domingo, 9 de novembro de 2014

“Jatene trata povo do Tapajós como bandido”

A afirmação é do professor Edivaldo Bernardes ao rebater críticas feitas pelo Governador do Pará 
Professor Edivaldo Bernardes

Chateado com o fato de alguns vereadores de Santarém terem se aliado a chapa que venceu a eleição para o Governo do Pará, nas eleições deste ano, depois de terem se manifestado a favor da criação do Estado do Tapajós, no plebiscito de dezembro de 2011 e também com as declarações preconceituosas do governador Simão Jatene (PSDB) em relação ao povo do Tapajós, em entrevista concedida ao um jornal de grande circulação nacional, o coordenador do Instituto Cidadão Pró Criação do Estado do Tapajós (ICPET), professor Edivaldo Bernardo, declarou que o gestor estadual age com discriminação com a população desta região. Após Jatene declarar em reportagem que “o plebiscito de 2011 foi uma das experiências mais sérias e traumáticas que o Estado já teve e, que não dá para meia dúzia de irresponsáveis, de lideranças sub-regionais, fazer um estrago deste tamanho”, o professor Edivaldo Bernardo disse que o atual Governador está desrespeitando a vontade popular. Para ele, ao invés do Governador ficar incitando a discórdia entre os povos do interior e da Região Metropolitana, ele deveria ter o consenso de debater e aceitar que a divisão é a melhor solução para desenvolver o Pará. Veja a entrevista na íntegra:

Jornal O Impacto: Em relação aos vereadores que apoiaram a criação do Estado do Tapajós no plebiscito de 2011 e que em 2014 se aliaram ao governador Simão Jatene. Qual análise o senhor faz com relação a atitude estranha desses parlamentares?

Professor Edivaldo: O que observei é que a região continua se comportando de acordo com as suas conveniências. Não existe, na verdade, por parte da grande maioria dos políticos a luta por uma causa, que é a criação do Estado do Tapajós. Essa adesão deve ser a favor ou contra e, depende muito da conveniência de cada um. O exemplo disso é que grande parte dos prefeitos da região Oeste estão nessa batalha a favor do Novo Estado. Essa questão do ponto de vista político e do ponto de vista público é um pouco difícil de conseguir apoio. Precisamos de apoio das prefeituras e das câmaras municipais, em função de que sempre há alguma dificuldade para se conseguir esse tipo de apoio de algumas lideranças. Nessas eleições de agora, faltou muito esse tipo de apoio, porque muita gente passou a se juntar com o Governo do Estado, tudo porque estavam voltados para arrecadar votos no maior colégio eleitoral, que ainda é Belém.

Jornal O Impacto: Para conseguir votos em Belém, os políticos da região tiveram que não declarar apoio ao Estado do Tapajós?

Professor Edivaldo: Ninguém queria ir contra Belém, para perder parte dos votos. Todos os vereadores, deputados estaduais e federais fizeram as bases políticas deles e, seguiram as orientações de lá. Essa orientação cabe a essa questão da emancipação da nossa região. Acho que eles devem repensar isso tudo pra ver se querem continuar na luta pela emancipação. Se eles querem a emancipação devem parar com esse negócio de ficar mudando de posição política, para sonhar com algo que é possível e que poderá dar uma qualidade de desenvolvimento melhor para a nossa região.

Jornal O Impacto: Alguns políticos da região ficam em cima do muro e isso dificulta toda a luta de criação da nova Unidade Federativa?

Professor Edivaldo: Da forma como está, não dá para continuar! Eu particularmente estou me sentindo um ‘Dom Quixote’, onde tudo aparentemente vai bem, mas por trás dos bastidores as pessoas que dizem nos apoiar tomam posição contrária. Esse ponto é muito complicado. Acredito que devemos repensar essas questões do ponto de vista político, embora a população queira a mudança. Algumas pessoas deixam se levar por essas lideranças, enquanto que os políticos ficam fazendo suas alianças de acordo com suas necessidades. Foi notado um posicionamento entre algumas pessoas, em que sua personalidade, seu brilho, seu caráter, seu orgulho, isso ficou totalmente desprovido, em função de sua própria necessidade. A terceira coisa é que temos uma população muito pequena ainda em relação à Metrópole Belém. Por enquanto temos que repensar isso em relação a esses fatos, porque se todo mundo tivesse focado, como a população, políticos, vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, para essa causa, essa emancipação sairia mais rapidamente. Se depender somente da vontade do povo, que mostrou isso nas urnas e pela vontade de alguns, aí realmente fica um pouco difícil.

