sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O que os politicólogos disseram sobre o debate dos presidenciáveis no SBT

Debate (no SBT) foi histórico, para ser lembrado daqui a dez anos

Por eliane cantanhêde, da Folha de S. Paulo (e cobertura de Veja.com)

Sem exagero, o debate do segundo turno desta quinta-feira foi um debate histórico, desses que a gente vai estar comentando em cinco, dez anos. Os dois candidatos muito agressivos, com ataques do início ao fim, mas ambos com respostas na ponta da língua e tiradas televisivas.

Aécio teve um trunfo inesperado, com a história do irmão de Dilma, que a pegou de surpresa.

Dilma teve o trunfo dela, com o "furo" da Folha, no meio do debate, sobre a afirmação do delator da Petrobras de que o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (que já morreu), ganhou propina para esvaziar uma CPI da Petrobras de anos atrás.

No frigir dos ovos, dá para dizer que Aécio e Dilma saem feridos, mas saem vivos.

O mais importante é saber qual o percentual de indecisos ou de votos nulos e em branco que assistiram. Segundo a última pesquisa Datafolha, eles somam 12% do eleitorado.

Aécio e Dilma falaram para eleitores qualificados e, provavelmente, já definidos, tendo o cuidado de não perder votos. Mas, além de não perder, eles precisam ganhar. Ganharam?
Na Folha: Dilma e Aécio sobem tom de acusações e falam em familiares e bebida

O debate promovido por SBT, UOL e Jovem Pan nesta quinta-feira (16) foi marcado por uma maior agressividade nos ataques entre os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) –enquanto as propostas de governo mal foram abordadas em 1h20 de programa.

Com os candidatos empatados tecnicamente há uma semana, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta (15), novas acusações foram trazidas à tona, envolvendo episódios de nepotismo e de embriaguez.

Ao final do debate, ao conceder entrevista a uma repórter do SBT, a presidente passou mal e pediu para se sentar. Ela disse que sofreu uma queda de pressão. "Tive uma queda de pressão, o debate sempre exige muito da gente, foi isso, agora consigo concluir minha entrevista com você. Peço desculpas ao telespectador, mas é assim que nós somos", afirmou.
Reprodução/SBT 
Dilma passa mal ao final de debate do UOL, SBT e Jovem Pan

Aécio acusou Dilma de favorecer o emprego de seu irmão, Igor Rousseff, na prefeitura de Belo Horizonte durante a gestão Fernando Pimentel (PT).

A declaração ocorreu depois que Dilma repetiu, pela segunda vez no debate desta quinta, que o tucano havia empregado parentes no governo de Minas Gerais.

"Infelizmente agora nós sabemos por que a senhora disse que não nomeou parentes no seu governo. A senhora pediu que os seus aliados o fizessem", afirmou.

Igor, irmão único de Dilma, foi designado assessor especial do gabinete do prefeito de Belo Horizonte em setembro de 2003.

Quando ele se desligou da prefeitura, em 31 de dezembro de 2008, ocupava o cargo de assessor especial da Secretaria Municipal de Orçamento e Planejamento.

Fernando Pimentel, eleito governador de Minas Gerais no último dia 5, rebateu a acusação de Aécio pelo Twitter.

"Igor Roussef foi assessor especial na minha gestão em BH. Ele é advogado e trabalhou com regularidade e eficiência na prefeitura e na procuradoria do município", escreveu durante o debate.

O tucano também rebateu críticas de nepotismo relativas a sua irmã mais velha, Andrea Neves, que vinham sendo utilizadas por Dilma tanto neste quanto no debate anterior, ocorrido na segunda (13).

"No meu governo, me ajudou muito a minha irmã Andrea, figura extraordinária. Ela assumiu o serviço de voluntariado de Minas Gerais, me ajudou a coordenar a área de comunicação sem remuneração", disse o ex-governador.

"Lamento ter que trazer esse tema aqui, a diferença entre nós é que a minha irmã trabalha muito e não recebe nada, o seu irmão recebe e não trabalha nada", atacou.

Dilma, por sua vez, questionou Aécio sobre sua posição em relação à lei seca, que pune motoristas que dirigem embriagados – tema sensível ao tucano, que foi pego dirigindo com a carteira vencida e recusou-se a fazer o teste do bafômetro em 2011.

Aécio subiu o tom e disse que a candidata não tinha "coragem para a fazer pergunta direto".

"Eu tive um episódio sim, e reconheci. Tenho uma capacidade que a senhora não tem. Eu tive um episódio que parei numa Lei Seca porque minha carteira estava vencida e ali naquele momento inadvertidamente não fiz o exame e me desculpei disso", replicou.

