terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Eleição à presidência do Senado cria fenômeno anti-Renan na internet


De férias no Rio de Janeiro e, por isso, alheio ao noticiário nacional, Emiliano Magalhães Netto, 26, tomava cerveja na casa de um amigo na sexta-feira retrasada quando, entre um gole e outro, o companheiro colocou um bode na prosa: "O que você acha da eleição do Renan Calheiros para a presidência do Senado?"

Representante comercial de uma empresa em Ribeirão Preto (SP), Emiliano não tem filiação partidária nem preferência política. Sobre o assunto, diz que anda "acreditando na corrupção e desacreditando na política e na ideia de que as pessoas estão no poder para melhorar a minha vida ou a vida da minha família ou, enfim, do povo". À sua maneira, sempre acompanhou "notícias, jornais e atualidades, por gostar de ler jornal".

Mas nunca nada muito a fundo.

Ele, contudo, sabia que várias acusações envolviam Renan.

Dos problemas que ele teve com a Justiça sempre estive ao par. Coisa de mensalão... a gente sempre tenta saber um pouco mais.

À pergunta incômoda que o amigo lhe havia feito, Emiliano respondeu:

Pô, um absurdo, acho que isso não vai acontecer, não. O cara renunciou da última vez, está cheio de problemas com a Justiça.

O amigo, que navegava por sites de notícias na internet, porém, avisou que já era tarde: Renan tinha sido eleito com 56 dos 81 votos possíveis.

Emiliano reagiu com indignação.

Fiquei muito p... Ficou todo mundo muito p... A gente não sabia da notícia.

O representante comercial imediatamente se lembrou de um site por meio do qual era possível criar petições online, o Avaaz, que o amigo lhe mostrara pela manhã. Nele, Emiliano vira, ainda antes do resultado da votação do Senado, uma petição que tentava impedir a eleição de Renan. Não titubeou, e decidiu criar uma petição de teor semelhante, agora não mais para impedir que o alagoano chegasse ao posto máximo do Senado, mas para encaminhar um pedido aos senadores para que apeassem Renan de lá.

Emiliano resolveu nomear o pedido de "Impeachment do presidente do Senado: Renan Calheiros".

Usei a palavra impeachment porque foi o que aconteceu com o (senador e ex-presidente Fernando) Collor e todo mundo entenderia o recado, o fim da causa.

O representante comercial então fez uma pesquisada rápida na internet em alguns termos jurídicos para dar credibilidade à petição e também descobriu que, com 1,36 milhão de assinaturas, era possível encaminhar um projeto de lei de iniciativa popular para deliberação do Congresso. Estabeleceu que essa seria a mesma meta da petição.

Encaminhou o formulário para sites de combate à corrupção e para blogs amigos, e a coisa se espalhou. No fechamento desta reportagem, faltavam apenas 22 mil assinaturas para alcançar o objetivo.

Emiliano descobriu que, do ponto de vista jurídico, sua petição não tem valor: legalmente, o Congresso só tem obrigação de deliberar sobre projetos de lei de iniciativa popular, mas não sobre uma petição de impeachment do presidente do Senado.

Ele não se entristeceu.

A minha intenção foi realmente chamar a atenção da população. A indignação é muito mais do que 1,36 milhão de pessoas. Chegando lá é um grande argumento para discutir com outra pessoa: será que é certo?

Emiliano se espantou com a proporção que as coisas tomaram.

Demorei um minuto para fazer. Fiz por fazer e acabou virando isso que virou.

Fonte: R7, 11/02/2013

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