Jornal O Impacto: Essa declaração do governador Simão Jatene a um jornal de grande circulação no Brasil, de que o plebiscito foi uma ‘campanha desgraçada’ para o Pará. Isso mexe com o sentimento da população da região Oeste do Estado?

Professor Edivaldo: Acho que essa questão do Governador é a parte mais difícil da gente engolir. Na época do plebiscito, o Governador tentou se mostrar como o pai de todo mundo, porque era o Governador do Estado. Porém, ele se mostrou a favor dos filhos mais ricos e ficou contra os filhos mais pobres. Se ele era o pai de todo mundo, não poderia ter ficado a favor de uns e contra outros, deveria ter sido imparcial. A segunda coisa que feriu o orgulho de todo o povo do Tapajós, foi que durante a campanha do Jatene neste ano, fomos tachados de separatistas, como se fôssemos estrangeiros querendo invadir o território do inimigo. Fomos chamados de esquartejadores do Estado, como se fôssemos assassinos. Nos chamaram de ladrões do território do Estado, como se fôssemos bandidos. O que ele está desprezando é que falamos a mesma língua e somos irmão da Região Metropolitana e do Estado. Ainda temos as mesmas leis constitucionais e estamos sendo vítimas de todo esse preconceito e essa discriminação.

Jornal O Impacto: Mesmo sendo contra a criação do Estado do Tapajós, o governador Simão Jatene pleiteou votos aqui na região nas eleições de outubro deste ano?

Professor Edivaldo: Neste ano esse mesmo Governador queria o nosso voto, como se nada tivesse acontecido e, como se a população tivesse a memória curta e não sentisse orgulho de ser do Tapajós. O pior de tudo é que ele mente muito e continua mentindo, onde na reportagem do jornal de circulação nacional, ele falou que é apenas um grupinho de meia dúzia de políticos que querem a emancipação do Tapajós. Ele esquece que toda a população de Santarém votou mais de 98% a favor do Sim, no plebiscito de 2011. Ele esquece que houve uma consulta plebiscitária popular, onde a população mostrou que quer se emancipar. Ele sempre coloca que é apenas um grupo político e esquece da vontade do povo, como se o povo não tivesse valor nenhum e nem vontade.

Jornal O Impacto: Falta humildade para o Governador perceber que o melhor para o Pará é a emancipação da região Oeste?

Professor Edivaldo: Ele deveria ter a humildade de falar: ‘Olha, vamos debater sobre essa questão. Vamos discutir a emancipação’. Ele deveria chamar a população para um debate, para tentar contornar essa situação de que o Estado está dividido, para que as metas em cada região possam chegar melhor e a população ter um atendimento melhor. A própria eleição desse ano mostrou que ele governa para Região Metropolitana de Belém e esquece das outras regiões do Estado. A grande maioria dos municípios do interior do Estado votou contra ele, que governa somente pra Região Metropolitana, porque é onde está a maior concentração de eleitores e, que pode decidir uma eleição. As outras cidades do interior ficam com as migalhas que sobram da Região Metropolitana. Essa Democracia dele é complicada, porque ele governa pra uns e esquece de outros.

Jornal O Impacto: O resultado das urnas neste ano mostrou a total insatisfação da população da região Oeste do Pará?

Professor Edivaldo: Sim. Tanto é que em Santarém, por ser a cidade pólo, e o terceiro maior colégio eleitoral do Pará, a população votou expressivamente contrária ao governador Jatene. O povo mostrou essa insatisfação. Então, não podemos aceitar a forma de governar de Jatene, como a coisa mais natural do mundo. Até porque essa região vive no esquecimento e no descaso e sem crescimento econômico.

Fonte: Manoel Cardoso, no O Impacto, 06/11/14

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