Em 2011, ao se recusar a fazer o teste do bafômetro e dirigir com a carteira vencida numa madrugada no Rio de Janeiro, Aécio teve o documento apreendido em blitz da Operação Lei Seca.

À época, o tucano confirmou não ter feito o teste, mas disse que isso ocorreu porque os policiais já haviam constatado que sua habilitação estava vencida.

"A senhora caminha para perder essas eleições pela incapacidade que demonstrou inclusive de respeitar os seus adversários", rebateu Aécio.

Os candidatos também se acusaram mutuamente de mentir em várias partes do debate. Aécio chegou a dizer que Dilma fazia uma "campanha da mentira" e a petista falou que o senador "manipula palavras".

Análise: Marketing da pancadaria tenta desossar rival ao máximo

FERNANDO RODRIGUES, DE BRASÍLIA

O nível de agressão visto no debate presidencial desta quinta (16) é uma estratégia política deliberada das campanhas de Aécio Neves (PSDB) e de Dilma Rousseff (PT). Trata-se apenas de retórica quando ambos falam em elevar o nível das discussões.

É que a esta altura da eleição, com os dois empatados, os cânones do marketing político oferecem duas opções principais.

A primeira é ter uma proposta de governo realmente muito atraente e inovadora para tentar pescar votos no eleitorado do adversário. Aécio precisa convencer parte dos dilmistas a votar nele. E Dilma tem de atrair aecistas. Não é saída fácil, sobretudo porque muitos brasileiros já conhecem em linhas gerais como se comportam no poder o PT e o PSDB.

Mas sobram eleitores que declaram voto num nome sem ainda estarem muito convictos. Nesse bioma dos "quase indecisos" surge a outra opção do marketing: tentar desossar o concorrente ao máximo.

Essa estratégia pode até não levar Dilma a ganhar eleitores de Aécio ou vice-versa. Só que a enxurrada de acusações tende a causar o desalento em algum aecista ou dilmista pouco convicto. O objetivo de PT e PSDB agora é incentivar parte dos eleitores adversários a pensar "acho que não vou votar em ninguém".

Pode parecer uma estratégia reducionista, mas é o que basta. Neste momento, quem consegue fazer um eleitor desistir de votar no rival já obtém uma vitória. Ainda que esse brasileiro só decida votar nulo.

Daí Aécio classificar Dilma de mentirosa e incompetente. Citar a Petrobras. Mencionar os baixos investimentos na área de segurança. E trazer também ao debate um caso pessoal: o do irmão da presidente que um dia teve um emprego público em Minas Gerais.

No caso da petista, as acusações ao tucano foram ainda mais pessoais. Para muitos, talvez Dilma tenha ultrapassado o aceitável num debate presidencial, mas a tática foi meticulosamente estudada pelo seu marketing: resta cerca de uma semana de campanha e é preciso usar ataques fáceis de serem entendidos.

Dilma tangenciou e perguntou sobre pessoas que abusam de álcool e drogas. Trouxe para a mídia de massa (a TV) o episódio em que Aécio foi barrado há alguns anos por uma blitz policial no Rio e se recusou a fazer o teste do bafômetro. O tucano estava treinado. Admitiu o erro e disse ter ficado arrependido.

Para não restar dúvidas, ao final do debate, o presidente do PT, Rui Falcão, foi explícito em entrevista ao UOL: "Todo mundo sabe que ele [Aécio] estava dirigindo embriagado".

Até dia 26 será assim. A mando do marketing, os brasileiros saberão cada vez mais detalhes das vidas pessoais de Dilma e Aécio.

Análise política do Estadão: Sem limites para a desconstrução das duas candidaturas

MARCELO DE MORAES - O ESTADO DE S. PAULO

Candidatos se preocuparam muito mais em desconstruir adversário do que em discutir programas de seus eventuais governos

A eleição mais acirrada do País desde sua redemocratização acabou produzindo um inesperado efeito colateral. Os debates entre a presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves exibiram os dois candidatos se preocuparam muito mais em desconstruir o adversário do que em discutir programas de seus eventuais governos. Nesta quinta-feira, 16, no debate realizado pelo SBT, o nível da troca de ataques parece ter chegado ao seu grau mais elevado, com traulitadas violentas de ambas as partes, envolvendo família, álcool e corrupção, entre outros temas.

Ao adotarem a saraivada de críticas como estratégia, os candidatos sinalizam uma prioridade que inverte a lógica tradicional da política. Em vez de buscarem o interesse dos eleitores com suas propostas, a tática privilegia apontar o dedo para os defeitos dos oponentes.

