferente ao que fazem com seu território e falta de urbanização. Onde as autoridades são submissas aos interesses econômicos, em detrimento ao bem estar da população local, onde poucas pessoas se interessam em defendê-la. Onde forasteiros encontram espaços livres para implantar seus empreendimentos sem um mínimo de respeito pelos habitantes locais e ao meio ambiente, hoje essencial à existência humana.

Nossa cidade vem sofrendo esses impactos há um bom tempo, mas se agrava nos dias atuais.

Primeiro grande exemplo é o surgimento, a ampliação e a consolidação do complexo portuário da multinacional Cargill. Bunge e outras. A ocupação de Miritituba ocorre em ritmo acelerado há uns quatro anos e a tendência é aumentar muito. Cerca de 17 terminais portuários deverão ser construídos e isso tem consequências para a cidade, o município e seus habitantes. O pior, é que ninguém se opõe – nem sociedade civil, nem prefeitura e nem Câmara de Vereadores. Preferem aceitar migalhas doadas pelas empresas e seu consórcio.

Aliás, colaboradores não faltam. O deputado finge que negocia em favor do povo, a prefeita "muito preocupada" com os interesses sociais contribui para a implantação dos projetos e os vereadores homologam as ações.

Também está em andamento mais invasões de território, agressões à natureza e violações de direitos de famílias de bairros periféricos. É provável que algumas áreas de proteção ambiental estejam sendo afetadas.

Enquanto a sociedade parece inerte, as ações planejadas e bem articuladas estão em curso de comum acordo com a Prefeitura de Itaituba. Técnicos repensam a área urbana, preocupados com os interesses escusos que chegam e se apropriam de nosso território.

Os grandes portos graneleiros causarão um impacto muito grande na vida do nosso município. Serão centenas de carretas duplas por dia, para exportar milhões de toneladas de soja por ano.



A corrida ao ouro e ao diamante, bem como a outros minerais tem impactado demais o meio ambiente. PCs tomam conta de áreas legais ou não e provocam estragos. Em nome da geração de empregos, mineradores vindos, principalmente, de Rondônia e Mato Grosso fazem aqui o que fizeram em seus estados de origem. 

Aos poucos, acabam com nossos igarapés, matam nosso rio, nossas matas, nossos peixes, animais e outros recursos naturais. 

Os incautos não conseguem perceber as reais motivações desses projetos e inocentemente até apoiam sua iniciativas, e assim, cavam suas próprias sepulturas. Nesse contexto, quem levanta a voz é inimigo do progresso, do desenvolvimento. Para o Dudimar Paxiúba, por exemplo, ficou a pecha de inimigo dos garimpeiros. 

Por aqui, certamente também se transportará ração animal, óleos vegetais, fertilizantes e óleo diesel.

Vários projetos estão em fase de cálculos, aquisição de terrenos (hoje quase todos ocupados por moradores, nem sempre legalizados mas que pagam IPTU, energia elétrica etc).

Diante das ameaças à vista, e outras concretizadas, finalmente algumas associações de moradores, praticamente sem apoios, já com certo atraso, tentam construir uma resistência a tais crimes.

Seminários, pesquisas e encontros de lideranças devem ser realizados para compreender essa dinâmica ocupacional oriunda de outros territórios. Sindicatos e associações tem a necessidade urgente de assimilar esse processo de "desenvolvimento” de Itaituba, e de posse de mapas, propostas e impactos previstos, se anteciparem aos problemas sociais que se configuram e fazer as mobilizações.

Buriti, Campo Belo, Miritituba, causam preocupações. Os loteamentos são pensados na perspectiva de compra e perda dos terrenos. Inicialmente, as parcelas que cabem no seu bolso, mas depois de um certo tempo como você nem sempre consegue pagá-las, e aí, nem terreno e nem dinheiro investido.

As BRs 230 (Transamazônica) e 163 (Cuiabá/Santarém) abertas na década de 70, há bastante tempo tiveram seus projetos iniciais descaracterizados e hoje, o que se sabe, é que há uma desocupação da área de colonização porque proprietários e posseiros, iludidos vendem seus lotes ou são forçados a deixar terras.

Da parte dos vereadores, pouco se pode esperar. Dentre os quinze representantes da sociedade, poucos vereadores vão além da representação de si mesmos. 

Poucos moradores de nossa cidade ainda acreditam que os vereadores acompanham o andamento dos projetos, tem uma posição clara em defesa do meio ambiente e dos direitos sociais. 

A prefeita, por seu turno, permanece calada, omissa e complacente. Para ela os grandes projetos, trará mais empregos e geração de renda. Não fala dos impactos negativos e nem garante legalizar os terrenos habitados, porém permite que as grandes empresas forasteiras se instalem na mesma área que ele não legaliza para os habitantes.


Uma coisa é certa, depois que acabarem com o Rio Tapajós, pescar o último peixe, derrubar a última árvore e extraírem o último grama de ouro, de nada adiantará descobrir que não se come dinheiro.

Neste momento tão importante algumas indagações são bastante oportunas. Queremos o desenvolvimento? Queremos o desenvolvimento deles ou o nosso?

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