O risco dessa estratégia é claro: aumentar a rejeição dos candidatos e indicar o caminho do voto nulo ou da abstenção para o eleitor. Afinal, ao ouvir tantos ataques mútuos, o cidadão sempre pode considerar que ambos têm razão nas críticas e se desapontar mais ainda com a política.

Até agora, as pesquisas de intenção de voto apontam para o empate técnico entre os dois candidatos, com Aécio levando pequena vantagem numérica. A segunda rodada de pesquisas do 2.º turno, divulgada na quarta-feira por Ibope e Datafolha, registrou a manutenção desse quadro, mas já indicou um ligeiro aumento de votos brancos e nulos e no número de indecisos.

Se os dois debates restantes forem novamente marcados pela tática da desconstrução de candidaturas sem limites, a taxa de rejeição poderá se tornar um fator muito mais importante para a eleição do que as propostas para saúde, educação, segurança ou outras áreas prioritárias para o País.

Marco Aurélio Garcia diz que Aécio explora 'sentimento anticomunista'

ADRIANO BARCELOS, DO RIO

O assessor especial da Presidência da República para assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, atacou as propostas do candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB) para a política internacional brasileira na tarde desta quinta-feira (16).

Garcia criticou principalmente o que entende como apelo de Aécio ao discurso anticomunista ao questionar nos debates e na propaganda eleitoral investimentos brasileiros no porto de Mariel, em Cuba.

"É um caso claro de exportação de serviço, é importante e fizemos com outros países, com o Chile e com a Venezuela, Bolívia, Colômbia. O candidato Aécio está tentando aproveitar, não sei se é anticomunista feroz, um sentimento anticomunista que existe em parcelas da população e transformar isso num problema. Não tem essa coisa de deixar de fazer um porto em Rio Grande (RS) para fazer um em Cuba, não tem isso", afirmou Garcia, para completar:

"Se ele quiser trazer isso, está apostando na desinformação".

O assessor da presidente Dilma Rousseff participou de encontro organizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais em um auditório da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Encontrou uma plateia favorável e respondeu as principais críticas da oposição à condução do Itamaraty no governo Dilma. Negou que haja antipatia do Brasil com os Estados Unidos e que o país esteja alinhado em demasia com "os bolivarianos", referindo-se especialmente à Bolívia de Evo Morales e à Venezuela de Nicolás Maduro.

INSINUAÇÃO

Durante a apresentação, Garcia explicou o atual momento da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e fez insinuações que associam Aécio ao uso de entorpecentes. O tucano tem defendido mais segurança nas fronteiras para evitar o ingresso de cocaína no país.

"Se vocês lerem os documentos constitutivos da Unasul, verão que concretamente o que se dá ênfase ali é na questão da integração logística, da integração elétrica. Tudo isso vai exigir do governo brasileiro, mudança na capacidade de diálogo. Essa capacidade não se fará se nós dissermos que estamos cercados por países produtores de cocaína. (aplausos) Não entendo tanto essa obsessão com a cocaína, mas deixa pra lá (risos)."

No final, para a imprensa, Garcia criticou a proposta de Aécio de aproximação com o bloco de países da Aliança do Pacífico, em detrimento do Mercosul.

"Estamos há três meses defendendo um diálogo entre a Aliança do Pacífico e o Mercosul. Quem está defendendo a Aliança do Pacífico não tem a mínima ideia do que é a Aliança do Pacífico.

Aécio não tem ideia de muitas coisas, mas essa aí em particular. Temos, em termos comerciais, tarifas com vários países da Aliança do Pacífico mais baixas que eles têm internamente", afirmou.

MAR DE LAMA

Em seguida, o assessor atacou mais diretamente a postura do candidato do PSDB e afirmou que o avô de Aécio, Tancredo Neves, que foi ministro da Justiça no último mandato do ex-presidente Getúlio Vargas (1951-1954), "daria voltas no túmulo" ao ver o tucano mencionando um "mar de lama" no atual governo.

"O Aécio está reeditando a velha agenda da direita brasileira. Neste particular ele não está inovando nada, ele é um candidato velho. A cereja no bolo foi a frase dele sobre o mar de lama. O avô dele, que participou daquele governo que era chamado de mar de lama, de Getúlio, deve estar dando voltas no túmulo. Essa é a linguagem que levou Getúlio ao suicídio, levou ao golpe militar, mas não vai nos levar a uma derrota. Se nos levar, tudo bem, faz parte da democracia, mas acredito que o povo brasileiro evoluiu muito". 

Em VEJA: Corrupção e ataques pessoais marcam debate agressivo entre Dilma e Aécio. Presidente-candidata tentou resgatar episódio no qual Aécio recusou-se a fazer o teste do bafômetro, mas tucano devolveu apontando o baixo nível da campanha petista

Se até agora, a aposta de Dilma Rousseff (PT) foi na tentativa de desconstrução do gestor Aécio Neves (PSDB), no debate promovido por SBT/UOL/Jovem Pan, a presidente-candidata buscou atingir o caráter do tucano. O ápice da estratégia petista ficou claro no terceiro bloco, quando Dilma sacou uma pergunta sobre a Lei Seca no trânsito, cujo verdadeiro objetivo era lembrar o episódio em que Aécio recusou-se a fazer o teste do bafômetro durante uma blitz no Rio de Janeiro. O tiro saiu pela culatra: Aécio respondeu dizendo que ela "poderia ter sido direta" e ele mesmo mencionou o episódio. Na sequência, acusou Dilma de rebaixar o nível do debate.


"Tenha coragem de fazer a pergunta diretamente. A senhora tenta deturpar um assunto que deve ser lidado com maior clareza. Eu tive um episódio sim, em que me recusei a fazer o teste do bafômetro. Minha carteira estava vencida. Eu me arrependi, diferentemente da senhora que não se arrepende de nada. Vamos falar de coisa séria, de como melhorar a vida das pessoas. Não é possível que a senhora queira fazer a campanha mais suja que já se viu. Quando a senhora ofende a mim, ofende a minha família, a senhora ofende todos os brasileiros que querem mudança", disse. Contrariando as regras do debate, a plateia aplaudiu.

Na mais acirrada campanha desde a redemocratização, o duríssimo debate entre Dilma e Aécio foi pontuado por acusações de corrupção e nepotismo. A temperatura subiu quando as duas campanhas prepararam “perguntas-surpresas”, sobre temas que não haviam sido abordados nos confrontos anteriores na televisão – no caso da petista, o ataque pessoal ao tucano.

Confrontado no debate anterior, da TV Bandeirantes, com o fato de que sua irmã, Andrea Neves, trabalhou no governo de Minas Gerais quando ele administrou o Estado, Aécio Neves disse que que ela exercia trabalho voluntário e não remunerado. Em seguida, apontou a nomeação do irmão de Dilma, Igor Rousseff, para um cargo de assessor da prefeitura de Belo Horizonte na gestão do petista Fernando Pimentel.

Os 15,2 milhões de votos de Minas Gerais também voltaram ao centro do debate. Em todos os blocos, a petista tentou apontar números desfavoráveis dos governos de Aécio ou mencionou o Estado lateralmente. O tucano reclamou: “Quem ligar a televisão desavisadamente agora vai achar que a senhora quer ser governadora de Minas Gerais ou prefeita de Belo Horizonte”. A petista reagiu dizendo que Aécio "quer falar em nome de Minas Gerais" e voltou a citar a reportagem do jornal Folha de S. Paulo, segundo a qual ele construiu um aeroporto na cidade mineira de Cláudio em terras de familiares – ele diz que a área é pública. "Querendo ou não tergiversar sobre esse assunto, é errado colocar um aeroporto na fazenda de um tio", disse Dilma, numa das sucessivas falas em que empregou tom professoral.

Aécio insistiu na linha de que a campanha petista propagandeia mentiras: "A sua campanha é a campanha da mentira. O Brasil não merece a campanha que a senhora quer fazer". O tucano também citou a profusão de escândalos que assolam a Petrobras. Duas vezes, ele lembrou que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi apontado pelo delator do esquema de propina na estatal, Paulo Roberto Costa, como um dos destinatários dos recursos desviados dos cofres da empresa. Além disso, também lembrou que Vaccari tem assento no conselho de administração de Itaipu Binacional. Dilma, entretanto, tinha uma carta na manga desta vez: citou a reportagem da Folha de S. Paulo na qual Costa diz que pagou propina ao ex-presidente do PSDB, Sergio Guerra, morto em março deste ano, para que ele ajudasse a esvaziar uma CPI que investigava a estatal em 2009.

Dilma também tentou relembrar denúncias antigas envolvendo o PSDB: "Onde estão os corruptos da privataria tucana?". Aécio devolveu: "Onde estão os corruptos do seu partido? Estão presos". E mencionou os mensaleiros: "O presidente do seu partido [José Genoino] foi preso, o tesoureiro [Delúbio Soares] e o ex-ministro da Casa Civil [José Dirceu] foram presos".

Fonte: Folha de S. Paulo + Veja, 17/10/14

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